sábado, dezembro 30, 2023

ESTE TEMPO APELIDADO DE 2023 E 2024










O que este ano significou para você?

Agradecer é um gesto nobre e cada vez mais necessário em nossos dias. É de Deus que recebemos tudo o que temos, desde a vida ao alimento, a saúde, a força e a inteligência para trabalhar; o ar que respiramos, o nascer e o pôr do sol, a beleza da natureza. Enfim, “em tudo isso há a mão de Deus”. Por isso, louvor e gratidão a Ele, Autor de todo bem!

Mas também é preciso agradecer às pessoas! Para sermos mais felizes, precisamos reconhecer quem realmente somos, e isso nos leva a perceber que: sozinhos dificilmente chegaremos à realização, já que a nossa vida está entrelaçada com a vida de milhares de pessoas por este mundo afora.

Portanto, neste clima de celebração, dar um abraço e olhar nos olhos daqueles que dedicam sua vida para o nosso bem-estar, pode ser que tenha muito mais sentido do que enviar um cartão ou até mesmo um valioso presente.

 

O valor dos gestos de carinho e reciprocidade

Conheço uma senhora que, anos atrás, em um tempo como este, desabafou comigo: “Ganhei muitas coisas dos meus patrões neste fim de ano, cesta de Natal com vinho, panetone e até me deram um perfume. Mas de que adianta? Trabalhei até tarde todos os dias, e eles nem me disseram obrigada; nem se quer me desejaram Feliz Ano Novo. Isso para mim seria mais importante do que os presentes”.

Já faz um tempo que ouvi isso, mas até hoje me recordo do ar de tristeza que envolvia aquela senhora. Por isso, fiquemos atentos aos nossos gestos. Na verdade, o ser humano tem sede de amor, de reconhecimento, de afeto, de olhos nos olhos e palavras de incentivo; e isso não se compra com dinheiro, mas se dá gratuitamente e se transmite nos pequenos acontecimentos do dia a dia.

 

Deus lhe dá uma nova chance

Que bom saber que o ano novo se aproxima e nos dá uma nova chance de acertar! Reconhecer nossos limites já é um bom começo de uma vida nova. Afinal, depois dos festejos, a vida nos desafia a seguir viagem e nossas escolhas serão determinantes. Quem deseja recomeçar com leveza e paz, por exemplo, deve ser mais humilde e deixar muito peso para trás de si mesmo, optando pela novidade de cada dia. O homem que não se renova, perde-se, infantiliza-se, sente-se pesado e se cansa com pouca coisa.

É claro que, o passado tem o seu valor, mas não podemos nos prender a ele. Se o que aconteceu foi bom, ótimo! E nos lembremos com gratidão. Mas se não foi como desejávamos, devemos entregar nossas dores e decepções a Deus e não tentarmos carregá-las como se fossem um fardo em nossas costas.

Lembremo-nos de que nossa vida não termina aqui. Nascemos para o Alto e, neste mundo, tudo é passageiro. Portanto, entre um ano que termina e outro que começa, caminhar é preciso. Quando faltar forças, caminhe devagar, mas não pare. Por onde for, procure levar o essencial e mantenha seu olhar fixo na meta, lá no alto, mesmo que permaneça com os pés no chão.

Se achar necessário, pare um pouco e pense sobre sua vida. Não tenha medo de reconhecer os erros e acertos; acima de tudo, lute para dar a vitória ao amor. Só é feliz quem ama.

 

Leve para o novo só coisas boas

Deixe o ano que termina levar tudo o que for dor, solidão, mágoa e ressentimento. Leve para o ano novo somente o que é bom, justo e nobre. Soluções, respostas, abraços, sorrisos, liberdade, justiça, amor, paz e esperança. Tenha certeza: o mundo será melhor com sua colaboração!

Se começar o ano com gratidão, confiança na misericórdia de Deus e cheio do Espírito Santo, com o coração livre de todo apego às coisas vans e dispostos a amar mais do que ser amado, certamente seu ano será sempre novo e sua vida será mais feliz de janeiro a dezembro.

 

Fonte: ACI DIGITAL


quarta-feira, dezembro 27, 2023

MISSA DO DIA DO NATAL DE JESUS







João está descrevendo um novo começo. Se o livro do Gênesis registra a primeira criação, este primeiro versículo do Evangelho de João descreve a nova criação. Em ambas as ocasiões, o agente da obra criadora é o mesmo Verbo (ou Palavra) de Deus. “Palavra” e “luz” são duas formas de falar da mesma realidade, a saber, que Deus entrou na história humana para reconduzi-la à plenitude. Na mentalidade hebraica a palavra é o meio através do qual alguém se revela ou expressa seus pensamentos e vontade. Conforme o evangelista João, a melhor forma pela qual Deus se expressou foi através da existência humana de Jesus no mundo.

 

O verbo de Deus, ou seja, a Palavra de Deus, veio como a luz no meio das trevas (v. 5), isto porque a humanidade estava caminhando no erro e no pecado e, com o nascimento de Cristo começa uma nova criação, surge um novo tempo.  Contudo, esta luz não foi acolhida pacificamente no mundo.  A parte central do trecho do evangelho deste dia nos fala da luta dura, entre a luz vinda do céu e as trevas que continuam a envolver o mundo.  Trata-se das forças do mal que são os pecados e os erros que constituem as nossas trevas.

