EXPLICAÇÃO DO RITUAL DA
DEDICAÇÃO DE ALTAR
Introdução
I. Natureza e
dignidade do altar
1. Os antigos Padres da Igreja, tendo meditado a
palavra de Deus, não hesitaram em afirmar ser Cristo a vítima, o sacerdote, o
altar de seu sacrifício.
Na Epístola aos Hebreus, Cristo mostra-se como o Sumo Pontífice e o Altar vivo
do Templo celeste;
no Apocalipse, nosso Redentor aparece qual Cordeiro imolado,
e sua oblação é levada por mãos do santo anjo ao sublime altar.
O cristão,
também ele altar espiritual
2. Cristo, Cabeça e Mestre, é o verdadeiro altar;
seus membros e discípulos são também altares espirituais, em que se oferece a
Deus o sacrifício de uma vida santa. Os mesmos Padres o sugerem: Santo Inácio
de Antioquia, ao rogar com tanta beleza aos romanos: "Não me deis nada
mais que ser imolado a Deus, enquanto o altar ainda estiver preparado";
ou São Policarpo, exortando a uma vida santa as viúvas, "que são altar de
Deus".
A essas vozes, a voz de São Gregório Magno e de outros respondem: "Que é o
altar de Deus? Não é o espírito dos que vivem no bem? ... É muito certo, pois,
que se chame de altar o coração (dos justos)".
Ou por outra imagem mencionada por escritores
eclesiásticos: os fiéis, que se entregam à oração, oferecem preces a Deus e
imolam vítimas de súplicas, são pedras vivas com que o Senhor Jesus constrói o
altar da Igreja.
O altar, mesa
do sacrifício e do banquete pascal
3. Cristo Senhor, pelo memorial do sacrifício que na
ara da cruz iria oferecer ao Pai, instituindo-o sob a figura de banquete
sacrificai, santificou a mesa, em torno da qual os fiéis se reuniriam, a fim de
celebrar a sua Páscoa. Por conseguinte, o altar é a mesa do sacrifício e do
banquete; nela o sacerdote, tornando presente o Cristo Senhor, realiza aquilo
mesmo que o Senhor fez e entregou aos discípulos para que o fizessem em sua
memória; o Apóstolo claramente o indica ao dizer: "O pão que partimos, não
é comunhão com o corpo de Cristo? Já que há um só pão, nós, embora muitos,
somos um só corpo, visto que todos participamos desse único pão".
O altar, sinal
de Cristo
4. Em todo lugar, atendendo às circunstâncias, os
filhos da Igreja podem celebrar o memorial do Cristo e sentar-se à mesa do
Senhor. Mas, está em harmonia com o mistério eucarístico que os fiéis ergam
altar estável para a celebração da Ceia do Senhor, o que desde a antigüidade
se fez.
O altar cristão, por natureza, é a mesa própria para
o sacrifício e o banquete pascal:
- mesa própria, onde o sacrifício da cruz se
perpetua pelos séculos, até que Cristo venha;
- mesa onde os filhos da Igreja se congregam para
dar graças a Deus e receber o Corpo e o Sangue de Cristo.
Portanto, em todas as igrejas o altar é "o
centro das ações de graças oferecidas pela Eucaristia",
para o qual de algum modo todos os outros ritos da Igreja convergem”.
Por se realçar que no altar se celebra o memorial do
Senhor e se dá aos fiéis seu Corpo e Sangue, os escritores eclesiásticos foram
levados a vê-1o como sinal do próprio Cristo - e daí tornar-se comum a
afirmação: "O altar é Cristo".
O altar, honra
dos Mártires
5. A dignidade do altar está toda inteira em ser ele
a mesa do Senhor. Não são os corpos dos Mártires que honram o altar, mas muito
ao contrário: é o altar que nobilita o sepulcro dos Mártires. Com o fim de
honrar os corpos dos Mártires e dos outros Santos, bem como para significar que
o sacrifício da Cabeça se perpetua no sacrifício dos membros,
convém erigir os altares sobre os sepulcros destes ou encerrar sob o altar suas
relíquias; desse modo, "entrem as vítimas vitoriosas no lugar em que
Cristo é a Vítima. Mas, sobre o altar aquele que morreu por todos; sob o altar,
os resgatados pela paixão de Cristo".
