sábado, março 08, 2025

VIA SACRA - Quaresma









Queridos irmãos e irmãs!

 

Acabamos de recordar, através das meditações, da oração e dos cânticos, os passos de Jesus no caminho da Cruz: um caminho que parecia sem saída e, no entanto, mudou a vida e a história do homem, abrindo a passagem para «os novos céus e a terra nova» (cf. Ap 21, 1). De modo especial neste dia de Sexta-Feira Santa, a Igreja celebra, com profunda adesão espiritual, a memória da crucifixão do Filho de Deus e, na sua Cruz, vê a árvore da vida – árvore fecunda duma nova esperança.

 

A experiência do sofrimento marca a humanidade e, naturalmente, a família. Quantas vezes o caminho se torna cansativo e difícil! Incompreensões, divisões, preocupação com o futuro dos filhos, doenças, incômodos de vários tipos. Para além disso, a situação de muitas famílias vê-se agravada, hoje em dia, pela precariedade do emprego e outras consequências negativas provocadas pela crise econômica. O caminho da Via-Sacra, que acabamos de percorrer espiritualmente nesta noite, é um convite feito a todos nós, e de modo especial às famílias, para contemplarmos Cristo crucificado a fim de termos a força de ultrapassar as dificuldades. A Cruz de Jesus é o sinal supremo do amor de Deus por cada homem, a resposta superabundante à necessidade que toda a pessoa sente de ser amada. Quando passamos pela prova, quando as nossas famílias enfrentam o sofrimento, a tribulação, olhemos para a Cruz de Cristo! Nela encontraremos a coragem para prosseguir o caminho, podendo repetir, com firme esperança, estas palavras de São Paulo: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? (…) Mas, em tudo isso, somos mais que vencedores graças Àquele que nos amou!” (Rm 8, 35.37).

 

Nas tribulações e dificuldades, não estamos sozinhos; não está sozinha a família: Jesus está presente com o seu amor, sustenta-a com a sua graça e dá-lhe a força para prosseguir, enfrentando os sacrifícios e superando qualquer obstáculo. E, quando os desvarios humanos e outras dificuldades põem em risco e ferem a unidade da nossa vida e da nossa família, é para o amor de Cristo que devemos voltar-nos. O mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo encoraja-nos a continuar com esperança. Se forem vividos com Cristo, com fé n’Ele, os dias de tribulação e de prova trazem já dentro de si a luz da ressurreição, a vida nova do mundo ressuscitado, a páscoa de todo o homem que crê na sua Palavra.

 

Naquele Homem crucificado que é o Filho de Deus, mesmo a própria morte ganha novo significado e orientação, é resgatada e vencida, torna-se passagem para a nova vida: «Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, continua só um grão de trigo; mas, se morrer, então produz muito fruto» (Jo 12, 24). Confiemo-nos à Mãe de Cristo. Ela que acompanhou o seu Filho ao longo da via dolorosa, Ela que esteve aos pés da Cruz na hora da sua morte, Ela que encorajou a Igreja desde o seu nascimento a viver na presença do Senhor, conduza os nossos corações, os corações de todas as famílias, através do vasto mysterium passsionis rumo ao mysterium paschale, rumo à luz que irrompe da Ressurreição de Cristo e manifesta a vitória definitiva do amor, da alegria e da vida, sobre o mal, o sofrimento e a morte. Amém.










sexta-feira, março 07, 2025

QUARTA-FEIRA DE CINZAS













“E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa“

Hoje iniciamos o tempo da Quaresma, esse período sagrado de conversão, penitência e preparação para a Páscoa do Senhor. A Quarta-feira de Cinzas nos convida à reflexão profunda sobre nossa caminhada espiritual, e o Evangelho de Mateus nos ensina a viver esse tempo com autenticidade e humildade.

Jesus nos alerta contra a hipocrisia da religiosidade exterior. Ele nos ensina que esmola, oração e jejum devem ser praticados com discrição, longe dos aplausos do mundo. Em uma sociedade que valoriza a ostentação e a busca por reconhecimento, Cristo nos chama para o contrário: uma vida de fé vivida no segredo do coração, diante do Pai que vê o que está oculto.

Quando damos esmola, não devemos fazer disso um espetáculo. A generosidade verdadeira não busca elogios, mas nasce do amor e do desejo de servir. Quando oramos, não precisamos de holofotes. Deus não se impressiona com palavras bonitas, mas com um coração sincero que se dobra diante d’Ele. E quando jejuamos, não devemos demonstrar abatimento para chamar atenção, mas viver essa disciplina como um gesto de amor a Deus e renúncia ao egoísmo.

O tempo da Quaresma não é sobre aparências, mas sobre transformação interior. Recebemos as cinzas na testa como sinal de que somos pó e ao pó voltaremos. Mas não basta o símbolo externo, se não houver um compromisso real de mudança. Deus não quer apenas gestos vazios; Ele deseja um coração renovado.

