Quando
Jesus pediu que seus discípulos preparassem a sala para celebrar a sua Páscoa
(Mt 26,15-20) não colocou pão e vinho sobre a mesa para ser adorado, mas para
comungar com eles um pacto de fidelidade em vista da sua missão evangelizadora
e salvadora. Participar da Eucaristia, desde a primeira ceia pascal celebrada
com Jesus, é assumir o compromisso de renovar a fidelidade ao projeto divino
presente no Evangelho. Mesmo que milagres aconteçam na Eucaristia, a finalidade
da ceia derradeira de Jesus com seus discípulos não se caracteriza como
"festinha de despedida" ou um “banquete de adeus”, mas como
participação e comunhão no projeto divino, presente na evangelização. Quem
participa e comunga a Eucaristia compromete-se em viver e testemunhar a
fidelidade ao Evangelho no modo de pensar, no modo de agir, no modo de se
comportar.
Hoje,
somos desafiados a considerar, não somente como celebramos a Eucaristia, mas
principalmente como vivemos a Eucaristia. As infidelidades mais graves para com
a Eucaristia não estão nas falhas rituais, mas na infidelidade para com o
projeto divino comungado e participado na Eucaristia. A expressão pode soar
agressiva para nossa sensibilidade histórica atual, mas a descrição da traição
de Judas, da infidelidade de Judas, não mede palavras: a infidelidade é ação do
diabo que comporta a traição e a entrega de Jesus à morte. Hoje, a infidelidade
trai a evangelização e a condena à morte. As infidelidades, provocadas na
incoerência entre o que se comunga e se participa na Eucaristia, são traições a
Jesus e à sua missão evangelizadora. Muitos exigem "Missas bonitas" e
até conseguimos realizar isso, mas de que vale uma Missa bonita se essa se
limita a alguns momentos de emocionalidade religiosa e não provocam atitudes de
fidelidade ao Evangelho no cotidiano? Não provocam transformações existenciais
evangelizadas em nossa comunidade e na sociedade?
Muitas
vezes, nós como Igreja, limitamos a Eucaristia unicamente ao preceito de Paulo,
como ouvimos na 2ª leitura. Realizamos uma celebração e, para muitos
celebrantes, infelizmente, a Missa termina com a bênção. Jesus desfaz essa concepção
de Eucaristia limitada à celebração com o gesto do lava-pés. Do ponto de vista
da Eucaristia, cuja instituição celebramos hoje, o serviço fraterno é uma
resposta de fidelidade ao projeto divino, de fidelidade à missão evangelizadora
de Jesus. A Eucaristia começa na celebração e continua com o lava-pés realizado
de tantas formas e em todos os espaços onde somos chamados a testemunhar o
Evangelho com nosso serviço. Um serviço que se ilumina na espiritualidade do
amor, do Mandamento Novo, de amar-nos uns aos outros como Jesus nos amou. Não
apenas amar por amar, mas amar como Jesus, quer dizer, vestindo na vida de cada
um de nós o avental do serviço inspirado no Evangelho. Na vida cristã, a
fidelidade ao Evangelho se traduz em serviço fraterno. A isso podemos chamar de
“Eucaristia fraterna”; ação de graças pela fraternidade que é renovada em cada
Eucaristia. Amém!