Essa disposição como que renova a visão espiritual do Apóstolo João no Apocalipse:
"Vi debaixo do altar as almas dos que haviam sido mortos por causa da
palavra de Deus e do testemunho prestado".
Na verdade, todos os Santos podem, com justiça, ser chamados testemunhas de
Cristo. Contudo, o testemunho dado pelo sangue possui força espiritual, que
somente as relíquias de Mártires colocadas sob o altar expressam de modo total
e íntegro.
II. A Ereção
do Altar
6. É muito conveniente que em toda igreja o altar
seja fixo; nos outros lugares dedicados à celebração da Missa, o altar seja
fixo ou móvel.
Chama-se de altar fixo aquele que se prende ao
pavimento e por isso não pode ser removido; móvel, se pode ser transportado.
7. É preferível que nas novas igrejas se construa um
único altar, que signifique a assembléia única dos fiéis, o único altar, o
único Salvador nosso Jesus Cristo e a única Eucaristia da Igreja.
Contudo, em capela, se possível separada de algum
modo da nave da igreja, poder-se-á erigir outro altar, onde se coloque o
tabernáculo do Santíssimo Sacramento; neste altar também se poderá celebrar a
Missa nos dias da semana para um pequeno grupo de fiéis.
Deve-se evitar absolutamente erigir altares com o
único fito de ornar a igreja.
8. Construa-se o altar distante da parede, para que
o sacerdote possa com facilidade andar a seu redor e celebrar a Missa voltado
para o povo. "Mas que ocupe um lugar que seja em verdade o centro para o
qual a atenção de todos os fiéis naturalmente se dirija".
9. Conforme o costume tradicional da Igreja e o
símbolo bíblico inerente ao altar a mesa do altar fixo seja de pedra e mesmo de
pedra natural. No entanto, outras matérias dignas, sólidas, esmeradamente
trabalhadas, podem ser empregadas na construção do altar, a juízo das
Conferências Episcopais.
10. Por natureza, o altar é dedicado somente a Deus,
pois o sacrifício eucarístico é oferecido unicamente a Deus. Neste sentido se
deve compreender o costume da Igreja de dedicar altares a Deus em honra dos
Santos. Santo Agostinho expressou-o muito bem: "A nenhum mártir, mas ao
próprio Deus dos Mártires, embora em memória dos mártires, levantamos
altares" .
Isso se deve explicar bem claramente aos fiéis. Não
se coloquem nas novas igrejas efígies ou imagens de Santos sobre o altar.
Do mesmo modo, não se coloquem sobre a mesa do altar
relíquias de Santos, quando se apresentarem à veneração do povo.
11. Se houver possibilidade, observe-se a tradição
da liturgia romana de encerrar sob o altar relíquias de Mártires ou de outros
Santos . Note-se contudo o seguinte:
a) as relíquias deverão ser de tamanho suficiente
para que se possa perceber serem partes de corpos humanos; evite-se, portanto,
sejam confeccionadas relíquias pequenas demais, de um só ou de vários Santos;
b) é preciso verificar com a máxima cautela se as
relíquias são autênticas: é preferível consagrar um altar sem relíquias a nele
encerrar algumas duvidosas; c) o relicário não será colocado nem acima, nem
sobre a mesa do altar, mas, atendendo-se à forma do altar, encerrado sob a mesa
do mesmo.
Onde houver o rito do encerramento de relíquias,
será muito recomendável a Vigília junto das relíquias do Mártir ou do Santo, de
acordo com o prescrito acima no cop. II n° 10.
III. A
Celebração da Dedicação
O ministro da
dedicação
12. Ao bispo, a quem foi entregue o cuidado da
Igreja local, compete dedicar a Deus os novos altares erguidos em sua diocese.
