SÃO
JOÃO PAULO II E O COMUNISMO
15 de
dezembro de 2023
Paróquia
São Conrado de Constança
É
verdade que, desde 1945, as armas silenciam no Continente europeu; mas a
verdadeira paz — deve-se lembrar — nunca é o resultado da vitória militar, mas
implica a superação das causas da guerra e a autêntica reconciliação entre os
povos. Durante muitos anos, de fato, houve, na Europa e no mundo, mais uma
situação de não-guerra do que de paz verdadeira.
Metade
do Continente caiu sob o domínio da ditadura comunista, enquanto a outra metade
se organizava para se defender contra tal perigo. Muitos povos perdem o poder
de dispor de si próprios, veem-se encerrados nos limites sufocantes de um
império, enquanto se procura destruir a sua memória histórica e a raiz secular
da sua cultura. Multidões enormes são forçadas a abandonar a sua terra e
violentamente deportadas…
…No
fim da II Guerra Mundial, porém, um tal desenvolvimento está ainda em formação
nas consciências, e o dado mais saliente é o estender-se do totalitarismo
comunista sobre mais de metade da Europa e parte do mundo. A guerra, que
deveria restituir a liberdade aos indivíduos e restaurar os direitos dos povos,
terminou sem ter conseguido estes fins; pelo contrário, acabou de um modo que,
para muitos povos, especialmente para aqueles que mais tinham sofrido,
abertamente os contradiz. Pode-se dizer que a situação criada deu lugar a
diversas respostas.
Em
alguns Países, e sob alguns aspectos, assiste-se a um esforço positivo para
reconstruir, depois das destruições da guerra, uma sociedade democrática e
inspirada na justiça social, a qual priva o comunismo do potencial
revolucionário, constituído por multidões exploradas e oprimidas.
Estas
tentativas procuram em geral preservar os mecanismos do livre mercado,
assegurando através da estabilidade da moeda e da firmeza das relações sociais,
as condições de um crescimento económico estável e sadio, no qual as pessoas,
com o seu trabalho, podem construir um futuro melhor para si e para os próprios
filhos. Simultaneamente, estes países procuram evitar que os mecanismos de
mercado sejam o único termo de referência da vida associada e tendem a
submetê-los a um controle público que faça valer o princípio do destino comum
dos bens da terra. Uma certa abundância de ofertas de trabalho, um sólido
sistema de segurança social e de acesso profissional, a liberdade de associação
e a ação incisiva do sindicato, a previdência em caso de desemprego, os instrumentos
de participação democrática na vida social, neste contexto, deveriam subtrair o
trabalho da condição de «mercadoria» e garantir a possibilidade de realizá-lo
com dignidade.
Existem,
depois, outras forças sociais e movimentos de ideias que se opõem ao marxismo
com a construção de sistemas de «segurança nacional», visando controlar de modo
capilar toda a sociedade, para tornar impossível a infiltração marxista.
Exaltando e aumentando o poder do Estado, elas pretendem preservar o seu povo
do comunismo; mas, fazendo isso, correm o grave risco de destruir aquela
liberdade e aqueles valores da pessoa, em nome dos quais é preciso opor-se
àquele.
Outra
forma de resposta prática, enfim, está representada pela sociedade do
bem-estar, ou sociedade do consumo. Ela tende a derrotar o marxismo no terreno
de um puro materialismo, mostrando como uma sociedade de livre mercado pode
conseguir uma satisfação mais plena das necessidades materiais humanas que a
defendida pelo comunismo, e excluindo igualmente os valores espirituais. Na
verdade, se por um lado é certo que este modelo social mostra a falência do
marxismo ao construir uma sociedade nova e melhor, por outro lado, negando a
existência autónoma e o valor da moral, do direito, da cultura e da religião,
coincide com ele na total redução do homem à esfera do económico e da
satisfação das necessidades materiais”.