A
prova da fé
Depois
de Noé, proposto como exemplo de fé (1DTQ-B), a Liturgia propõe o exemplo de fé
na provação de Abraão (1L). Noé é apresentado como homem silencioso e Abraão
como homem que fala uma palavra: "aqui estou!" (1L). Na sua
disposição, e sem saber que estava sendo provado na fé, Abraão acolhe a
proposta divina e, de certo modo, Deus acreditou na fidelidade de Abraão.
A
prova de fé é comum na Sagrada Escritura. Tem a finalidade de verificar a
verdade da fé confiante na pessoa. No caso de Abraão, a prova da fé consiste em
saber quem estava no centro da sua vida: Deus ou Isaac? A atitude de Abraão
demonstra a prioridade a Deus. A prova de fé sempre acontece em situações
extremas da vida; é nos momentos mais extremos, desafiadores, que a pessoa
revela onde e em quem deposita sua confiança. É em tais situações, que a pessoa
revela o que é essencial na sua vida. Na vida de Abraão, o essencial era Deus.
Este é
o meu Filho: ouvi
Na
contemplação da cena da Transfiguração de Jesus (E) nos deparamos com uma
curiosidade: por que foram escolhidos somente três discípulos e não todos? Os
demais não estavam à altura? Aqueles três deveriam assumir alguma função
importante depois da morte de Jesus?
Não
temos uma resposta conhecida. O que temos é o comportamento atrapalhado e
surpreso dos discípulos. Marcos deixa transparecer que não entendiam o que
estava acontecendo e, tampouco, como deveriam se comportar. Pedro tenta ensaiar
uma proposta: construir três tendas e ficar lá em cima para sempre; transformar
o Tabor em céu. Além disso, não compreendiam o significado de ressuscitar dos
mortos. É a representação da incompreensão presente no exercício de crer.
Nem
tudo é claro na fé. O que ficou claro foi Jesus ter sido apresentado como Filho
de Deus pelo próprio Pai. Isto significa "obediente" ao Pai e ao
projeto divino. Por isso, Deus o ama como Filho dileto. A tradução brasileira
do Lecionário diz que "Jesus se transfigurou diante deles". No
original grego, os estudos dizem que está escrito: "Jesus foi
transfigurado diante deles". O sujeito é o Pai e Jesus acolhe a
transfiguração realizada pelo Pai em seu corpo. Os dois personagens, Moisés e
Elias, profetizam a morte de Jesus. Ambos tiveram morte misteriosa, indicativo
para compreender a Transfiguração em relação à morte de Jesus que se transforma
em Ressurreição, que é a Transfiguração definitiva do Senhor. Isto, os
discípulos só compreenderam depois da Ressurreição.
Deus
está do nosso lado
Diante
da fé de Abraão (1L), a fé cantada pelo salmista (SR) favorece uma aproximação
na compreensão da 2ª leitura. O salmista diz: "guardei minha fé mesmo
dizendo: é demais o sofrimento em minha vida!" Podemos nos remeter a uma
pergunta diante do sofrimento extremo: se Deus é bom, por que ele permite o
sofrimento? Será que Deus está do nosso lado?
No
texto da 2ª leitura, Paulo dá a entender que está tratando — respondendo —um
questionamento semelhante: dizemos que Deus é bom, mas constatamos, no tecido
da história, que ele não age a nosso favor. Este tempo de pandemia comprova
este fato. Será assim mesmo? Paulo responde que não é assim e chama em causa a
prova do grande amor divino manifestado no envio do seu Filho amado ao mundo,
unicamente por nos amar e manifestar sua bondade imensa. A resposta de Paulo é
clara: Deus está do nosso lado e para isso não poupou nem mesmo o seu Filho
(2L).