SOLENIDADE
DA EPIFANIA DO SENHOR
2 de
janeiro de 2021
Paróquia
São Conrado
A
Epifania é feita de trevas e de luz. Herodes está nas trevas: cheio de
inquietude e toda Jerusalém com ele … Ele convoca os Magos “em segredo”,
fecha-se na mentira, fazendo crer que quer adorar o Messias enquanto procura
fazê-lo matar. Os Magos, eles, estão na luz, vêm do país onde se levanta o sol,
e uma estrela ilumina a sua noite. Põem-se a caminho, procuram, questionam.
Esta luz para a qual eles tendem alegra-os. Então, prosternam-se diante
d’Aquele que se dirá “a Luz do mundo”. Em toda a verdadeira relação há um
intercâmbio. Então, Deus oferece ao mundo seu Filho como presente, os Magos
abrem os seus cofres e oferecem-nos Àquele que eles consideram como Rei (ouro),
como Deus (incenso) e como humano que é mortal (mirra). Nesse dia, Deus faz-Se
reconhecer por aqueles que O procuram, enquanto os chefes dos sacerdotes e os
escribas que pensavam tê-lo encontrado ficam em Jerusalém e recusarão
reconhecê-Io.
Diz-
se que eram três reis vindos do oriente. O que é seguro é que não eram reis,
mas sábios astrólogos. Porém, nesta Solenidade da Epifania, é de uma história
de reis que se trata. Não são três, mas dois. Primeiro, o rei Herodes, “o
Grande”. A ele se deve a reconstrução do Templo. Mas distinguiu-se, sobretudo
pela crueldade e pelos seus crimes, matando mesmo três dos seus filhos para
preservar o poder. E depois, há outro rei, aquele que os Magos vieram procurar.
“Onde está o rei dos Judeus que acaba de nascer?” Esta simples questão basta
para aterrorizar Herodes. Este título colar-se-á a Jesus até à cruz. Que imensa
oposição entre estes dois reis! De um lado, a sede de um poder tirânico, o
recurso à violência, à tortura, à guerra, à mentira … De outro lado, uma
criança desprovida de qualquer poder, que terminará lamentavelmente na cruz.
Como não reler a história da humanidade, inclusive a história das religiões, a
esta luz? “Em nome de Deus” matou-se e trucidou-se tanta gente … E as coisas
não parecem estar perto do fim! Reis, príncipes, papas, imãs … utilizaram o seu
poder para impor a dita “verdadeira religião”. Os cristãos entraram igualmente
nesse esquema. Mas cada vez que recorreram à violência, traíram, negaram,
crucificaram Jesus, o rei sem poder. Jesus nunca recorreu à espada, nunca
recomendou o uso das armas. É uma das maiores lições da Epifania: quando Deus
Se manifesta em Jesus, proclama alto e bom som que nunca esteve nem estará do
lado dos poderosos, da força, do terrorismo, da guerra. Ele não Se defenderá,
pois o seu poder está noutro lado. Possamos nós, com os Magos, vir sem cessar
até Jesus, que nos apresenta Maria sua mãe, e, caindo de joelhos, dizer-lhe que
é Ele que queremos seguir, Ele que, só, é verdadeiramente um rei “doce e
humilde de coração”.