quinta-feira, junho 29, 2017

101 ANOS DA PRIMEIRA MISSA


29 de junho de 2017
Comemoração dos 101 anos da Primeira Missa celebrada na matriz de São Conrado




A Eucaristia nasceu num contexto de simplicidade e é na e pela simplicidade que os celebrantes se aproximam do Senhor, presente na Eucaristia. O ambiente, no qual Jesus instituiu a Eucaristia, era simples, os gestos de Jesus, na instituição, foram simples, os sinais do pão e do vinho são simples. Tudo, tudo na Eucaristia, especialmente no seu início evoca simplicidade. Se simplicidade foi o modo escolhido por Jesus para a celebração da Eucaristia é pela simplicidade que “ele está no meio de nós”, é pela simplicidade que o encontramos na Palavra e nos sinais. Quanto mais simples, portanto, forem nossas celebrações, mais próxima daquela realizada por Jesus estaremos. 

Depois, a história se encarregou de agregar ritos e complicações rituais, a ponto de ameaçar com pecados alguns erros litúrgicos, arriscando-se com uma perigosa aproximação da magia. Assim, pouco a pouco, começou-se a perder a simplicidade, na celebração da Missa, a ponto da Missa se tornar uma espécie de sacra encenação diante de uma assembléia que participava pela presença. Um dos objetivos da reforma litúrgica do Vaticano II foi o retorno às três características básicas da Liturgia romana: a simplicidade, a brevidade e a clareza, em vista da compreensão dos celebrantes (SC 34). 

O perigo da perda da simplicidade consiste no desvio do foco. Quando existem muitos acréscimos na Missa — ritos, canções, símbolos, procissões e danças, por exemplo — a tendência natural é se concentrar no exterior desses ritos e não na sua finalidade: a aproximação de Deus e o encontro com o Senhor. A introdução de outros ritos, na maior parte das vezes, considera apenas a beleza estética, o fazer bonito para fazer diferente e não a beleza ritual litúrgica para conduzir ao encontro com Deus. Por isso, a reforma do Vaticano II não acrescentou ritos, mas purificou a celebração de ritos que impediam a brevidade, a solenidade, a simplicidade e a clareza para favorecer a participação no Mistério Pascal de modo pleno e consciente. O princípio da simplicidade é que o rito não é para ser visto, mas é meio para se aproximar de Deus. 

Simplicidade tem a ver com as vestes do padre e dos ministros, com a homilia, com as canções, com os arranjos florais, etc... Depois de tantos anos caminhando com a Liturgia estou convencido que a simplicidade é mais exigente que a “criatividade livre” que, na maior parte das vezes, é personalista, pouco se importando nem com a proposta celebrativa e nem com as orientações litúrgicas. O personalista passa por cima de tudo, principalmente das orientações litúrgicas, porque o que conta é ele e seus caprichos. Busca o aplauso não a condução dos celebrantes a Deus. 

A grande virtude da simplicidade é deixar a Liturgia conduzir a celebração. Explico. No tempo da Quaresma, a Liturgia conduz celebrações silenciosas. Quando o personalismo de alguns músicos desconsidera a orientação litúrgica do silêncio, introduzirá baterias e pandeiros em celebrações quaresmais. O próprio padre corre o risco de deixar de ser presidente da celebração para se tornar uma espécie de “apresentador da Missa”. Celebrações com falas e cantos o tempo todo, inclusive nas secretas, na Oração dos fiéis e até na Oração Eucarística, quebram o ritmo simples e natural da comunicação litúrgica e a impede de ser simples. Poderíamos falar também de ritos dúbios, como procissões ofertoriais repletas de sinais e cestas para recolher dinheiro que não fazem parte do rito ofertorial, ou de orações para entregas de dízimo, no rito das ofertas, etc... etc... 

De tanto introduzir ritos, algumas Eucaristias se tornaram mais devocionais que celebrativas e, quando os autores de tais celebrações são questionados, dizem: “mas, o povo gosta”. E assim, padres e equipes preferem a lei do “povo gosta” para conduzir suas liturgias que as orientações da Igreja. 

Serginho Valle