quinta-feira, novembro 30, 2017

PAPA FRANCISCO EM MYANMAR



Rangum (RV) – Depois de um dia dedicado ao repouso, após uma longa viagem que durou 14 horas de voo, finalmente o Papa Francisco proferiu, como programado, o seu primeiro discurso em terras birmanesas às autoridades civis, políticas e ao corpo diplomático no Centro Internacional de Convenções na capital birmanesa Nay Pyi Taw.

Após exprimir o seu vivo reconhecimento pelo amável convite para visitar o Myanmar, Francisco fez questão de agradecer também a todos aqueles que trabalharam incansavelmente para tornar possível esta visita. Venho, disse, sobretudo para rezar com a pequena mas fervorosa comunidade católica da nação, para a confirmar na fé e encorajá-la no esforço de contribuir para o bem da nação, disse. Entretanto o Papa quis sublinhar um aspecto particularmente importante dessa sua visita e que o torna ainda muito mais feliz:

Motivo de contentamento,afirmou, é o facto de a minha visita se realizar depois do estabelecimento formal das relações diplomáticas entre o Myanmar e a Santa Sé. Apraz-me ver esta decisão como sinal do empenho da nação em prosseguir o diálogo e a cooperação construtiva dentro da comunidade internacional alargada, bem como em renovar o tecido da sociedade civil.

Gostaria também, acrescentou, o Santo Padre, que a minha visita pudesse atingir toda a população do Myanmar e oferecer uma palavra de encorajamento a todos aqueles que estão a trabalhar para construir uma ordem social justa, reconciliada e inclusiva.

O Myanmar foi abençoado com o dom duma beleza extraordinária e numerosos recursos naturais, mas o maior tesouro dele é, sem dúvida, o seu povo, que sofreu muito e continua a sofrer por causa de conflitos civis e hostilidades que duraram muito tempo e criaram profundas divisões. Uma vez que agora a nação está a trabalhar por restaurar a paz, a cura destas feridas não pode deixar de ser uma prioridade política e espiritual fundamental. Só posso expressar apreço pelos esforços do Governo em enfrentar este desafio, em particular através da Conferência de Paz de Panglong, que reúne os representantes dos vários grupos numa tentativa para pôr fim à violência, criar confiança e garantir o respeito pelos direitos de quantos consideram esta terra como a sua casa.

Neste sentido, alertou o Pontífice, o árduo processo de construção da paz e reconciliação nacional só pode avançar através do compromisso com a justiça e do respeito pelos direitos humanos.

Essa justiça, segundo o Papa, deve brotar da sabedoria dos antigos que sempre definiram a justiça como a vontade de reconhecer a cada um aquilo que lhe é devido, enquanto os antigos profetas a consideraram como o fundamento da paz verdadeira e duradoura.

Estas intuições, confirmadas pela trágica experiência de duas guerras mundiais, levaram à criação das Nações Unidas e à Declaração Universal dos Direitos Humanos como base dos esforços da comunidade internacional para promover a justiça, a paz e o progresso humano em todo o mundo e para resolver os conflitos através do diálogo, e não com o uso da força. Neste sentido, a presença do Corpo Diplomático entre nós testemunha não só o lugar que o Myanmar ocupa entre as nações, mas também o compromisso do país em manter e perseguir estes princípios fundamentais. O futuro do Myanmar deve ser a paz, uma paz fundada no respeito pela dignidade e os direitos de cada membro da sociedade, no respeito por cada grupo étnico e sua identidade, no respeito pelo Estado de Direito e uma ordem democrática que permita a cada um dos indivíduos e a todos os grupos – sem excluir nenhum – oferecer a sua legítima contribuição para o bem comum.

Referindo-se ao imenso trabalho a ser realizado no âmbito da reconciliação e integração nacional, Francisco recordou o papel privilegiado que cabe as comunidades religiosas do Myanmar. As diferenças religiosas, disse, não devem ser fonte de divisão e difidência, mas sim uma força em prol da unidade, do perdão, da tolerância e da sábia construção da nação.