 

A luz veio ao mundo (v. 9). O Antigo Testamento se refere a Deus como a fonte da luz e da vida em várias passagens. O salmista indica que Deus é a fonte da vida e da luz (Sl 36,9). João, seguindo o conceito do salmista, afirma que o Verbo é a vida e a luz dos homens. João utiliza o termo “Verbo” em um sentido muito pessoal, de um Deus que ama, se compadece e se identifica com os seres humanos, tomando sobre si sua natureza, e sofrendo uma morte vergonhosa com o fim de prover um meio para a reconciliação do homem com seu Criador.

 

O termo “mundo” nesse texto significa o mundo dos homens e seus assuntos, o qual, concretamente, está submetido ao pecado e às trevas. A função da luz é basicamente combater ou vencer a obscuridade. Trevas é um termo metafórico que, no quarto evangelho se refere a tudo o que se opõe à mensagem de Jesus, é a obscuridade moral e espiritual. Por isso, o tema da primeira parte do quarto evangelho é a fé e a incredulidade é o resultado da influência das trevas.

 

A missão de Jesus no mundo foi uma espécie de conflito entre a luz e as trevas, culminando no Getsêmani e na cruz. Por isso, o verbo “vencer” cabe bem neste contexto. A luz brilha nas trevas e as trevas não tinham o poder para vencê-la (v.5).  A luz luta contra as trevas continuará, até a plena vitória da luz, vitória garantida pela ressurreição de Cristo (cf. Jo 16,33).

 

Mas o evangelista São João afirma: “Deus é luz e nele não há trevas” (1Jo 1,5). No Livro do Gênesis, lemos que, quando teve início o universo, “a terra era informe e vazia. As trevas cobriam o abismo…”.  E Deus disse: “Faça-se a luz! E a luz foi feita” (Gn 1,2-3). A Palavra criadora de Deus é Luz, fonte da vida. Tudo foi feito por meio da Palavra de Deus e sem esta Palavra nada foi feito de tudo quanto existe (cf. Jo 1,3). Esta é a razão pela qual tudo o que Deus criou é bom, por traz os vestígios de Deus.

 

Entretanto, quando Jesus nasceu da Virgem Maria, a mesma Luz veio ao mundo, como professamos na oração do Credo: “Deus de Deus, Luz da Luz”.  João Batista não era a luz, mas veio para ajudar o povo a descobrir a presença luminosa e consoladora da Palavra de Deus na vida de cada um. O testemunho de João Batista foi tão importante que muita gente pensava que Ele fosse o Cristo de Deus (cf. At 19,3; Jo 1,20).  Mas o “mundo” não reconheceu o Cristo e nem acolheu a sua mensagem.

 

Desde os tempos de Abraão e Moisés, Deus continua enviando seus mensageiros, mas o “mundo” continua rejeitando a Palavra de Deus. O evangelista São João indica que, na época de Jesus, tanto o império como a religião da época, ficaram fechados em si e não foram capazes de reconhecer e receber o Evangelho, que é a presença luminosa da Palavra de Deus.

 

O texto evangélico nos diz que a Palavra se fez carne, isto porque Deus não quer ficar longe de nós. Por isso, a sua Palavra chegou mais perto ainda e se fez presente no meio de nós na pessoa de Jesus. Literalmente o texto diz: “A Palavra se fez carne e montou sua tenda no meio de nós!”. No tempo do Êxodo, lá no deserto, Deus vivia numa tenda, no meio do povo (cf. Ex 25,8). Agora, a tenda onde Deus mora conosco é Jesus. Jesus veio revelar quem é este nosso Deus que está presente em tudo, desde o começo da criação.

 

A perícope evangélica deste dia evoca ainda a profecia de Isaías, segundo a qual a Palavra de Deus é como a chuva que vem do céu e para lá não volta sem ter realizado a sua missão aqui na terra (cf. Is 55,10-11). Assim é a caminhada da Palavra de Deus. Ela veio de Deus e desceu entre nós na pessoa de Jesus. Através da obediência de Jesus ela realizou sua missão aqui na terra. Na hora de morrer, Jesus entregou o Espírito e voltou para o Pai. Cumpriu a missão que tinha recebido.

 

Na noite de Natal, Jesus se fez Luz para iluminar os nossos caminhos.  Cristo vem trazer a luz também a nós, para que possamos sair da escuridão e das trevas.  Que esta luz de Cristo possa iluminar cada ser humano e fazer brilhar a esperança e a consolação especialmente para os que vivem nas trevas da miséria, da injustiça, do ódio, da desunião.  Jesus veio ao mundo para resgatar o ser humano do poder das trevas e reconduzi-lo à luz, mediante uma vida nova.

 

Peçamos a Maria, aquela que chamamos de Bem aventurada, porque acreditou nas palavras do Senhor, que ela interceda sempre por nós e nos faça sempre caminhar na estrada de Jesus, a única via iluminada pela luz do amor e da paz.  Assim seja.







MISSA DA NOITE DO NATAL DE JESUS





“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz.” (Is 9,1). Assim inicia a Liturgia da Palavra da Missa da noite de Natal. O Natal, a solenidade do nascimento de Jesus, o Salvador, é a festa da luz! Ele mesmo, na sua pregação dirá “Eu sou a luz do mundo!” (Jo 8,12). Os enfeites luminosos de Natal com os quais enfeitamos, por costume, nossas casas também são um símbolo disso – a luz veio ao mundo.

