Hierarquia, etimologicamente, vem do
grego “hierós”, sagrado, e “arkhein”, governar. É o poder de mandar e governar.
O provérbio popular diz: “Manda quem tem poder, obedece quem tem juízo”. O
contrário de hierarquia é anarquia (“an” prefixo negativo), ausência de poder
e, consequentemente, de ordem. Sem governo temos uma situação anárquica. “Onde
todos mandam, ninguém manda, e onde ninguém manda temos o caos, a anarquia”.
O livro bíblico dos Juizes
(capítulos 20 e 21) narra que houve uma guerra civil entre as tribos de Israel
e a tribo de Benjamim. Houve massacres, raptos etc. E conclui: “Nesse tempo não
havia rei em Israel, e cada um fazia o que queria, o que lhe parecia correto”.
Uma anarquia.
Por isso, para evitar uma
anarquia, Jesus, ao fundar a sua Igreja, constituiu uma hierarquia, com um
superior com poder, Pedro, e os Apóstolos: “Foi-me dada toda a autoridade no
céu e na terra. Ide, pois, e fazei discípulos todos os povos...” (Mt 28,18).
“Quem vos ouve, a mim ouve” (Lc 10,16). Ele transferiu seu poder a Pedro, aos
Apóstolos e seus sucessores. Na sua Igreja, há ordem, porque há autoridade e
hierarquia, há quem manda e quem deve obedecer.
Na
Igreja, devemos atacar os erros e criticar seus promotores, mas com prudência.
Com cuidado para, com o espírito de crítica, atacando as autoridades, não
diminuir o respeito a elas devido. Cuidado para, ao atacar os erros, não
destruir a autoridade da hierarquia. Como dizem os franceses, atenção para não
jogar fora a criança junto com a água suja do banho (!).
Há pessoas, carentes de caridade,
prudência e visão cristã, que se arvoram como juízes de tudo e de todos. Assim
nos ensina São Francisco de Sales, doutor da Igreja: “Todas as coisas aparecem
amarelas aos olhos dos achacados de icterícia... A malícia do juízo temerário,
dum modo semelhante a esta doença, faz aparecer tudo mau aos olhos dos que a
apanharam... Eis aí como devemos julgar do próximo: o melhor possível; e, se
uma ação tivesse cem aspectos diferentes, deveríamos encara-la unicamente pelo
lado mais belo...”.
A Igreja é nossa família. Nela
também há falhas. Em nossa família natural, se um pai, um tio ou irmão comete
um deslize, eu logo vou colocar na internet tal notícia?! Posso falar até com
meus íntimos, nas não divulgar, pois estaria difamando o nome da minha família.
O
grande mal que fazem certos grupos até ditos católicos é, com suas contínuas
críticas e exposições, minar a autoridade na Igreja, a confiança no seu
magistério, sua autoridade, necessária para a ordem e a instituição feita por
Nosso Senhor. As pessoas incautas perdem o completo respeito e mesmo a fé na
Igreja como instituição. Claro que as falhas de certas pessoas da hierarquia
podem até as justificar, mas o espírito de crítica e a ânsia de expor as falhas
podem contribuir enormemente para diminuir e até destruir a autoridade,
favorecendo a anarquia no ambiente católico, onde cada um quer fazer o que
“acha” melhor, o que bem entende. Daí surgem grupos independentes da
autoridade, os pretensos salvadores da Igreja, sem a hierarquia, com o
subentendido orgulho de se acharem melhores, os únicos fiéis.
*Bispo
da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Fonte:
Dom Fernando Arêas Rifan*