E o Santo Padre manifestou neste sentido mais uma vez a sua forte convicção que as religiões podem desempenhar um papel significativo na cura das feridas emocionais, espirituais e psicológicas daqueles que sofreram nos anos de conflito. Impregnando-se de tais valores profundamente enraizados, elas, disse o Pontífice, podem ajudar a extirpar as causas do conflito, construir pontes de diálogo, procurar a justiça e ser uma voz profética para as pessoas que sofrem. Neste âmbito, Francisco reconheceu ser um grande sinal de esperança, o facto de que os líderes das várias tradições religiosas deste país se estejam comprometendo a trabalhar juntos, com espírito de harmonia e respeito mútuo, pela paz, pela ajuda aos pobres e pela educação nos valores religiosos e humanos autênticos, valores esses, que segundo o Papa, contribuirão não só para construir uma cultura do encontro, da solidariedade e do bem comum, mas sobretudo colocam as bases morais indispensáveis para um futuro de esperança e prosperidade para as gerações vindouras. E hoje, acrescentou o Papa, aquele futuro já está nas mãos dos jovens da nação, que para Francisco, são um dom a estimar e encorajar, um investimento que só produzirá um bom rendimento na base de oportunidades reais de emprego e duma educação de qualidade. De facto, observou ainda o Santo Padre, o futuro do Myanmar, num mundo em rápida evolução e interconexão, dependerá da formação dos seus jovens, não só nos campos técnicos, mas sobretudo na formação para os valores éticos de honestidade, integridade e solidariedade humanas, que podem garantir a consolidação da democracia e o crescimento da unidade e da paz em todos os níveis da sociedade. É indispensável, disse o Papa, que os nossos jovens não sejam espoliados da esperança e da possibilidade de empregar o seu idealismo e os seus talentos na projectação do futuro do seu país, melhor, da família humana inteira.

Nestes dias, quero encorajar os meus irmãos e irmãs católicos a perseverar na sua fé e a continuar a exprimir a sua mensagem de reconciliação e fraternidade através de obras caritativas e humanitárias, de que toda a sociedade possa beneficiar. Espero que, na respeitosa cooperação com os seguidores de outras religiões e com todos os homens e mulheres de boa vontade, contribuam para abrir uma nova era de concórdia e progresso para os povos desta amada nação. Longa vida ao Myanmar! Agradeço-vos pela atenção e, formulando votos das melhores felicidades no vosso serviço ao bem comum, sobre todos vós invoco as bênçãos divinas de sabedoria, força e paz.


terça-feira, novembro 28, 2017

FESTA DE NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS



Um dos mais valiosos presentes da Santíssima Virgem para a humanidade, foi dado no dia 27 de novembro de 1830, por meio de Santa Catarina Labouré, humilde freira da Congregação das Filhas da Caridade. Isto foi na Rua De Lubac, no centro de Paris, na Capela da Medalha Milagrosa.

Nesse dia, segundo relata a Vidente, Nossa Senhora apareceu-lhe mostrando nos dedos anéis incrustados de belíssimas pedras preciosas, “lançando raios para todos os lados, cada qual mais belo que o outro”.

Em seguida, formou-se em torno da Virgem uma moldura ovalada no alto da qual estavam escritas em letras de ouro as seguintes palavras, a bela jaculatória:

“Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”.
Esta foi uma prova do céu de que Nossa Senhora é Imaculada, concebida sem pecado original; vinte e quatro anos depois o Papa Pio IX proclamava solenemente o dogma da Imaculada Conceição de Maria no dia 8 de dezembro de 1854; e quatro anos após Nossa Senhora aparece em Lourdes e diz a Santa Bernadete: “Eu Sou a Imaculada Conceição”. Quantas provas de sua Imaculada Conceição!

