Somos
pessoas normais!
Essa
afirmação poderia chamar a nossa atenção se não conhecêssemos a natureza
humana, não somente através da bondade que ela manifesta constantemente, mas
também por causa das dificuldades que a velha natureza encontra desde que Adão
e Eva aprontaram, ou seja, pecaram. Antes o homem e a mulher estavam cheios de
graça, a sua inteligência conhecia com rapidez e a sua vontade não encontrava
dificuldade para amar, a sua memória era ágil, as suas forças permaneciam
firmes diante do trabalho cotidiano e viviam em grande harmonia com toda a
criação. Eram pessoas normais!
No
entanto, na situação atual, podemos afirmar tranquilamente: também nós somos
pessoas normais! Isso significa que em nós há coisas boas e coisas más. Não nos
deveriam surpreender demasiado nem as coisas boas, porque são graças de Deus;
nem as más, porque são consequentes como uma natureza que, a partir, do pecado,
tem aquilo que a tradição chama vulnera peccati, ou seja, as feridas do pecado.
Em efeito, depois do pecado, o ser humano perdeu a maravilhosa harmonia que
existia no seu próprio ser e, consequentemente, também perdeu a harmonia que
experimentava junto à natureza biológica e animal. Também o mundo que antes lhe
era favorável, depois do pecado se lhe manifestava como hostil.
Pobre
de nós se não reconhecermos que somos pecadores! Mais pobres ainda se não
reconhecermos que a graça de Deus nos atingiu, nos curou e nos santificou!
Contudo, ainda assim é preciso lutar! É preciso fazer guerra! É preciso ser
fortes na batalha! Sou um sacerdote de Jesus Cristo consciente da necessidade
da graça de Deus como qualquer outro cristão; no entanto, não posso pregar uma
santidade sem luta: utópica, fora da realidade. Em definitiva, santidade sem
luta é uma quimera! Não existe santo que não tenha lutado! Já o justo Jó era
consciente de que “a vida do homem sobre a terra é uma luta” (Jó 7,1). A paz
que se deseja não se consegue se não for através da guerra, através da derrota
do inimigo. Qual o inimigo? Na verdade, são vários: há inimigos internos que
causam desordem nos desejos e nos amores: soberba, avareza, luxúria e gula; há
inimigos internos que causam desordem no nosso ânimo: inveja, ira, preguiça. Há
ainda os inimigos externos: o demônio, pessoas que são tentadoras, algumas estruturas
sociais injustas etc. Se o cristão não luta, é vencido.
Diante
dessa realidade dramática, poder-se-ia assumir posturas que não condizem com
aquilo que nós somos, isto é, filhos de Deus. Uma delas é uma espécie de
naturalismo, que tem duas versões. Na primeira versão, luta-se somente com as
próprias forças, com a vazia confiança de que se poderá vencer dessa maneira. A
outra versão implicaria uma ausência de luta contra as más inclinações,
simplesmente porque essas inclinações seriam concebidas como naturais ao homem
e, no fundo, ele nem tem culpa das coisas que faz. Outra postura, diferente do
naturalismo, é o pessimismo: luta-se, confia-se na graça de Deus, mas no fundo
como se sabe que se cairá se desiste e se conforma com uma vida triste e aburguesada.
Outra ainda, o rigorismo: tudo parece pecado e, por tanto, quase seria
preferível fugir desse mundo, pois este se torna totalmente hostil e tudo se
transforma em pecado, dessa atitude podem vir angústias, depressões e
ansiedades.
A
maneira de combater de um filho de Deus é equilibrada: confia, em primeiro
lugar, na graça de Deus e, depois, coloca todos os meios que está ao seu
alcance para conseguir a vitória: oração, sacramentos, fuga das ocasiões de
pecado, cultivo do espírito de penitência, uma dimensão de serviço que ajuda a
descomplicar-se. Além do mais, o filho de Deus luta com serenidade: caso haja
alguma queda, se levanta rapidamente a través da contrição e da confissão, e
continua lutando. Jesus saiu vitorioso das tentações. Ele não tinha as feridas
do pecado porque não tinha pecado, mas foi tentado para vencer por nós. Nele
nós somos vencedores. Já! Agora!
Fonte: presbiteros.com