 

Para entendermos a grandiosidade da luz precisamos ver o terror da escuridão. Só sentimos a importância da lâmpada acesa quando a energia acaba, não é verdade? O profeta diz que essa escuridão é algo trágico: “para os que habitavam na sombra da morte, uma luz resplandeceu.” (Is 9,1). Trevas são morte. Essa escuridão, e é isso que precisamos compreender, não é um fato exterior ao homem. Jesus não vem como uma luz de um poste da praça, Ele vem como luz do ser humano. A humanidade sem Deus habita na região da morte! A situação que o pecado colocou o homem é de oposição à luz. A oração do início da Missa faz o padre dizer ao Pai do céu: “Ó Deus que fizeste resplandecer esta noite santíssima…” Queridos irmãos, esta noite não significa só o céu escuro, mas, de algum modo, nós, humanidade sem comunhão com Deus. O estado da humanidade antes de Cristo era de escuridão e morte, esse também é o estado da alma em pecado. Sem Deus o fim é morte, sem Deus, sem estar em comunhão com sua luz, somos trevas, somos maus e sem rumo, e mesmo que materialmente pareça tudo bem e estável, divertido e cômodo, estamos sem rumo e sem vida verdadeira. A falta da consciência do horror que é o pecado e a escuridão interior que é a ausência de Deus, podem fazer com que o homem não valorize a luz. Nossa época é marcada pela falta de senso do pecado. O mal tem sido exaltado, aplaudido e ensinado, as trevas parecem dominar e ganhar espaço, parecem intransponíveis e insuperáveis. A versão do homem em sua maldade e orgulho parece ser a vitoriosa e justa.

 

Mas, queridos irmãos, se olhamos para as trevas não é para desanimarmos, é para nos maravilharmos com a luz! O povo que andava nas trevas viu uma grande luz! Deus não deixou o homem entregue ao mal. O Evangelho da Missa do dia de Natal diz que “a luz veio para os seus, mas os seus não o acolheram.” (Cf. Jo 1,11). Apesar do poder das trevas e do fechamento dos corações, Deus que não nos trata como exigem nossas faltas, e nos ama, rompe o aparente poder do mal, atravessa a suposta onipotência da sombra da morte e vem nos abrir a possibilidade de ver a luz, de comungar a luz! Como é interessante ver na cena do Natal, narrada pelos Evangelhos, que frente aos exércitos de Herodes, às fechaduras esnobes das hospedarias lotadas e às condições desfavoráveis de clima, tempo e espaço, Deus reina, o Príncipe da Paz chega (Cf. Is 9), Ele vem frágil precisado de colo, seus mantos reais são faixais que trouxe Maria, sua guarda é José, sua corte os pobres pastores e os estrangeiros Magos. Deus desce manso, afável, pequeno para convidar-nos a seu amor salvador. Ele vence nossa escuridão e orgulho, nossa ilusão de sermos poderosos e autossuficientes com sua pobreza, humildade e frágil dependência. Ele não quer nos deixar nas sombras da morte. Mesmo que não percebamos a escuridão que nos metemos, Ele, nos amou por primeiro (Cf. 1Jo 4,19).

 

“Ah! Se rompesses os céus e descesses! As montanhas se desmanchariam diante de ti.” (Is 63,19b). A profecia escutada no início do Advento se cumpriu. Ele rompeu o céu, atravessou nossa escuridão para nos encontrar! Desmanchemos as montanhas, o orgulho, para O acolhermos. São Paulo na segunda leitura da Missa da noite santa parece dar-nos o caminho para acolhermos a luz, diz que Jesus Cristo, “nos ensinou a abandonar a impiedade e as paixões mundanas” (Cf. Tt 2). O abaixamento de Deus, o seu esvaziamento para chegar até nós, para nos comunicar sua luz, é um convite do Rei a sairmos da podridão, do vazio e do escuro para adentrar em sua luz restauradora e impressionante. Deixar a luz entrar é, consequentemente, fazer a escuridão sair. O menino singelo, da manjedoura, ergue os braços para que O acolhamos, “um menino nos foi dado.” (Is 9), nasceu, para nós, um Salvador, como diz o responsório da Missa do dia de Natal. Abramo-nos à luz, não nos acostumemos com as trevas! Deus vem para nos resgatar, não achemos que estamos seguros sem Ele, sem unidade verdadeira com sua doutrina. Entremos em sua luz!

 

Hoje, ao olhamos de modo mais fixo o presépio, deve nos chamar atenção as figuras de Maria e José, eles são modelos de abertura total a Deus. N. Senhora e S. José mostram sua docilidade sendo entregues à providência, se deixando conduzir, confiando, obedecendo. Fé é obediência! Por estarmos acostumados com as trevas, muitas vezes se abrir à luz parece mais inseguro, menos sensato e garantido, mas se obedecermos ao Rei da manjedoura, sentiremos seu afago e, um dia, envoltos em sua luz, viveremos no Reino eterno onde qualquer sombra da morte já foi superada e a fragilidade foi mudada em onipotência.

 

Que N. Senhora e S. José nos ajudem a nos aproximarmos da gruta, e escutarmos acolhendo o convite de Jesus – “vinde, eu sou a luz do mundo.” Amém!










