quarta-feira, março 14, 2018

EXPLICAÇÃO DO RITUAL DA DEDICAÇÃO DO ALTAR




EXPLICAÇÃO DO RITUAL DA DEDICAÇÃO DE ALTAR

Introdução

I. Natureza e dignidade do altar

1. Os antigos Padres da Igreja, tendo meditado a palavra de Deus, não hesitaram em afirmar ser Cristo a vítima, o sacerdote, o altar de seu sacrifício. Na Epístola aos Hebreus, Cristo mostra-se como o Sumo Pontífice e o Al­tar vivo do Templo celeste; no Apocalipse, nosso Redentor aparece qual Cor­deiro imolado, e sua oblação é levada por mãos do santo anjo ao sublime altar.

O cristão, também ele altar espiritual
2. Cristo, Cabeça e Mestre, é o verdadeiro altar; seus membros e discípu­los são também altares espirituais, em que se oferece a Deus o sacrifício de uma vida santa. Os mesmos Padres o sugerem: Santo Inácio de Antioquia, ao rogar com tanta beleza aos romanos: "Não me deis nada mais que ser imolado a Deus, enquanto o altar ainda estiver preparado"; ou São Policarpo, exortando a uma vida santa as viúvas, "que são altar de Deus". A essas vozes, a voz de São Gregório Magno e de outros respondem: "Que é o altar de Deus? Não é o espírito dos que vivem no bem? ... É muito certo, pois, que se chame de altar o coração (dos justos)".
Ou por outra imagem mencionada por escritores eclesiásticos: os fiéis, que se entregam à oração, oferecem preces a Deus e imolam vítimas de súplicas, são pedras vivas com que o Senhor Jesus constrói o altar da Igreja.


O altar, mesa do sacrifício e do banquete pascal
3. Cristo Senhor, pelo memorial do sacrifício que na ara da cruz iria ofere­cer ao Pai, instituindo-o sob a figura de banquete sacrificai, santificou a mesa, em torno da qual os fiéis se reuniriam, a fim de celebrar a sua Páscoa. Por con­seguinte, o altar é a mesa do sacrifício e do banquete; nela o sacerdote, tornan­do presente o Cristo Senhor, realiza aquilo mesmo que o Senhor fez e entregou aos discípulos para que o fizessem em sua memória; o Apóstolo claramente o indica ao dizer: "O pão que partimos, não é comunhão com o corpo de Cristo? Já que há um só pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos participamos desse único pão".

O altar, sinal de Cristo
4. Em todo lugar, atendendo às circunstâncias, os filhos da Igreja podem celebrar o memorial do Cristo e sentar-se à mesa do Senhor. Mas, está em har­monia com o mistério eucarístico que os fiéis ergam altar estável para a celebra­ção da Ceia do Senhor, o que desde a antigüidade se fez.
O altar cristão, por natureza, é a mesa própria para o sacrifício e o banque­te pascal:
- mesa própria, onde o sacrifício da cruz se perpetua pelos séculos, até que Cristo venha;
- mesa onde os filhos da Igreja se congregam para dar graças a Deus e receber o Corpo e o Sangue de Cristo.
Portanto, em todas as igrejas o altar é "o centro das ações de graças ofere­cidas pela Eucaristia", para o qual de algum modo todos os outros ritos da Igreja convergem”.
Por se realçar que no altar se celebra o memorial do Senhor e se dá aos fiéis seu Corpo e Sangue, os escritores eclesiásticos foram levados a vê-1o como sinal do próprio Cristo - e daí tornar-se comum a afirmação: "O altar é Cristo".

