Escatologia e esperança
No Domingo passado, dizíamos que os dois primeiros Domingos do Advento são celebrados em contexto escatológico, de final dos tempos. Hoje, este 2º Domingo do Advento está dentro deste contexto escatológico, mas não fala de destruição e nem do fim do mundo; ao contrário, é um Domingo para promover a esperança, condição indispensável para se construir um mundo novo, marcado pela paz com a natureza, como dizia a 1ª leitura, caracterizado pela liberdade, como cantávamos no salmo responsorial. Para isso, é preciso caminhar sem medo na constância do Evangelho, como incentivava Paulo, na 2ª leitura. A escatologia não serve para falar somente de destruição, mas para propor a construção de tempos novos onde a violência acabará e até mesmo os inimigos naturais poderão viver um ao lado do outro, como proclamado na bela profecia de Isaias. É possível cultivar esta esperança de um tempo novo, em uma sociedade mais fraterna? Sim, desde que mudemos de mentalidade, como propõe João Batista, no Evangelho.
João Batista
João Batista é um profeta corajoso e atrevido. Um profeta que fica incomodado com aqueles que se dizem filhos de Deus, mas que não vivem de acordo com o projeto divino. Daí sua coragem de vociferar contra quem se julga melhor que os outros e vivem no fingimento e na superficialidade. Essa gente não passa de raça de víboras; cobras silenciosas que parecem inofensivas, mas que espalham um veneno mortal; gente venenosa, para sermos exatos. Gente que vive na hipocrisia, que tem fala mansa e até poesias piedosas nos lábios, mas o coração é venenoso. Gente perigosa. No contexto escatológico, de renovação de todas as coisas, entende-se que estas pessoas são convidadas a mudar de mentalidade. É tempo de por fim à hipocrisia. O Messias está para chegar e isso exige um novo comportamento. Atitudes que sejam marcadas pela coerência da vida de quem segue o projeto divino. Por isso, a exigência de uma mudança radical. Não é por menos que João Batista coloca o machado na raiz das árvores. Um símbolo que enfatiza a radicalidade da mudança: é preciso mudar a mentalidade a partir da raiz, cortando o que não produz vida nova.
A esperança não é espiritualismo
A mudança de mentalidade, a conversão de uma mentalidade para outra, da mentalidade do mundo para a mentalidade do Evangelho, não se configura com a nossa esperança, mas como esperança que está no coração de Deus. É Deus que tem a esperança que mudemos de mentalidade para vivermos de modo pleno. Por isso, a esperança divina não pode ser matada nem em nossos corações e nem na sociedade. A mensagem de João Batista ajuda-nos a entender que a esperança não é como uma cantiga de ninar, que tranquiliza nossos corações em vista de um tempo novo, mas é uma virtude que se cultiva no coração e exige empenho e responsabilidade. Disso, a necessidade da ação do Espírito do Senhor agindo na história e no interior de cada um de nós. É uma palavra provocadora e incomoda. Juntamente com a esperança, podemos dizer que a fé não é um espiritualismo consolador de autoajuda, mas é um empenho responsável que favorece a conversão através da mudança radical no estilo de vida e no modo de pensar. Conversão que começa a partir de um agir ético e moral responsáveis.
Converter-se para o bem de todos
Para explicar os resultados e o bem que a conversão fará na vida pessoal e na convivência social, a Liturgia proclama a profecia de Isaías: uma nova ordem social irá surgir entre nós. Um relacionamento fundamentado na fraternidade e que não conhecerá inimizades. Tão benéfico será esse relacionamento, que até mesmo a natureza reconciliará inimigos naturais, como o bezerro e o leão. Tudo será transformado em convivência de paz e de harmonia entre homens e natureza; tudo será transformado entre nós, porque seremos fraternos. Será um mundo novo, de onde a necessidade de uma nova criação. Paulo dizia, na 2ª leitura, que a realização desta esperança deve ser ativa, realizada através da acolhida e do serviço, como viveu Jesus, que acolhia e servia a todos para que a vida fosse plena em todos. A Palavra deste 2º Domingo do Advento chama a atenção para a esperança ativa, que consiste no empenho sincero em construir a fraternidade. Para isso, é preciso converter-se: deixar a mentalidade do mundo e assumir a mentalidade divina. Acolher em nós a grande esperança divina que consiste em criar um novo céu e uma nova terra sem violências e sem ameaças de morte; uma nova terra, na qual todos seremos fraternos. É por isso e para isso que, hoje, celebramos a esperança. Amém!
NAQUELES DIAS, apareceu João Batista, pregando no deserto da Judéia: 2 “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está pró- ximo.” 3 João foi anunciado pelo profeta Isaías, que disse: “Esta é a voz daquele que grita no deserto: preparai o caminho do Senhor, endi- reitai suas veredas!”
Na Missa para as crianças fizemos a seguinte catequese: montamos um caminho com pedras e nelas colocamos tiras de papel nominando alguns pecados que nos impedem de caminharmos bem. Concluímos que o pecado nos leva a um caminho difícil.
Também usamos uma almofada em forma de coração e espetamos nele tiras de papel com os dons do Espírito Santo, que tornam o nosso caminhar mais fácil, mais suave.
Em seguida duas crianças da catequese seguraram o coração e as pedras, e todos concluíram que é mais fácil ter um coração leve, sem pecados, sem pedras. Confessar os pecados ao sacerdote e receber o perdão de Deus pelo Sacramento da Confissão é eliminar "as pedras" que estão dentro de nossa alma.