Porém, se não puder fazêlo pessoalmente, delegue o poder a outro bispo,
especialmente a um de seus colegas ou auxiliar na cura pastoral dos fiéis, que
irão beneficiar-se com o novo altar; em circunstâncias muito peculiares,
delegue um presbítero por mandato especial.
A escolha do
dia
13. Já que o altar se torna sagrado principalmente
pela celebração da Eucaristia, para se respeitar a autenticidade, cuide-se de
não celebrar a Missa no novo altar antes de sua consagração, para que a missa
da consagração seja a primeira Eucaristia a ser nele celebrada.
14. Escolha-se, para a consagração do novo altar um
dia em que os fiéis tenham a possibilidade de se reunir em maior número, de
modo particular um domingo, a não ser que razões pastorais peçam outra coisa.
Contudo, não pode ser consagrado no Tríduo Pascal, na Quarta-feira de Cinzas,
nas férias da Semana Santa e na comemoração de todos os fiéis Defuntos.
A Missa da
Dedicação
15. A celebração da Eucaristia está intimamente
unida ao rito da dedicação do altar. Reza-se a Missa "Para a dedicação do
altar". No entanto, no dia de Natal, da Epifania, da Ascensão, do domingo
de Pentecostes e ainda nos domingos do Advento, Quaresma e Páscoa, toma-se a
Missa do dia, à exceção da oração sobre as oblatas e o Prefácio, que se unem
estreitamente ao rito.
16. Convém que o bispo concelebre a Missa com os
padres presentes, principalmente com aqueles que receberam o encargo de
dirigir a paróquia ou comunidade, em favor da qual se erigiu o altar.
As partes do
ritual
A. Ritos iniciais
17. Os ritos iniciais da Missa de dedicação do altar
são os de costume, exceto que, em lugar do ato penitenciai, o bispo benze a
água e com ela asperge o povo e o novo altar.
B. Liturgia da Palavra
18. Na liturgia da palavra aconselha-se a leitura de
três lições, escolhidas segundo as rubricas, seja dentre as da liturgia do dia
(of. acima n° 15) seja as propostas no Lecionário para a dedicação do altar
(III, pp. II-21).
19. Após as leituras, faça o bispo uma homilia
explicando as leituras bíblicas e o sentido do rito da consagração do altar.
Terminada a homilia, recita-se o Símbolo. Mas
omite-se a oração dos fiéis , porque em seu lugar se canta a Ladainha de Todos
os Santos.
C. Prece de dedicação e Unção do altar
Deposição das relíquias dos Santos
20. Depois das Ladainhas, se for o caso, são
depositadas sob o altar as relíquias de Mártires ou de outros Santos, para significar que todos os batizados na
morte de Cristo e, mais que todos, aqueles que derramaram seu sangue pelo
Senhor, participam da paixão de Cristo (cf. acima n° 5).
Prece de dedicação
21. A celebração da Eucaristia é o rito principal e
o único indispensável para a dedicação do altar; contudo, em conformidade com
a tradição comum da Igreja, tanto no Oriente como no Ocidente, há uma prece de
dedicação, em que se afirma o propósito de dedicar para sempre o altar ao
Senhor e se implora sua bênção.
Os ritos da unção, incensação, revestimento e
iluminação do altar
22. Os ritos de ungir, incensar, revestir e iluminar
o altar exprimem, por meio de sinais visíveis, algo da obra invisível que o
Senhor realiza mediante a Igreja, quando esta celebra os divinos mistérios,
mormente a Eucaristia.
a) Unção do altar: Em virtude da
unção, o altar torna-se símbolo de Cristo que é o “Ungido” por excelência e
assim é chamado; pois o Pai o ungiu com o Espírito Santo e o constituiu Sumo
Sacerdote, porque no altar do seu Corpo ofereceu o sacrifício da vida pela
salvação de todos.
b) O incenso é queimado sobre o altar
para significar que o sacrifício do Cristo que aí se perpetua no mistério, sobe
a Deus em odor de suavidade; mas, também expressa que as orações dos fiéis ao
trono de Deus chegam pacificadoras e agradáveis .