O altar, honra dos Mártires
5. A dignidade do altar está toda inteira em ser ele a mesa do Senhor. Não são os corpos dos Mártires que honram o altar, mas muito ao contrário: é o altar que nobilita o sepulcro dos Mártires. Com o fim de honrar os corpos dos Mártires e dos outros Santos, bem como para significar que o sacrifício da Ca­beça se perpetua no sacrifício dos membros, convém erigir os altares sobre os sepulcros destes ou encerrar sob o altar suas relíquias; desse modo, "entrem as vítimas vitoriosas no lugar em que Cristo é a Vítima. Mas, sobre o altar aquele que morreu por todos; sob o altar, os resgatados pela paixão de Cristo". Es­sa disposição como que renova a visão espiritual do Apóstolo João no Apoca­lipse: "Vi debaixo do altar as almas dos que haviam sido mortos por causa da palavra de Deus e do testemunho prestado". Na verdade, todos os Santos po­dem, com justiça, ser chamados testemunhas de Cristo. Contudo, o testemunho dado pelo sangue possui força espiritual, que somente as relíquias de Mártires colocadas sob o altar expressam de modo total e íntegro.


II. A Ereção do Altar

6. É muito conveniente que em toda igreja o altar seja fixo; nos outros lu­gares dedicados à celebração da Missa, o altar seja fixo ou móvel.
Chama-se de altar fixo aquele que se prende ao pavimento e por isso não pode ser removido; móvel, se pode ser transportado.

7. É preferível que nas novas igrejas se construa um único altar, que signi­fique a assembléia única dos fiéis, o único altar, o único Salvador nosso Jesus Cristo e a única Eucaristia da Igreja.
Contudo, em capela, se possível separada de algum modo da nave da igre­ja, poder-se-á erigir outro altar, onde se coloque o tabernáculo do Santíssimo Sacramento; neste altar também se poderá celebrar a Missa nos dias da semana para um pequeno grupo de fiéis.
Deve-se evitar absolutamente erigir altares com o único fito de ornar a igreja.

8. Construa-se o altar distante da parede, para que o sacerdote possa com facilidade andar a seu redor e celebrar a Missa voltado para o povo. "Mas que ocupe um lugar que seja em verdade o centro para o qual a atenção de todos os fiéis naturalmente se dirija".

9. Conforme o costume tradicional da Igreja e o símbolo bíblico inerente ao altar a mesa do altar fixo seja de pedra e mesmo de pedra natural. No entan­to, outras matérias dignas, sólidas, esmeradamente trabalhadas, podem ser em­pregadas na construção do altar, a juízo das Conferências Episcopais.

10. Por natureza, o altar é dedicado somente a Deus, pois o sacrifício eucarístico é oferecido unicamente a Deus. Neste sentido se deve compreender o costume da Igreja de dedicar altares a Deus em honra dos Santos. Santo Agostinho expressou-o muito bem: "A nenhum mártir, mas ao próprio Deus dos Mártires, embora em memória dos mártires, levantamos altares" .
Isso se deve explicar bem claramente aos fiéis. Não se coloquem nas novas igrejas efígies ou imagens de Santos sobre o altar.
Do mesmo modo, não se coloquem sobre a mesa do altar relíquias de San­tos, quando se apresentarem à veneração do povo.

11. Se houver possibilidade, observe-se a tradição da liturgia romana de encerrar sob o altar relíquias de Mártires ou de outros Santos . Note-se contudo o seguinte:

a) as relíquias deverão ser de tamanho suficiente para que se possa perceber se­rem partes de corpos humanos; evite-se, portanto, sejam confeccionadas relí­quias pequenas demais, de um só ou de vários Santos;

b) é preciso verificar com a máxima cautela se as relíquias são autênticas: é pre­ferível consagrar um altar sem relíquias a nele encerrar algumas duvidosas; c) o relicário não será colocado nem acima, nem sobre a mesa do altar, mas, atendendo-se à forma do altar, encerrado sob a mesa do mesmo.
Onde houver o rito do encerramento de relíquias, será muito recomendável a Vigília junto das relíquias do Mártir ou do Santo, de acordo com o prescrito acima no cop. II n° 10.

III. A Celebração da Dedicação

O ministro da dedicação
12. Ao bispo, a quem foi entregue o cuidado da Igreja local, compete dedi­car a Deus os novos altares erguidos em sua diocese. Porém, se não puder fazê­lo pessoalmente, delegue o poder a outro bispo, especialmente a um de seus co­legas ou auxiliar na cura pastoral dos fiéis, que irão beneficiar-se com o novo altar; em circunstâncias muito peculiares, delegue um presbítero por mandato especial.