A Virgem apareceu sobre um Globo, a Terra, pisando a cabeça da Serpente e segurando nas mãos um globo menor, oferecendo-o a Deus, num gesto de súplica. E diz a Santa Catarina: “Este globo representa o mundo inteiro e cada pessoa em particular”. De repente, o globo desapareceu e suas mãos se estenderam suavemente, derramando sobre o globo brilhantes raios de luz. E Santa Catarina ouviu uma voz que lhe dizia:

“Fazei cunhar uma medalha conforme este modelo. Todos os que a usarem, trazendo-a ao pescoço, receberão grandes graças. Estas serão abundantes para aqueles que a usarem com confiança.” Em 1832, uma violenta epidemia de cólera assolou a cidade de Paris. Foram, então, cunhados os primeiros exemplares da medalha, logo distribuídos aos doentes. À vista das graças extraordinárias e numerosas obtidas por meio dessa medalha, o povo p´-passou a chamá-la de Medalha Milagrosa. Em pouco tempo, essa devoção difundiu-se pelo mundo inteiro, e foi enriquecida com a composição de uma Novena.

Nossa Senhora foi a única criatura que nunca ofendeu a Deus, por isso o Anjo a chama de “cheia de Graça”; assim, ela encanta o coração de Deus e Este lhe atende todas as súplicas como nos mostra as Bodas de Caná da Galiléia. Se os nossos pecados dificultam a nossa comunhão com Deus e nos impedem de obter suas graças, isto não ocorre com Nossa Senhora, então, como boa Mãe, ela se põe como nossa magnífica intercessora.

Mais do que em outros dias, hoje é dia de Graças; peça tudo o que desejar a Nossa Senhora das Graças e já comece a agradecer; pois, se for para o seu bem, Deus lhe concederá pelas mãos benditas de Sua Mãe querida. Afinal, ela é a Filha predileta do Pai, a Esposa bendita do Espírito Santo e a Mãe Santa do Filho de Deus. O que ela não consegue de Deus?
Prof. Felipe Aquino





























       

  
             

                     






                 


               












                 



segunda-feira, novembro 27, 2017

FESTA DE SÃO CONRADO




Quem é que a nossa sociedade considera uma “pessoa de sucesso”? Qual o perfil do homem “importante”? Quais são os padrões usados pela nossa cultura para aferir a realização ou a não realização de alguém? No geral, o “homem de sucesso”, que todos reconhecem como importante e realizado, é aquele que tem dinheiro suficiente para concretizar todos os sonhos e fantasias, que tem poder suficiente para ser temido, que tem êxito suficiente para juntar à sua volta multidões de aduladores, que tem fama suficiente para ser invejado, que tem talento suficiente para ser admirado, que tem a pouca vergonha suficiente para dizer ou fazer o que lhe apetece, que tem a vaidade suficiente para se apresentar aos outros como modelo de vida… No entanto, de acordo com a parábola que o Evangelho propõe, o critério fundamental usado por Jesus para definir quem é uma “pessoa de sucesso” é a capacidade de amar o irmão, sobretudo o mais pobre e desprotegido. Para mim, o que é que faz mais sentido: o critério do mundo ou o critério de Deus? Na minha perspectiva, qual é mais útil e necessário: o “homem de sucesso” do mundo ou o “homem de sucesso” de Deus?

O amor ao irmão é, portanto, uma condição essencial para fazer parte do Reino. Nós cristãos, cidadãos do Reino, temos consciência disso e sentimo-nos responsáveis por todos os irmãos que sofrem? Os que não têm trabalho, nem pão, nem casa, podem contar com a nossa solidariedade ? Os imigrantes, perdidos numa realidade cultural e social estranha, vítimas de injustiças e violências, condenados a um trabalho escravo e que, tantas vezes, não respeita a sua dignidade, podem contar com a nossa solidariedade ? Os pobres, vítimas de injustiças, que nem sequer têm a possibilidade de recorrer aos tribunais para que lhes seja feita justiça, podem contar com a nossa solidariedade ? Os que sobrevivem com pensões de miséria, sem possibilidades de comprar os medicamentos necessários para aliviar os seus padecimentos, podem contar com a nossa solidariedade ? Os que estão sozinhos, abandonados por todos, sem amor nem amizade, podem contar com a nossa solidariedade ? Os que estão presos a um leito de hospital ou a uma cela de prisão, marginalizados e condenados em vida, podem contar com a nossa solidariedade ?