c) O
revestimento indica
que o altar cristão é ara do sacrifício eucarístico e mesa do Senhor; ao seu
redor os sacerdotes e fiéis, numa única e mesma ação, mas com encargos
diferentes, celebram o Memorial da morte e ressurreição de Cristo e participam
da Ceia do Senhor. Por isso, é preparado e ornado festivamente como mesa da
refeição sacrificai. Desse modo, vê-se claramente ser ele a mesa do Senhor, ao
redor da qual todos os fiéis se reúnem com alegria para se saciarem com o
divino alimento, o Corpo e o Sangue do Cristo imolado.
d) A
iluminação do altar
lembra que Cristo é a "Luz para a revelação aos povos" ; com sua claridade resplandece a
Igreja e, através desta, toda a família humana.
D. Celebração da Eucaristia
23. Preparado o altar, o bispo celebra a Eucaristia,
parte principal indispensável, e a mais antiga de todo o rito22 . De fato, nada mais adequado à dedicação
do altar do que a celebração da Eucaristia.
- por esta celebração, a finalidade intencionada
pela construção do altar se atinge e se manifesta de modo excelente;
- além disso, a Eucaristia, que santifica aqueles
que a recebem, de certo modo consagra o altar, como os antigos Padres da Igreja
por mais de uma vez afirmaram: "Este altar é admirável, porque por sua
natureza é uma pedra, mas se torna santo depois que o Corpo de Cristo sobre
ele repousou"23;
- finalmente, o forte nexo entre a dedicação do
altar e a celebração da Eucaristia se mostra no fato de que a Missa da
dedicação possui um Prefácio próprio, parte integrante do rito.
IV -
Adaptações do rito
Adaptações que competem às Conferências Episcopais
24. As Conferências Episcopais podem adaptar, se
oportuno, este Ritual aos costumes de cada região, contanto que ele nada perca
de sua dignidade e solenidade.
Observe-se porém o seguinte:
a) nunca se omita a celebração da Missa com o
Prefácio próprio e a Prece de dedicação;
b) a não ser que se oponham graves motivos,
conservem-se os ritos que por tradição litúrgica possuem sentido e valor
particulares (cf. acima n° 22), com as fórmulas convenientemente adaptadas, se
houver necessidade.
Más, sobre essas adaptações, a competente Autoridade
Eclesiástica consulte a Sé Apostólica e as introduza com o devido
consentimento24 .
Adaptações que competem aos ministros
25. Compete ao bispo e aos responsáveis pela celebração
do rito decidir sobre a oportunidade de encerrar relíquias dos Santos; neste
particular, observadas as prescrições do n° 11 acima, tenha-se em vista
sobretudo o bem espiritual dos fiéis e o genuíno espírito da liturgia.
Ao reitor da igreja cujo altar será dedicado, com o
auxílio dos cooperadores na ação pastoral, compete determinar e preparar tudo
quanto se relaciona com as leituras, cânticos e subsídios pastorais, para uma
frutuosa participação do povo e beleza da cerimônia.
V - Preparação
Pastoral
26. Os fiéis sejam avisados em tempo oportuno sobre
a dedicação do altar e preparados para uma ativa presença ao rito. Por isto é
necessário serem instruídos sobre a significação de cada cerimônia e o modo de
realizá-la. Para esta instrução, pode ser de utilidade aquilo que se disse
acima sobre a natureza e dignidade do altar e o sentido e eficácia dos ritos.
Deste modo os fiéis terão o justo e devido amor ao
altar.
VI - Objetos
necessários para a dedicação do altar
30. É conveniente observar o costume de introduzir
no relicário um pergaminho com a menção do dia, mês e ano da dedicação do
altar, nome do bispo celebrante, titular da igreja e os nomes dos Mártires ou
Santos cujas relíquias vão ser depositadas sob o altar.
Preparem-se as atas da dedicação em dois exemplares;
um deles ficará no arquivo da diocese, o outro, no da igreja. Serão assinadas
pelo bispo, o reitor da igreja e os delegados da comunidade local.