IV DOMINGO DO ADVENTO

 




Também o Evangelho deste domingo, na linha das outras duas leituras, afirma, de forma clara e insofismável, que Deus ama os homens e, na sua solicitude de Pai, tem um projeto de vida plena para lhes oferecer. Esta certeza tem de servir de âncora a toda a nossa vida e acompanhar cada passo que damos. Esta certeza muda a nossa perspetiva das coisas e permite-nos ver a vida com as cores da alegria, da confiança e da esperança.

Como é que esse Deus cheio de amor pelos seus filhos intervém na história humana e concretiza, dia a dia, a sua oferta de salvação? A história de Maria de Nazaré, bem como a de tantos outros “chamados”, responde, de forma clara, a esta questão: é através de homens e mulheres atentos aos projetos de Deus e de coração disponível para o serviço dos irmãos, que Deus atua no mundo, que Ele manifesta aos homens o seu amor, que Ele convida cada pessoa a percorrer os caminhos da felicidade e da realização plena. Já pensámos que é através dos nossos gestos de amor, de partilha e de serviço que Deus Se torna presente no mundo e transforma o mundo?

Neste domingo que precede o Natal de Jesus, a história de Maria mostra como é possível fazer Jesus nascer no mundo: através de um “sim” incondicional aos projetos de Deus. É preciso que, através dos nossos “sins” de cada instante, da nossa disponibilidade e entrega, Jesus possa vir ao mundo e oferecer aos nossos irmãos – particularmente aos pobres, aos humildes, aos infelizes, aos marginalizados – a salvação e a vida de Deus.

Outra questão é a dos instrumentos de que Deus se serve para realizar os seus planos… Maria era uma jovem mulher de uma aldeia obscura dessa “Galileia dos pagãos” de onde não podia “vir nada de bom”. Não consta que tivesse uma significativa preparação intelectual, extraordinários conhecimentos teológicos, ou amigos poderosos nos círculos de poder e de influência da Palestina de então. Apesar disso, foi escolhida por Deus para desempenhar um papel primordial na etapa mais significativa na história da salvação. A história vocacional de Maria deixa claro que, na perspetiva de Deus, não são o poder, a riqueza, a importância ou a visibilidade social que determinam a capacidade para levar a cabo uma missão. Deus age através de homens e mulheres, independentemente das suas qualidades humanas. O que é decisivo é a disponibilidade e o amor com que se acolhem e testemunham as propostas de Deus.






sábado, dezembro 23, 2023

CUMPRE-SE COM UMA SÓ MISSA DOIS PRECEITOS REFERENTES A DOIS DIAS DISTINTOS E CONSECUTIIVOS?

 





CUMPRE-SE COM UMA SÓ MISSA DOIS PRECEITOS REFERENTES A DOIS DIAS DISTINTOS E CONSECUTIIVOS?

23 de dezembro de 2023

 

Paróquia São Conrado de Constança




Este ano teremos 2 solenidades litúrgicas (Natal e Santa Maria) que caem em uma segunda-feira. Precisamos ir à Missa no domingo e na segunda?

 

Este ano, as solenidades de preceito do Natal do Senhor (25 de dezembro) e Santa Maria Mãe de Deus (1 de janeiro) serão celebradas na segunda-feira. Portanto, poderão ser celebradas nas vésperas dos dias anteriores, que serão domingos… Daí, muitos fieis perguntam: com esta única missa, poder-se-iam cumprir os dois preceitos (o preceito do domingo e o preceito da segunda-feira)?

 

Antes de responder a pergunta, cabe lembrar que o preceito dominical e festivo é de direito eclesiástico. Em outras palavras, a Igreja, como responsável por determinar os atos de culto necessários para que o fiel cumpra as obrigações decorrentes da virtude da religião, especifica em quais dias é obrigatória a assistência da Santa Missa.

 

De fato, quando criou a possibilidade do cumprimento do preceito na missa pré-festiva, a Congregação para os ritos estabeleceu que “onde, por concessão da Sé Apostólica, permite-se que na tarde do sábado precedente se possa cumprir o preceito da missa dominical, os pastores instruam os fieis cuidadosamente sobre o significado dessa concessão e procurem que não se perca, por isso, o sentido do domingo” (Congregação para os ritos, Instrução Eucharisticum Mysterium [15.08.1967], n. 28).

 

Note-se que se trata tão somente de uma concessão dada pela Igreja, com vistas a facilitar o cumprimento do preceito, em que se encarece que os fieis sejam esclarecidos sobre a importância de não se obscurecer o sentido do próprio domingo ou dos dias festivos. Em outras palavras, a concessão é dada em benefício de cada domingo ou dia festivo, e não o contrário.

 

O Código de Direito Canônico recolhe essa disposição quando afirma que “cumpre o preceito de participar na Missa quem a ela assiste onde quer que se celebre em rito católico, quer no próprio dia festivo quer na tarde do dia antecedente” (c. 1248, § 1).

 

Em 1974, a Conferência Episcopal dos Estados Unidos apresentou à Congregação para o Clero uma pergunta (dubium) sobre a possibilidade, em caso de dias de preceito confinantes, de a missa pré-festiva do segundo dia de preceito servir para cumprir o preceito do dia anterior simultaneamente. Abaixo, o texto da resposta.