O Reino de Deus – isto é, esse mundo novo onde reinam os critérios de Deus e que se constrói de acordo com os valores de Deus – é uma semente que Jesus semeou, que os discípulos são chamados a edificar na história (através do amor) e que terá o seu tempo definitivo no mundo que há-de vir. Não esqueçamos, no entanto, este fato essencial: o Reino de Deus está no meio de nós; a nossa missão é fazer com que ele seja uma realidade bem viva e bem presente no nosso mundo. Depende de nós fazer com que o Reino deixe de ser uma miragem, para passar a ser uma realidade a crescer e a transformar o mundo e a vida dos homens.





















TERCEIRO DIA DO TRÍDUO PREPARATÓRIO PARA A FESTA DE SÃO CONRADO



Os critérios do Reino de Deus

O último Domingo do Tempo Comum, como dito, celebra a Solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo. Meu primeiro pensamento é chamar atenção para um fato muito particular: o tema do reinado de Deus não se parece com o poder político dos governantes atuais, que governam e organizam o povo com a força de leis e com atitudes controladoras. Não estou fazendo uma crítica, porque é necessário que haja um governo para organizar a sociedade. Estou apenas chamando atenção para a diferença entre os reinos do mundo e o Reino de Deus. A apresentação de Deus como Rei tem outra perspectiva: ele se apresenta como Rei porque socorre e ajuda os necessitados, porque faz justiça aos indefesos e liberta o oprimido dos opressores e de suas opressões. Assim deveria ser todo governante do povo: alguém que tivesse o mesmo modo do agir divino para com o povo, para que o povo possa viver de modo sereno, digno e na paz. A Imagem deste governante está simbolizada na figura do Bom Pastor.

A Solenidade de Cristo Rei não propõe criar um reino imaginário, como vemos em alguns filmes ou representações infantis. É uma celebração que coloca em causa um projeto concreto em favor do povo e da vida de cada membro do povo. Um primeiro elemento que chama atenção, neste sentido, são as acusações contra aqueles que assumem o pastoreio do povo: reis, governantes, líderes religiosos, sacerdotes... Fazendo uma leitura ao contrário da proposta divina, presente na 1ª leitura, entendemos que os maus governantes são aqueles que não vão em busca de quem vive perdido, não se preocupam em redirecionar aqueles que vivem extraviados, não dedicam cuidados a quem vive ferido, doente, não cria estruturas para fortalecer os enfermos... São governantes irresponsáveis para com a vida do povo. Governam com interesses pessoais ou interesses de grupos, como acontece com o processo corrupto no nosso Brasil.

A Solenidade de Cristo Rei não se fundamenta sobre o triunfalismo e nem propõe uma fé triunfalista. Nem mesmo se dirige unicamente aos governantes, é preciso dizer. O Evangelho direciona esta celebração a cada um de nós para nos comprometer concretamente com o pobre, com aquele que não tem vida digna, com aquele que é esquecido, com aquele que precisa ser tratado de modo misericordioso. É entrando na dinâmica do Reino de Deus que se entende como será o julgamento final, fundamentado unicamente no amor concreto para com os mais necessitados. O Reino de Deus não acontece pelo triunfalismo religioso, repito, mas pelo contato direto, pelo contato concreto, capaz de resgatar para a vida quem vive à margem da vida. Não estou falando de ideologia política, mas de um modo de viver fundamentado no amor e na fraternidade solidária entre nós. Este será o critério do julgamento final. Amém!

Homenagem das crianças da catequese ao Santo Padroeiro São Conrado de Constança