Esta
impressionante descrição do juízo final é a conclusão das três parábolas
precedentes (a "parábola do administrador fiel e do infiel" - cf. Mt
24,45-51; a "parábola das virgens prudentes e imprudentes " - cf. Mt
25,1-13; a "parábola dos talentos" - cf. Mt 25,14-30). Tanto no texto
que nos é proposto como nessas três parábolas aparecem dois grupos de pessoas
que tiveram comportamentos diversos enquanto esperavam a vinda do Senhor Jesus.
O autor do texto mostra agora qual será o "fim" daqueles que se
mantiveram e daqueles que não se mantiveram vigilantes e preparados para a
vinda do Senhor.
1)
A parábola do juízo final começa com uma introdução (vers. 31-33) que apresenta
o quadro: o "Filho do Homem" sentado no seu trono, separando as
pessoas umas das outras "como o pastor separa as ovelhas dos
cabritos".
Vêm,
depois, dois diálogos. Um, entre "o rei" e "as ovelhas" que
estão à sua direita (vers. 34-40); outro, entre "o rei" e os
"cabritos" que estão à sua esquerda (vers. 41-46). No primeiro
diálogo, o "rei" acolhe as "ovelhas" e convida-as a tomar
posse da herança do "Reino"; no segundo diálogo, o "rei"
afasta os "cabritos" e impede-os de tomar posse da herança do Reino.
Porquê? Qual é o critério que "o rei" utiliza para acolher uns e
rejeitar outros?
2)
A questão decisiva parece ser, na perspectiva de Mateus, a atitude de amor ou
de indiferença para com os menores de
Jesus, que se encontram em situações dramáticas de necessidade - os que têm
fome, os que têm sede, os peregrinos, os que não têm que vestir, os que estão
doentes, os que estão na prisão... Jesus identifica-Se com os pequenos, os
pobres, os débeis, os marginalizados; manifestar amor e solidariedade para com
o pobre é fazê-lo ao próprio Jesus e manifestar egoísmo e indiferença para com
o pobre é fazê-lo ao próprio Jesus.
3)
A exortação que Mateus lança à sua comunidade cristã (e às comunidades cristãs
de todos os tempos e lugares) nas parábolas precedentes ganham, assim, uma
força impressionante à luz desta cena final. Com os dados que este Evangelho
nos apresenta, fica perfeitamente evidente que "estar vigilantes e
preparados" (que é o grande tema do "discurso escatológico" dos
capítulos 24 e 25) consiste, principalmente, em viver o amor e a solidariedade
para com os pobres, os pequenos, os desprotegidos, os marginalizados. Em última
análise, é esse o critério que decide a entrada ou a não entrada no Reino de
Deus.
4)
A cena do juízo final será uma descrição exacta e fotográfica do que vai
acontecer no final dos tempos?
É
claro que não. Mateus não é um repórter, mas um catequista instruindo a sua
comunidade sobre os critérios e as lógicas de Deus. O objetivo do catequista
Mateus é deixar bem claro que Deus não aprova uma vida conduzida por critérios
de egoísmo, onde não há lugar para o amor a todos os irmãos, particularmente
aos mais pobres e débeis.
Deus
condena os maus ("os cabritos") ao inferno? Não. Deus não condena
ninguém. Quem se condena ou não é o homem, na medida em que não aceita ou
aceita a vida que Deus lhe oferece. E haverá alguém que, tendo consciência
plena do que está em jogo, rejeite o amor e escolha, em definitivo, o egoísmo,
o orgulho, a autossuficiência - isto é, o afastamento definitivo de Deus e do
Reino? Haverá alguém que, percebendo o sem sentido dessas opções, se obstine
nelas por toda a eternidade?
Então,
porque é que Mateus põe Deus dizendo aos "cabritos":
"afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo
e para os seus anjos"? Porque Mateus é um pregador veemente, que usa a
técnica dos pregadores da época e gosta de recorrer a imagens fortes que toquem
o auditório e que o levem a sentir-se interpelado. Para além dos exageros de
linguagem, a mensagem é esta: o egoísmo e a indiferença para com o irmão não
têm lugar no Reino de Deus.