 

Cumprimento das festas e do preceito da Missa Dominical Em resposta às perguntas que recebeu, a Congregação para o Clero esclareceu a questão do cumprimento simultâneo das obrigações das festas e do domingo por atendimento à missa da véspera. A título de exemplo, apresentou-se o seguinte dubium: “Se os fiéis que comparecerem à missa no sábado, 15 de agosto, cumprirão o duplo preceito de ouvir a missa no sábado, festa da Assunção, e do domingo, 16 de agosto”? A Congregação respondeu “Negativo” ao caso acima e a todos os casos análogos. O indulto pelo qual a faculdade é dada para cumprir a obrigação de comparecer à missa na noite de um sábado ou de um dia de festa de preceito é geralmente concedido com vistas a tornar mais fácil o cumprimento de tal preceito, sem prejuízo de cumprir cada dia santo do Senhor (Congregação para o Clero, Responso in USCCB, 35 Years of the BCL Newsletter, p. 450).

 

No mesmo sentido, a Congregação para o Culto Divino, legislando acerca do formulário que se deveria escolher para a Santa Missa nesses casos, relevou que “uma dúvida surgiu quando uma certa solenidade obrigatória ocorre em um sábado ou uma segunda-feira. Pois na noite do primeiro dia da festa (sábado ou domingo) há uma sobreposição de dias litúrgicos porque ‘a celebração do domingo e das solenidades começa já na noite do dia do preceito’, e na mesma celebração alguns dos fiéis cumprem o preceito referente ao dia atual e outros o que pertence ao dia seguinte” (Congregação para o culto divino e a disciplina dos sacramentos, De missa diei dominicæ et festi de præcepto vespere diei præcedentis anticipata in Notitiæ 10 [1974], p. 222).

 

Ou seja, a Santa Sé, neste caso, não cogita a possibilidade de se cumprir na mesma Missa os dois preceitos, supondo, portanto, que os fieis devam assistir uma Missa relativamente a cada dia de preceito.

 

Sendo assim, em meu entender, como duas idênticas obrigações requerem duas distintas satisfações, parece-me que ao fiel é moralmente requerida a assistência a duas missas de preceito, nas condições habituais que se requer para as situações análogas (possibilidade de dispensa por parte do pároco, não obrigatoriedade cum grave incommodo etc.).

 

Para mim, a questão é relativamente simples e a complexidade se deve ao fato de se misturarem duas perspectivas que não se deveriam confundir: a perspectiva moral e a perspectiva litúrgica.

 

– Perspectiva moral

 

Em dois dias de preceito confinantes, o fiel tem duas obrigações distintas e, portanto, precisa participar de duas missas, cada uma no período relativo ao preceito e independentemente de qual missa se celebre (por exemplo, poderia ser uma missa de funeral, uma missa de formatura, uma missa do dia ou o formulário do dia seguinte, tanto faz).

 

Há certo perigo de confusão pois existe uma faixa de tempo em que se podem cumprir os dois preceitos (na tarde do primeiro dia de preceito, que corresponde à tarde da véspera do preceito seguinte).

 

Daí, alguns moralistas são da opinião de que uma missa só seria suficiente para “matar” os dois preceitos. Eu discordo dessa opinião, a qual reputo pouco provável, tanto por analogia com outras situações, quanto por falta de uma lei eclesiástica que positivamente resolva o problema nestes termos, quanto porque me parece que realmente, tratando-se de dois dias distintos, existem duas obrigações não redutíveis a uma.

 

– Perspectiva litúrgica

 

Aqui se trata do critério que o sacerdote utiliza para escolher qual formulário da Missa ele pretende usar. Em outras palavras, este é um assunto do padre, com que o fiel não se deveria preocupar tanto.

 

Em dia de preceito, a Igreja autoriza o fiel a cumpri-lo na tarde do dia anterior e, por isso, os padres podem usar o formulário do dia seguinte na tarde da véspera. Existem algumas solenidades com formulário de vigília e, neste caso, usa-se este e não o do dia.

 

Contudo, em dias de preceito confinante, a tarde do primeiro dia coincide com a tarde da véspera do posterior e, então, o sacerdote precisa usar algum critério para escolher qual missa ele irá celebrar.

 

Existem, basicamente, dois critérios: o critério litúrgico, em que a Igreja diz qual festa prevalece sobre a outra; mas também existe o critério pastoral, por exemplo, para os casos em que a comunidade celebrou apenas uma missa naquele dia (então, pode fazer sentido não usar o critério estritamente litúrgico e usar, na noite do dia, a missa do próprio dia e não a do dia seguinte).

 

De qualquer modo, a antecipação da missa do dia posterior para o anterior não é estritamente obrigatória, deve-se seguir um critério de conveniência.

 

– Conclusão pastoral

 

Às vezes, o liturgicismo moderno cansa, pois os fieis querem pontificar sobre um assunto para o qual não estão preparados. As leis litúrgicas não são inflexíveis e, ao mesmo tempo, existem muitas teorias e usos inventados que circulam pelas sacristias com o peso de leis.

 

As normas litúrgicas existem para o celebrante e seus auxiliares. O povo fiel deve procurar servir a Deus com amor e devoção, sendo o mais assíduo possível aos sacramentos. Quem puder participar de três, quatro, cinco missas, faço-o com todo amor; quem puder apenas das duas obrigatórias, faça-o também com amor. O importante é servirmos a Deus com dedicação, pois o “Senhor pousa os seus olhos sobre aqueles que o temem”.

