1
– Nem tudo é explicável no Mistério divino
Hoje,
convivemos com a grande facilidade de encontrar respostas para nossas
curiosidades. Se surge um questionamento em nossas cabeças, uma pesquisa rápida
na internet oferece milhares de respostas. Nós convivemos com uma curiosidade
sadia de querer saber o segredo de tudo, conhecer a origem de tudo, entender as
consequências daquilo que acontece. A ciência caminha na estrada da
curiosidade; faz questionamentos para compreender o funcionamento do que existe
em nós e na natureza. Se isto funciona bem para a ciência, nem sempre funciona
na dinâmica da fé. Em tantas situações, a fé nos coloca diante do Mistério de
Deus e, na maior parte das vezes, não se tem uma explicação teórica. Nem tudo,
no Mistério divino, é explicável.
2
– Diante do Mistério divino, a contemplação
Um
destes mistérios divinos sem explicação é a Paixão e Morte de Jesus. Tudo bem,
a gente se contenta em dizer que Jesus morreu por amor a nós; esta é a grande
verdade da fé. Mas, se tratou de uma morte escandalosa, cruel, vergonhosa. Por
que Deus não interveio e impediu tanto sofrimento? Os primeiros cristãos, não
conseguindo compreender este mistério, foram buscar uma resposta nas profecias
do Antigo Testamento e se depararam com a profecia de Isaías, que ouvimos na 1ª
leitura. Ali está um servo de Deus, que passou a vida ouvindo Deus e sendo fiel
a Deus em tudo. E, mesmo assim, como cantava o salmo responsorial, foi
torturado. É incompreensível que alguém tenha se dedicado tanto a Deus e tenha
como sorte a tortura física e psicológica. Olhamos para Jesus e percebemos que
o mesmo aconteceu com ele. São Paulo, na 2ª leitura, descreve a identidade de
Jesus como Filho de Deus, mas que viveu como um escravo humano. Qual o motivo?
A nossa Salvação. Não compreendemos porquê Deus não reagiu para livrá-lo do
sofrimento, mas temos um motivo satisfatório maior que uma teoria sobre a Morte
de Jesus: o amor divino para nos salvar.
3
– Três atitudes para viver bem a Semana Santa
A
reflexão que fiz tem um objetivo. A Semana Santa não é um tempo para nos
dedicarmos a curiosidades sobre Jesus Cristo. Temos o ano inteiro para fazer
isso. A Semana Santa é um tempo para ser vivenciado profundamente no Mistério
de Deus. Para isso, sugiro três atitudes. A primeira é convencer-se que nas
coisas de Deus, que não campo da fé, existe um limite para o humano: é o
inexplicável. É preciso crer e acolher; disto nasce a adoração. A segunda
atitude é exercitar a oração da contemplação. Contemplar é um exercício
religioso que produz uma compreensão sem passar pela mente, sem exigir
explicações. O contemplativo, de sua parte, compreende e nem sempre sabe
explicar. Por fim, a terceira atitude encontra-se no último verso do salmo
responsorial: diante do amor divino é preciso silenciar e agradecer. A Semana
Santa é um tempo propício para glorificar a Deus, respeitar Deus, agradecer
porque, em seu amor imenso, se fez escravo e servidor para nos salvar. Amém!