A escolha do dia
13. Já que o altar se torna sagrado principalmente pela celebração da Euca­ristia, para se respeitar a autenticidade, cuide-se de não celebrar a Missa no no­vo altar antes de sua consagração, para que a missa da consagração seja a pri­meira Eucaristia a ser nele celebrada.

14. Escolha-se, para a consagração do novo altar um dia em que os fiéis tenham a possibilidade de se reunir em maior número, de modo particular um domingo, a não ser que razões pastorais peçam outra coisa. Contudo, não pode ser consagrado no Tríduo Pascal, na Quarta-feira de Cinzas, nas férias da Se­mana Santa e na comemoração de todos os fiéis Defuntos.

A Missa da Dedicação
15. A celebração da Eucaristia está intimamente unida ao rito da dedicação do altar. Reza-se a Missa "Para a dedicação do altar". No entanto, no dia de Natal, da Epifania, da Ascensão, do domingo de Pentecostes e ainda nos do­mingos do Advento, Quaresma e Páscoa, toma-se a Missa do dia, à exceção da oração sobre as oblatas e o Prefácio, que se unem estreitamente ao rito.

16. Convém que o bispo concelebre a Missa com os padres presentes, prin­cipalmente com aqueles que receberam o encargo de dirigir a paróquia ou co­munidade, em favor da qual se erigiu o altar.

As partes do ritual
A. Ritos iniciais
17. Os ritos iniciais da Missa de dedicação do altar são os de costume, exce­to que, em lugar do ato penitenciai, o bispo benze a água e com ela asperge o povo e o novo altar.

B. Liturgia da Palavra
18. Na liturgia da palavra aconselha-se a leitura de três lições, escolhidas segundo as rubricas, seja dentre as da liturgia do dia (of. acima n° 15) seja as propostas no Lecionário para a dedicação do altar (III, pp. II-21).

19. Após as leituras, faça o bispo uma homilia explicando as leituras bíbli­cas e o sentido do rito da consagração do altar.
Terminada a homilia, recita-se o Símbolo. Mas omite-se a oração dos fiéis , porque em seu lugar se canta a Ladainha de Todos os Santos.

C. Prece de dedicação e Unção do altar
Deposição das relíquias dos Santos
20. Depois das Ladainhas, se for o caso, são depositadas sob o altar as relí­quias de Mártires ou de outros Santos, para significar que todos os batizados na morte de Cristo e, mais que todos, aqueles que derramaram seu sangue pelo Senhor, participam da paixão de Cristo (cf. acima n° 5).

Prece de dedicação
21. A celebração da Eucaristia é o rito principal e o único indispensável pa­ra a dedicação do altar; contudo, em conformidade com a tradição comum da Igreja, tanto no Oriente como no Ocidente, há uma prece de dedicação, em que se afirma o propósito de dedicar para sempre o altar ao Senhor e se implora sua bênção.

Os ritos da unção, incensação, revestimento e iluminação do altar
22. Os ritos de ungir, incensar, revestir e iluminar o altar exprimem, por meio de sinais visíveis, algo da obra invisível que o Senhor realiza mediante a Igreja, quando esta celebra os divinos mistérios, mormente a Eucaristia.




a) Unção do altar: Em virtude da unção, o altar torna-se símbolo de Cristo que é o “Ungido” por excelência e assim é chamado; pois o Pai o ungiu com o Espírito Santo e o constituiu Sumo Sacerdote, porque no altar do seu Corpo ofereceu o sacrifício da vida pela salvação de todos.




b) O incenso é queimado sobre o altar para significar que o sacrifício do Cristo que aí se perpetua no mistério, sobe a Deus em odor de suavidade; mas, tam­bém expressa que as orações dos fiéis ao trono de Deus chegam pacificadoras e agradáveis .




