Este tempo quaresmal, cujo ápice será a celebração
da vitória pascal de Cristo sobre o mal e a morte, faz-nos refletir sobre o
sofrimento em nossa vida, o mal e a dor que sempre estão presentes em nossa
existência. Por que o mal? Deus não é nosso Pai? Por que permite que soframos?
É a grande questão da humanidade em toda a sua história: a existência do mal.
O Catecismo da Igreja Católica nos diz que a
resposta não pode ser dada de modo rápido e simples, mas há que se considerar
todo o conjunto da fé cristã: a bondade da criação, as sábias leis divinas da
natureza, a pequenez e limitação da criatura (só Deus é perfeitíssimo, sem
deficiências; as criaturas, não), a
liberdade humana, o drama do pecado, o amor paciente de Deus, a sabedoria
misteriosa da Providência divina, enfim, todo o conjunto da mensagem cristã
traz a solução para o problema do mal.
Em sua sabedoria e bondade infinitas, Deus quis
criar um mundo em estado de busca da perfeição última. Essa série de
transformações que se operam no universo permite, no desígnio de Deus,
juntamente com o mais perfeito, também o imperfeito, com as construções da
natureza, também as destruições. Juntamente com o bem físico existe, portanto,
o mal físico, enquanto a criação não houver atingido a sua perfeição. As leis
físicas e químicas universais, criadas por Deus, são benéficas universalmente,
embora, pela deficiência das criaturas, por serem tais, possam produzir alguns
malefícios particulares, a não ser que Deus interfira com um milagre, que é a
suspensão temporária do efeito das suas leis universais da natureza, o que só
raramente acontece, por motivos só dele conhecidos.
Além disso, existe o mal moral, procedente da
vontade livre do homem, pelo mau uso da liberdade que Deus lhe deu para poder
merecer agindo sem coação.
E Deus sempre sabe tirar do mal um bem. “Deus
todo-poderoso, por ser soberanamente bom, nunca deixaria qualquer mal existir
em suas obras se não fosse bastante poderoso e bom para fazer resultar o bem do
próprio mal” (S. Agostinho, De libero arbítrio, I, 1, 2). E nós também devemos
sempre tirar do mal um bem: a caridade, a solidariedade, o arrependimento, a
contrição, o propósito de melhorarmos a nós e o mundo, a paciência, a
humildade, o desapego, enfim as virtudes cristãs que nos preparam para uma
eternidade feliz, sem males.
“Ao longo deste tempo, manteremos o olhar fixo sobre
Jesus Cristo, ‘autor e consumador da fé’ (Hb 12, 2): n’Ele encontra plena
realização toda a ânsia e aspiração do coração humano. A alegria do amor, a
resposta ao drama da tribulação e do sofrimento, a força do perdão face à
ofensa recebida e a vitória da vida sobre o vazio da morte, tudo isto encontra
plena realização no mistério da sua Encarnação, do seu fazer-Se homem, do
partilhar conosco a fragilidade humana para a transformar com a força da sua
ressurreição. N’Ele, morto e ressuscitado para a nossa salvação, encontram
plena luz os exemplos de fé que marcaram estes dois mil anos da nossa história
de salvação” (Papa emérito Bento XVI, Porta Fidei, 13).