Quando
dedicamos tempo para interrogar o sentido da vida, damos um passo importante na
qualidade existencial. A Quaresma oferece essa oportunidade de rever ou refazer
o sentido da vida. É o tempo propício para fazer crescer o divino (a santidade)
que existe em nossas vidas, condição inquestionável para um sentido existencial
de qualidade. Quaresma é tempo de deserto, tempo de silêncio, do silêncio
necessário para ouvir Deus. Não a escuta superficial, de quem já conhece todos
os textos Bíblicos, mas a escuta atenta; aquela escuta de quem se deixa educar
por Deus.
Inspirados
e iluminados pela Campanha da Fraternidade 2022, tematizada na educação,
sugerimos refletir o início da Quaresma em dois movimentos, na celebração da
Quarta-feira de Cinzas: educados por Deus e educados para Deus.
Educados
por Deus
A
educação é um processo de conversão, um permanente redirecionamento do olhar, a
capacidade de sentir a necessidade de mudar o coração (1L), o local onde moram
nossos desejos, sonhos e pensamentos. Num tempo que educa prometendo a riqueza
e a fama com receitas de felicidade existencial, nós, cristãos, sentimos a
necessidade de “olhar a vida com outros olhos para rasgar o coração” (1L) e ser
educado por Deus.
O
salmista (SR) entende bem o que significa ser educado por Deus, a começar pela
necessária mudança do coração, o centro das decisões existenciais segundo a
Bíblia: “criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo um espírito
decidido” para que possa sentir a alegria da vida e do viver com um espírito
generoso. Tendo o coração modelado no coração generoso de Deus.
Para
ser educado por Deus é importante considerar a imagem que fazemos de Deus,
porque Deus nos educa modelando nossos corações a partir do seu coração divino.
O Deus da Bíblia não é um Deus castigador, vingativo de nossos pecados; ao contrário,
é misericordioso, benigno, compassivo (1L), que merece nosso louvor e adoração
(SR). Educados por Deus para sermos misericordiosos, perdoadores, acolhedores
dos desafios da vida com a mesma generosidade do coração divino.
Educados para Deus
Um
modo bem original de se educar para Deus é ser cuidadoso para não escorregar na
idolatria da própria imagem; “não praticar a justiça na frente dos homens, para
ser visto” (E). Não viver para ser visto, mas dar sentido ao viver sendo
generoso a ponto de a mão direita não saber o que faz a esquerda (E). A
generosidade modela o coração de quem é educado por Deus e torna-se fruto de
quem é educado para Deus, educado para conduzir sua vida nos caminhos divinos.
Ser
educado para Deus tem a ver com a recompensa prometida por Jesus: ser visto por
Deus, ser considerado por Deus (E). Não é um simples prêmio, mas é o resultado
da capacidade de viver e amar como Deus ama. A recompensa de quem é educado
para Deus manifesta-se na paz interior e na alegria divina tomando conta do
coração, no sentido pleno da vida.
A
nossa fé, tantas vezes, é como cinza; marcada pela inconsistência. Tantas
vezes, nossa esperança é como cinza; leve e facilmente levada pelo vento.
Nossas mãos cristãs são como cinza; sempre repletas de compromissos pessoais. O
nosso mundo parece-se muito com a cinza: quanta poeira existencial. Nossa
comunidade, em alguns momentos, parece-se com a cinza; vive dispersa em busca
de resultados e sucessos que não deixam marcas e caminhos de quem educado por
Deus e para Deus.
Rezemos
pessoalmente e rezemos em comunidade, rezemos no silencio que marca este tempo
forte da Quaresma, para que o caminho e o retiro dos quarenta dias abram
espaços em nossos corações para docilmente sermos educados por Deus, caminhando
na estrada de Jesus.