O
silêncio é a melhor atitude perante a morte. Introduzindo-nos no diálogo da
eternidade e revelando-nos a linguagem do amor, põe-nos em comunhão profunda
com esse mistério imperscrutável. Há um laço muito forte entre os que deixaram
de viver no espaço e no tempo e aqueles que ainda vivem neles. É verdade que o
desaparecimento físico dos nossos entes queridos nos causa grande sofrimento,
devido à intransponível distância que se estabelece entre eles e nós. Mas, pela
fé e pela oração, podemos experimentar uma íntima comunhão com eles. Quando
parece que nos deixam, é o momento em que se instalam mais solidamente na nossa
vida, permanecem presentes, fazem parte da nossa interioridade. Encontramo-los
na pátria que já levamos no coração, lá onde habita a Santíssima Trindade.
Paulo
encoraja-nos a vivermos positivamente o mistério da morte, confrontando-nos com
ela todos os dias, aceitando-a como lei de natureza e de graça, para sermos
progressivamente despojados do que deve perecer até nos vermos milagrosamente
transformados no que devemos ser. Deste modo, a "morte quotidiana"
revela-se um nascimento: o lento declínio e o pôr-do-sol tornam-se aurora
luminosa. Todos os sofrimentos, canseiras e tribulações da vida fazem parte
desta "morte quotidiana" que nos levará à vida imortal. Havemos de
viver fixando os olhos na bem-aventurada esperança, confiando na fidelidade do
Senhor, que nos prometeu a eternidade. Vivendo assim, quando chegar ao termo
desta vida, não veremos descer as trevas da noite, mas veremos erguer-se a
aurora da eternidade, onde teremos a alegria de nos sentir uma só coisa com o
Senhor. Depois de muitas tribulações, seremos completamente seus, e essa
pertença será plena bem-aventurança na visão do seu rosto.
Para
o cristão, o sofrimento é um tempo de "disponibilidade pura", de
"pura oblação" e, ao mesmo tempo, uma forma eminente de apostolado,
em união a Cristo vítima, na comunhão dos santos, para salvação do mundo.
Vivendo assim, prepara-se, assim, para o supremo ato de oblação, para o último
apostolado, o da morte: configurados "a Cristo na morte" (Fil 3, 10)
(Cf. Cst n. 69).Se a morte de Cristo na Cruz é o ato de apostolado mais eficaz,
que remiu o mundo, o mesmo se pode dizer da morte do cristão em união com a
morte de Cristo. Não se quer com isto dizer que, sob o ponto de vista humano, a
morte do cristão deva ser uma "morte bonita", tal como não foi
bonita, com certeza, a morte de Cristo aos olhos dos homens. Foi, pelo
contrário, uma "liturgia esquálida", de abandono e de desolação. O
importante é que seja uma morte "para Cristo e em Cristo" (S. Inácio
de Antioquia, SC 10, 132). Imolados com Ele, com Ele ressuscitaremos.
Se,
na humildade do dia a dia, vivemos a nossa oblação-imolação com Cristo, oblato
e imolado pela salvação do mundo, estamos preparados para o último apostolado
da nossa vida: a oblação-imolação da nossa morte, o extremo sacrifício,
consumado pelo fogo do Espírito, como aconteceu na morte de Cristo na cruz:
"Por um Espírito eterno ofereceu a Si mesmo sem mancha, a Deus" (Heb
9, 14). A morte é, então, a nossa última oferta, o momento da suprema, pura
oblação: "Se morrermos com Ele, com Ele viveremos" (2 Tm 2, 11).