Só
quem tem fé num futuro melhor pode viver intensamente o presente. Só quem
conhece o destino caminha com firmeza, apesar dos obstáculos. Talvez seja esta
a mensagem mais importante do relato da Ascensão para uma sociedade como a
nossa.
Para
quem não espera nada no final, os sucessos, as alegrias, os êxitos da vida são
tristes, porque acabam. Para quem crê que esta vida está secretamente aberta à
vida definitiva, os sucessos, os trabalhos, os sofrimentos e alegrias são
anseio e anúncio, busca da felicidade final.
Não
se pode descrever o céu, mas podemos antegozá-lo. Não podemos alcançá-lo com
nossa mente, mas é difícil não desejá-lo. Se falamos do céu não é para
satisfazer nossa curiosidade, mas para reavivar nosso desejo e nossa atração
por Deus. Se o recordamos é para não esquecer o anseio último que trazemos no
coração.
Ir
para o céu não é chegar a um lugar, mas entrar para sempre no Mistério do amor
de Deus. Por fim, Deus já não será alguém oculto e inacessível. Embora nos
pareça inacreditável, poderemos conhecer, tocar, provar e desfrutar seu ser
mais intimo, sua verdade mais profunda, sua bondade e beleza infinitas. Deus
despertará em nós a paixão do amor para sempre.
Esta
comunhão com Deus não será uma experiência individual. Jesus ressuscitado nos
acompanhará. Ninguém vai ao Pai se não for por meio de Cristo. “Nele habita
toda a plenitude da divindade em forma corporal" (CI 2,9). Só conhecendo e
desfrutando o mistério contido em Cristo penetraremos no mistério insondável de
Deus. Cristo será o nosso céu”. Vendo a ele, "veremos" a Deus.
Cristo
não será o único mediador de nossa felicidade eterna. Inflamados pelo amor de
Deus, cada um de nós nos converteremos, à nossa maneira, em “céu" para os
outros. A partir de nossa limitação e finitude tocaremos o Mistério infinito de
Deus, saboreando-o em suas criaturas.
Gozaremos
de seu amor insondável, saboreando-o no amor humano. O gozo de Deus nos será
dado encarnado no prazer humano.
O
teólogo húngaro Ladislaus Boros procura sugerir esta experiência indescritível:
"Sentiremos o calor, experimentaremos o esplendor, a vitalidade, a riqueza
transbordante da pessoa que hoje amamos, com a qual desfrutamos e pela qual
agradecemos a Deus. Todo o seu ser, a profundeza de sua alma, a grandeza de seu
coração, a criatividade, a amplitude, a paixão de sua reação amorosa não serão
presenteados”.
Que plenitude alcançará em Deus a ternura, a comunhão e o gozo do amor e da amizade que conhecemos aqui! Com que intensidade nos amaremos então, nós que já nos amamos tanto na terra! Poucas experiências nos permitem antegozar melhor o destino último ao qual somos atraídos por Deus.