 

Pe. Dr. José Eduardo de Oliveira e Silva, Doutor em Teologia Moral pela PUSC (Roma)

 

 

Fonte: presbiteros.org.br


sexta-feira, dezembro 22, 2023

JESUS NASCEU EM 25 DE DEZEMBRO? FOI UMA DATA ARBITRÁRIA, INVENTADA PELA IGREJA?












Na verdade, esta data nada tem de arbitrária. Antes, possui profundas raízes bíblicas, e é ancorada na tradição da Igreja.

 

Como fazemos para estabelecer o dia do nascimento de Jesus? A contagem dos dias começa pelo anúncio do nascimento de São João Batista. A Bíblia diz:

 

“Nos tempos de Herodes, rei da Judéia, houve um sacerdote por nome Zacarias, da classe de ABIAS; sua mulher, descendente de Aarão, chamava-se Isabel. Ora, exercendo Zacarias diante de Deus as funções de sacerdote, na ordem da sua classe, coube-lhe por sorte, segundo o costume em uso entre os sacerdotes, entrar no santuário do Senhor e aí oferecer o perfume” (Lc 1,5.8-9).

 

Pois bem, mas quando era o turno da classe de Abias?

 

No Primeiro Livro de Crônicas (1Crônicas 24,1-7.19), está estabelecida a ordem das 24 classes sacerdotais. Cada uma das classes deveria servir duas vezes ao ano, por uma semana, de sábado a sábado. A ordem sorteada e imutável foi a seguinte:

 

Joiari;

Jedei;

Harim;

Seorim;

Melquia;

Maimã;

Acos;

ABIAS;

Jesua;

Sequenia;

Eliasib;

Jacim;

Hofa;

Isbaab;

Belga;

Emer;

Hezir;

Afses;

Feteia;

Ezequiel;

Jaquim;

Gamul;

Dalaiau;

Maziau.

Alguns irmãos se apegam a esta ordem, alegando que não corresponde a uma possibilidade de que o Natal fosse em dezembro, pois o ano religioso judaico, começando por volta de março, daria ao 8º Turno, provavelmente, o final do mês de junho, começo do mês de julho. Daí, fazendo os cálculos, Jesus teria nascido em finais de setembro, inícios de outubro, pela festa dos Tabernáculos.

 

Contudo, ninguém se pergunta se a ordem dos turnos, nos tempos de Cristo, estava estabelecida exatamente assim. A pergunta é razoável, pois, desde os tempos da construção do Templo, o culto já havia sido interrompido diversas vezes, e um descompasso entre os turnos e o calendário poderia ter-se dado. E, por incrível que pareça, foi isto mesmo que aconteceu!

 

Uma especialista francesa, Annie Jaubert, escreveu um artigo intitulado “Le calendrier des Jubilées et de la secte de Qumran: Ses origines bibliques”, in Vetus Testamentum, Suppl. 3 (1953) pp. 250-264, em que estudou o calendário do Livro dos Jubileus, um apócrifo hebraico muito importante, do final do século II a.C. Como muitos fragmentos desse calendário foram encontrados entre os escritos de Qumram, vê-se que ele estava em uso nos tempos de Jesus. Este calendário, também, é solar, e não dava os nomes dos meses, mas apenas seu número de sucessão. E a mesma estudiosa publicou outros artigos importantes sobre isso. Veja-se o verbete “Calendario di Qumran”, in Enciclopedia della Bibbia 2 (1969) pp. 35- 38; e uma célebre monografia, “La date de la Cène,Calendrier biblique et liturgie chrétienne”, Études Bibliques, Paris 1957.

 

Por outro lado, o especialista Shemarjahu Talmon, da Universidade Hebraica de Jerusalém, trabalhou sobre os escritos de Qumram e sobre o calendário do Livro dos Jubileus, e conseguiu precisar a ordem semanal dos 24 turnos. Os resultados desta pesquisa então no artigo “The Calendar Reckoning of the Sect from the Judean Desert. Aspects of the Dead Sea Scrolls”, in Scripta Hierosolymitana, vol. IV, Jerusalém 1958, pp. 162-199.

 

Na lista que o Prof. Talmon reconstruiu, o turno de ABIAS (Ab-Jah), prescrita duas vezes por ano, acontecia assim:

 

a primeira vez, de 8 a 14 do terceiro mês do calendário; e

a segunda vez de 24 a 30 do oitavo mês do calendário.

 

Ora, segundo o calendário solar (não o lunar, como o atual calendário judeu), esta segunda vez se data assim [*]: o 2º Turno de Abias correspondia aos dias de 24 a 30 de setembro. Portanto, quando São Lucas recolhe esta indicação, sendo ele um atencioso narrador da história, nos dá a possibilidade de reconstruir a data histórica do nascimento de Jesus.

 

Agora, resta-nos fazer as contas:

 

O anúncio do nascimento de São João Batista seria no dia 24 de setembro (no calendário ortodoxo, esta festa se celebra no dia 23 de setembro, mesmo dia de São Pio de Pietrelcina). Note-se que esta Festa é muito antiga na Tradição da Igreja Oriental.

Portanto, seis meses depois, seria o anúncio a Nossa Senhora, no dia 25 de março (festa litúrgica da Anunciação).

Três meses depois, o nascimento de São João Batista (dia 24 de junho, festa litúrgica do seu natal).

