segunda-feira, março 01, 2021

II DOMINGO DA QUARESMA






A prova da fé

 

Depois de Noé, proposto como exemplo de fé (1DTQ-B), a Liturgia propõe o exemplo de fé na provação de Abraão (1L). Noé é apresentado como homem silencioso e Abraão como homem que fala uma palavra: "aqui estou!" (1L). Na sua disposição, e sem saber que estava sendo provado na fé, Abraão acolhe a proposta divina e, de certo modo, Deus acreditou na fidelidade de Abraão.

A prova de fé é comum na Sagrada Escritura. Tem a finalidade de verificar a verdade da fé confiante na pessoa. No caso de Abraão, a prova da fé consiste em saber quem estava no centro da sua vida: Deus ou Isaac? A atitude de Abraão demonstra a prioridade a Deus. A prova de fé sempre acontece em situações extremas da vida; é nos momentos mais extremos, desafiadores, que a pessoa revela onde e em quem deposita sua confiança. É em tais situações, que a pessoa revela o que é essencial na sua vida. Na vida de Abraão, o essencial era Deus.

 

 

Este é o meu Filho: ouvi

 

Na contemplação da cena da Transfiguração de Jesus (E) nos deparamos com uma curiosidade: por que foram escolhidos somente três discípulos e não todos? Os demais não estavam à altura? Aqueles três deveriam assumir alguma função importante depois da morte de Jesus?

Não temos uma resposta conhecida. O que temos é o comportamento atrapalhado e surpreso dos discípulos. Marcos deixa transparecer que não entendiam o que estava acontecendo e, tampouco, como deveriam se comportar. Pedro tenta ensaiar uma proposta: construir três tendas e ficar lá em cima para sempre; transformar o Tabor em céu. Além disso, não compreendiam o significado de ressuscitar dos mortos. É a representação da incompreensão presente no exercício de crer.

Nem tudo é claro na fé. O que ficou claro foi Jesus ter sido apresentado como Filho de Deus pelo próprio Pai. Isto significa "obediente" ao Pai e ao projeto divino. Por isso, Deus o ama como Filho dileto. A tradução brasileira do Lecionário diz que "Jesus se transfigurou diante deles". No original grego, os estudos dizem que está escrito: "Jesus foi transfigurado diante deles". O sujeito é o Pai e Jesus acolhe a transfiguração realizada pelo Pai em seu corpo. Os dois personagens, Moisés e Elias, profetizam a morte de Jesus. Ambos tiveram morte misteriosa, indicativo para compreender a Transfiguração em relação à morte de Jesus que se transforma em Ressurreição, que é a Transfiguração definitiva do Senhor. Isto, os discípulos só compreenderam depois da Ressurreição.

 

 

 

Deus está do nosso lado

 

Diante da fé de Abraão (1L), a fé cantada pelo salmista (SR) favorece uma aproximação na compreensão da 2ª leitura. O salmista diz: "guardei minha fé mesmo dizendo: é demais o sofrimento em minha vida!" Podemos nos remeter a uma pergunta diante do sofrimento extremo: se Deus é bom, por que ele permite o sofrimento? Será que Deus está do nosso lado?

No texto da 2ª leitura, Paulo dá a entender que está tratando — respondendo —um questionamento semelhante: dizemos que Deus é bom, mas constatamos, no tecido da história, que ele não age a nosso favor. Este tempo de pandemia comprova este fato. Será assim mesmo? Paulo responde que não é assim e chama em causa a prova do grande amor divino manifestado no envio do seu Filho amado ao mundo, unicamente por nos amar e manifestar sua bondade imensa. A resposta de Paulo é clara: Deus está do nosso lado e para isso não poupou nem mesmo o seu Filho (2L).