"Acreditar"
não é apenas aceitar um conjunto de verdades intelectuais; mas é, sobretudo,
aderir à pessoa de Jesus, escutar a sua proposta, acolhê-la no coração, fazer
dela o guia da própria vida. "Acreditar" é escutar essa "Boa Notícia"
de salvação e de libertação ("evangelho") que Jesus propõe e fazer
dela o centro à volta do qual se constrói toda a existência.
"Conversão"
e "adesão ao projeto de Jesus" são duas faces de uma mesma moeda: a
construção de um homem novo, com uma nova mentalidade, com novos valores, com
uma postura vital inteiramente nova. Vai ser isso que Jesus vai propor em cada
palavra que pronuncia: que nasça um homem novo, capaz de amar o próximo , mesmo
aquele que é adversário ou inimigo (Lc 10,29-37); que nasça um homem novo, que
não vive para o egoísmo, para a riqueza, para os bens materiais, mas sim para a
partilha (Mc 6,32-44); que nasça um homem novo, que não viva para ter poder e
dominar, mas sim para o serviço e para a entrega da vida (Mc 9,35). Então, sim,
teremos um mundo novo - o "Reino de Deus".
Depois
de dizer qual a proposta inicial de Jesus, Marcos apresenta-nos os primeiros
discípulos. Pedro e André, Tiago e João são - na versão de Marcos - os
primeiros a responder positivamente ao desafio do Reino, apresentado por Jesus.
Isso significa que eles estão dispostos a "converter-se" (isto é, a
mudar os seus esquemas de vida, de forma a que Deus passe a estar sempre em
primeiro lugar) e a "acreditar na Boa Nova" (isto é, a aderir a
Jesus, a escutar a sua proposta de libertação, a acolhê-la no coração e a
transformá-la em vida).
A
apresentação feita por Marcos do chamamento dos primeiros discípulos não parece
ser uma descrição fotográfica de acontecimentos concretos, mas antes a
definição de um modelo de toda a vocação cristã. Nesta catequese sobre a
vocação, Marcos sugere que:
1º
O chamamento a entrar na comunidade do Reino é sempre uma iniciativa de Jesus
dirigida a homens concretos, "normais" (com um nome, com uma história
de vida, com uma profissão, possivelmente com uma família).
2º
Esse chamamento é sempre categórico, exigente e radical (Jesus não
"prepara" previamente esse chamamento, não explica nada, não dá
garantias nenhumas e nem sequer se volta para ver se os chamados responderam ou
não ao seu desafio).
3º
Esse chamamento não é para frequentar as aulas de um mestre qualquer, a fim de
aprender e depois repetir uma doutrina qualquer; mas é um chamamento para
aderir à pessoa de Jesus, para fazer com Ele uma experiência de vida, para
aprender com Ele a ser uma pessoa nova que vive no amor a Deus e aos irmãos.
4º
Esse chamamento exige uma resposta imediata, total e incondicional, que deve
levar a subalternizar tudo o resto para seguir Jesus e para integrar a
comunidade do Reino (Pedro, André, Tiago e João não exigem garantias, não pedem
tempo para pensar, para medir os prós e os contras, para pôr em ordem os
negócios, para se despedir do pai ou dos amigos, mas limitam-se a "deixar
tudo" e a seguir Jesus).
O
Evangelho deste domingo apresenta, portanto, o convite que Jesus faz a todos os
homens no sentido de integrarem a comunidade do Reino; e apresenta também um
modelo para a forma como os chamados devem escutar e acolher esse chamamento.