E seis meses depois, 25 de dezembro, o nascimento de Jesus (Solenidade do Natal do Senhor).

Portanto, essas teorias de que o Natal surgiu para cristianizar a festa pagã do “Sol Invicto”, do solstício de verão etc., não passam de banais conjecturas.

 

Pe. José Eduardo

 

[*] Sobre estes estudos, veja-se o artigo de Tommaso Federici, “25 dicembre, una data storica”, in “30 giorni” [11/2000].

 

Fonte: presbiteros.org.br


segunda-feira, dezembro 18, 2023

III DOMINGO DO ADVENTO






A “voz”, através da qual Deus fala, convida-nos a endireitar “o caminho do Senhor”. Na linguagem do Evangelho segundo João, é um convite a deixar “as trevas” e a nascer para “a luz”. Implica, na vida prática, abandonar a mentira, os comportamentos egoístas, as atitudes injustas, os gestos de violência, os preconceitos, o comodismo, a autossuficiência, tudo o que desfigura  a nossa vida, nos torna escravos e nos impede de chegar à verdadeira felicidade. Em termos pessoais, quais são as mudanças que eu tenho de operar na minha existência para passar das “trevas” para a “luz”? O que é que me escraviza e me impede de ser plenamente feliz? O que é que em mim gera desilusão, frustração, desencanto, sofrimento?

A “voz”, através da qual Deus fala, convida-nos a olhar para Jesus, pois só Ele é “a luz” e só Ele tem uma proposta de vida verdadeira para nos apresentar. À nossa volta abundam os “vendedores de sonhos”, com propostas de felicidade “absolutamente garantida”. Atraem-nos, seduzem-nos, manipulam-nos, escravizam-nos e, quase sempre, deixam-nos decepcionados e infelizes, mais angustiados, mais perdidos, mais frustrados. João garante-nos: só Jesus é “a luz” que liberta os homens da escravidão e das trevas e lhes oferece a vida verdadeira e definitiva. A quem dou ouvidos: às propostas de Jesus, ou às propostas da moda, do politicamente correto, das pessoas “in” que aparecem dia a dia nas colunas e nas redes sociais e que ditam o que está certo e está errado à luz dos critérios do mundo? Que significado é que Jesus e a sua proposta assumem no meu dia a dia?

Jesus marca realmente a minha existência? Os valores que Ele veio propor têm peso e impacto nas minhas decisões e opções? Quando celebro o nascimento de Jesus, celebro um acontecimento do passado que deixou a sua marca na história, ou celebro o encontro com alguém que é “a luz” que ilumina a minha existência e que enche a minha vida de paz, de alegria, de liberdade?

O “homem chamado João”, enviado por Deus “para dar testemunho da luz”, convida-nos a pensar sobre a forma de Deus atuar na história humana e sobre as responsabilidades que Deus nos atribui na recriação do mundo… Deus não utiliza métodos espetaculares e assombrosos para intervir na nossa história e para recriar o mundo; mas Ele vem ao encontro dos homens e do mundo para os envolver no seu amor através de pessoas concretas, com um nome e uma história, pessoas “normais” a quem Deus chama e a quem confia determinada missão. A todos nós, seus filhos, Deus confia uma missão no mundo, a missão de dar testemunho da “luz” e de tornar presente, para os nossos irmãos, a proposta libertadora de Jesus. Tenho consciência de que Deus me chama e me envia ao mundo? Como é que eu respondo ao chamamento de Deus: com disponibilidade e entrega, ou com preguiça, comodismo e instalação?

A atitude simples e discreta com que João se apresenta é muito sugestiva: ele não procura atrair sobre si as atenções, não usa a missão para a sua glória ou promoção pessoal, não busca a satisfação de interesses egoístas; ele é apenas uma “voz” anônima e discreta que recorda, na sombra, as realidades importantes. João é uma tremenda interpelação para todos aqueles a quem Deus chama e envia… Com ele, o profeta – isto é, todo aquele a quem Deus chama e a quem confia uma missão – deve aprender a ficar na sombra, a ser discreto e simples.

A atitude dos fariseus e dos líderes judaicos – cheios de preconceitos, preocupados em manter os seus esquemas de poder e instalação, acomodados nos seus privilégios – impede-os de conhecer “a luz” que está a chegar. Trata-se de um aviso, para nós: quando nos instalamos no nosso comodismo, no nosso bem-estar, na nossa autossuficiência, fechamos o coração à novidade e aos desafios que Deus nos faz. Dessa forma, não reconhecemos Jesus quando Ele vem ao nosso encontro e não O deixamos entrar na nossa vida. A Palavra neste tempo de Advento convida-nos à desinstalação, a fim de que o Senhor que vem possa nascer e permanecer na nossa vida.

 








sexta-feira, dezembro 15, 2023

SÃO JOÃO PAULO II E O COMUNISMO










SÃO JOÃO PAULO II E O COMUNISMO

15 de dezembro de 2023

 

Paróquia São Conrado de Constança



É verdade que, desde 1945, as armas silenciam no Continente europeu; mas a verdadeira paz — deve-se lembrar — nunca é o resultado da vitória militar, mas implica a superação das causas da guerra e a autêntica reconciliação entre os povos. Durante muitos anos, de fato, houve, na Europa e no mundo, mais uma situação de não-guerra do que de paz verdadeira.