c) O revestimento indica que o altar cristão é ara do sacrifício eucarístico e me­sa do Senhor; ao seu redor os sacerdotes e fiéis, numa única e mesma ação, mas com encargos diferentes, celebram o Memorial da morte e ressurreição de Cris­to e participam da Ceia do Senhor. Por isso, é preparado e ornado festivamente como mesa da refeição sacrificai. Desse modo, vê-se claramente ser ele a mesa do Senhor, ao redor da qual todos os fiéis se reúnem com alegria para se sacia­rem com o divino alimento, o Corpo e o Sangue do Cristo imolado.

d) A iluminação do altar lembra que Cristo é a "Luz para a revelação aos povos" ; com sua claridade resplandece a Igreja e, através desta, toda a famí­lia humana.


D. Celebração da Eucaristia
23. Preparado o altar, o bispo celebra a Eucaristia, parte principal indis­pensável, e a mais antiga de todo o rito22 . De fato, nada mais adequado à de­dicação do altar do que a celebração da Eucaristia.
- por esta celebração, a finalidade intencionada pela construção do altar se atinge e se manifesta de modo excelente;
- além disso, a Eucaristia, que santifica aqueles que a recebem, de certo modo consagra o altar, como os antigos Padres da Igreja por mais de uma vez afirma­ram: "Este altar é admirável, porque por sua natureza é uma pedra, mas se tor­na santo depois que o Corpo de Cristo sobre ele repousou"23;
- finalmente, o forte nexo entre a dedicação do altar e a celebração da Euca­ristia se mostra no fato de que a Missa da dedicação possui um Prefácio pró­prio, parte integrante do rito.


IV - Adaptações do rito


Adaptações que competem às Conferências Episcopais
24. As Conferências Episcopais podem adaptar, se oportuno, este Ritual aos costumes de cada região, contanto que ele nada perca de sua dignidade e solenidade.
Observe-se porém o seguinte:
a) nunca se omita a celebração da Missa com o Prefácio próprio e a Prece de dedicação;
b) a não ser que se oponham graves motivos, conservem-se os ritos que por tra­dição litúrgica possuem sentido e valor particulares (cf. acima n° 22), com as fórmulas convenientemente adaptadas, se houver necessidade.
Más, sobre essas adaptações, a competente Autoridade Eclesiástica consul­te a Sé Apostólica e as introduza com o devido consentimento24 .

Adaptações que competem aos ministros
25. Compete ao bispo e aos responsáveis pela celebração do rito decidir so­bre a oportunidade de encerrar relíquias dos Santos; neste particular, observa­das as prescrições do n° 11 acima, tenha-se em vista sobretudo o bem espiritual dos fiéis e o genuíno espírito da liturgia.
Ao reitor da igreja cujo altar será dedicado, com o auxílio dos cooperado­res na ação pastoral, compete determinar e preparar tudo quanto se relaciona com as leituras, cânticos e subsídios pastorais, para uma frutuosa participação do povo e beleza da cerimônia.


V - Preparação Pastoral

26. Os fiéis sejam avisados em tempo oportuno sobre a dedicação do altar e preparados para uma ativa presença ao rito. Por isto é necessário serem ins­truídos sobre a significação de cada cerimônia e o modo de realizá-la. Para esta instrução, pode ser de utilidade aquilo que se disse acima sobre a natureza e dig­nidade do altar e o sentido e eficácia dos ritos.
Deste modo os fiéis terão o justo e devido amor ao altar.

VI - Objetos necessários para a dedicação do altar


30. É conveniente observar o costume de introduzir no relicário um pergaminho com a menção do dia, mês e ano da dedicação do altar, nome do bispo celebrante, titular da igreja e os nomes dos Mártires ou Santos cujas relíquias vão ser depositadas sob o altar.
Preparem-se as atas da dedicação em dois exemplares; um deles ficará no arquivo da diocese, o outro, no da igreja. Serão assinadas pelo bispo, o reitor da igreja e os delegados da comunidade local.