A esmola nos ensina a desapegar dos bens e a olhar para os necessitados. A oração nos aproxima de Deus e fortalece nossa fé. O jejum nos lembra que não vivemos só de pão, mas de toda palavra que vem do Senhor. Essas três práticas, vividas com sinceridade, nos conduzem à verdadeira conversão.

Que este tempo seja para nós uma oportunidade de voltarmos ao essencial. Que nossa esmola seja discreta, nossa oração sincera e nosso jejum cheio de alegria. Pois, como nos ensina Jesus, o Pai que vê o que está escondido nos dará a recompensa verdadeira: um coração novo e a vida eterna com Ele. Amém.













quinta-feira, março 06, 2025

VIII DOMINGO DO TEMPO COMUM










A primeira pergunta de Jesus já nos coloca em alerta: “Pode um cego guiar outro cego?” Se um guia não enxerga, como poderá conduzir outro? Ambos acabarão caindo no buraco. Essa imagem nos faz refletir sobre a responsabilidade que temos na formação espiritual dos outros. Quantas vezes queremos corrigir, ensinar e aconselhar sem primeiro termos corrigido nossas próprias fraquezas?

Na vida, somos chamados a ser guias uns para os outros, mas como podemos guiar alguém se não enxergamos bem? Como podemos ajudar alguém a sair do erro, se nós mesmos ainda estamos presos a ele? Jesus nos ensina que o primeiro passo para orientar alguém é trabalhar a nossa própria conversão. Só quem busca viver na luz pode iluminar o caminho de outros.

E então Ele nos dá uma lição ainda mais incisiva: “Por que vês tu o cisco no olho do teu irmão, e não percebes a trave que há no teu próprio olho?” Essa frase é um convite à humildade. Temos uma facilidade imensa de enxergar os erros dos outros, mas uma enorme dificuldade de reconhecer os nossos. Apontamos as falhas do próximo, criticamos, condenamos, mas muitas vezes carregamos defeitos muito maiores que não queremos admitir.

O julgamento precipitado e a hipocrisia são grandes armadilhas. Julgamos porque é mais fácil olhar para fora do que para dentro. Criticar o outro nos dá a falsa sensação de que somos melhores. Mas Jesus nos alerta: antes de querer corrigir o irmão, precisamos corrigir a nós mesmos.

E o que é essa trave que temos nos olhos? Pode ser o orgulho, o rancor, a impaciência, o egoísmo. Às vezes, nos incomodamos com um pequeno defeito em alguém, mas não percebemos que carregamos um erro muito maior. E Jesus nos chama de hipócritas quando nos preocupamos mais em corrigir o outro do que em nos corrigir. Ele nos pede que sejamos sinceros conosco mesmos, que façamos um exame de consciência e que, só depois de reconhecermos nossas falhas, possamos ajudar o próximo a superar as dele.

Depois, Jesus nos dá outro ensinamento valioso: “Não existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons.” Aqui Ele nos ensina que a qualidade dos nossos frutos revela quem realmente somos. Podemos falar bonito, podemos tentar aparentar bondade, mas nossos frutos, ou seja, nossas ações, nossas atitudes, mostram a verdade sobre nós.

Muitas vezes nos preocupamos mais com as aparências do que com a essência. Queremos parecer bons, mas será que estamos realmente produzindo frutos bons? Será que nossa vida reflete o amor de Deus? Ou estamos sendo como árvores que, por dentro, estão secas e doentes, incapazes de gerar frutos saudáveis?

Jesus nos ensina que não podemos dar o que não temos. Se nosso coração está cheio de inveja, rancor e orgulho, é isso que nossa vida irá transparecer. Mas se nosso coração está cheio de bondade, paciência e misericórdia, isso será visível nos nossos atos. A boca fala do que o coração está cheio. Se vivemos reclamando, criticando e espalhando palavras duras, precisamos olhar para dentro e perguntar: o que está enchendo o meu coração?

Queridos irmãos, hoje Jesus nos convida a uma profunda revisão de vida. Antes de apontarmos o erro dos outros, precisamos reconhecer os nossos. Antes de tentarmos guiar alguém, precisamos enxergar bem. Antes de querermos colher bons frutos, precisamos ser boas árvores.

E como conseguimos isso? Cultivando um coração cheio de Deus. Quanto mais nos alimentamos da Palavra, quanto mais nos abrimos à graça, quanto mais buscamos viver o Evangelho, mais frutos bons iremos produzir.

Hoje, Jesus nos chama à coerência, à humildade e à conversão sincera. Que possamos tirar as traves dos nossos olhos, cuidar do nosso coração e deixar que nossa vida seja um testemunho verdadeiro do amor de Deus. Amém!