Metade do Continente caiu sob o domínio da ditadura comunista, enquanto a outra metade se organizava para se defender contra tal perigo. Muitos povos perdem o poder de dispor de si próprios, veem-se encerrados nos limites sufocantes de um império, enquanto se procura destruir a sua memória histórica e a raiz secular da sua cultura. Multidões enormes são forçadas a abandonar a sua terra e violentamente deportadas…

…No fim da II Guerra Mundial, porém, um tal desenvolvimento está ainda em formação nas consciências, e o dado mais saliente é o estender-se do totalitarismo comunista sobre mais de metade da Europa e parte do mundo. A guerra, que deveria restituir a liberdade aos indivíduos e restaurar os direitos dos povos, terminou sem ter conseguido estes fins; pelo contrário, acabou de um modo que, para muitos povos, especialmente para aqueles que mais tinham sofrido, abertamente os contradiz. Pode-se dizer que a situação criada deu lugar a diversas respostas.

Em alguns Países, e sob alguns aspectos, assiste-se a um esforço positivo para reconstruir, depois das destruições da guerra, uma sociedade democrática e inspirada na justiça social, a qual priva o comunismo do potencial revolucionário, constituído por multidões exploradas e oprimidas.

Estas tentativas procuram em geral preservar os mecanismos do livre mercado, assegurando através da estabilidade da moeda e da firmeza das relações sociais, as condições de um crescimento económico estável e sadio, no qual as pessoas, com o seu trabalho, podem construir um futuro melhor para si e para os próprios filhos. Simultaneamente, estes países procuram evitar que os mecanismos de mercado sejam o único termo de referência da vida associada e tendem a submetê-los a um controle público que faça valer o princípio do destino comum dos bens da terra. Uma certa abundância de ofertas de trabalho, um sólido sistema de segurança social e de acesso profissional, a liberdade de associação e a ação incisiva do sindicato, a previdência em caso de desemprego, os instrumentos de participação democrática na vida social, neste contexto, deveriam subtrair o trabalho da condição de «mercadoria» e garantir a possibilidade de realizá-lo com dignidade.

Existem, depois, outras forças sociais e movimentos de ideias que se opõem ao marxismo com a construção de sistemas de «segurança nacional», visando controlar de modo capilar toda a sociedade, para tornar impossível a infiltração marxista. Exaltando e aumentando o poder do Estado, elas pretendem preservar o seu povo do comunismo; mas, fazendo isso, correm o grave risco de destruir aquela liberdade e aqueles valores da pessoa, em nome dos quais é preciso opor-se àquele.

Outra forma de resposta prática, enfim, está representada pela sociedade do bem-estar, ou sociedade do consumo. Ela tende a derrotar o marxismo no terreno de um puro materialismo, mostrando como uma sociedade de livre mercado pode conseguir uma satisfação mais plena das necessidades materiais humanas que a defendida pelo comunismo, e excluindo igualmente os valores espirituais. Na verdade, se por um lado é certo que este modelo social mostra a falência do marxismo ao construir uma sociedade nova e melhor, por outro lado, negando a existência autónoma e o valor da moral, do direito, da cultura e da religião, coincide com ele na total redução do homem à esfera do económico e da satisfação das necessidades materiais”.


segunda-feira, dezembro 11, 2023

II DOMINGO DO ADVENTO






João Batista se apresenta no deserto da Judeia e, fazendo eco de um antigo oráculo de Isaías, brada: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas” (Is 40,3). Esta mensagem atravessa os séculos e chega até nós, repleta de extraordinária atualidade. Aquele que saltou de alegria no ventre de sua mãe, diante da voz da jovem de Nazaré, nos rompe, com sua voz, a surdez do coração e nos força a abrir os olhos para ver Aquele que sempre se aproxima.

A mensagem de conversão que João Batista proclamava para preparar o caminho ao Senhor encontra eco na exortação da segunda leitura: Enquanto estão esperando e apressando a chegada do dia do Senhor, devemos ser perfeitos na santidade de vida e na piedade para que Deus os encontre em paz com Ele (cf. 2Pd 3,8-14).  É certo que o “o dia do Senhor” virá, e virá inesperadamente; será para cada homem uma surpresa.  Por isso, o problema da conversão, o problema do encontro e de estar com Deus é questão de cada dia; pois cada dia pode ser para cada um o “dia do Senhor”.

Este empenho de conversão funda-se na certeza de que a fidelidade de Deus nunca enfraquece, não obstante tudo o que podemos encontrar de negativo em nós e em nosso redor. Eis o motivo pelo qual o Advento é tempo de expectativa e de esperança. A Igreja nos faz lembrar neste domingo a promessa confortadora do profeta Isaías: “Todos os homens verão a salvação de Deus” (cf. Is 40, 5).

Nós também devemos preparar o nosso coração, o nosso interior para a chegada do Senhor.  O tempo do Advento é composto por quatro semanas que a Igreja nos concede como preparação para a chegada do Natal. O texto evangélico nos exorta: “Preparai o caminho do Senhor” (Mc 1,2). Mais uma vez ressoa com vigor este convite. Acolhamos este apelo. Um brado profético que continua a repercutir-se nos séculos. Também o sentimos hoje, enquanto a humanidade prossegue o seu caminho na história.  A todos nós João Batista continua a indicar o caminho que é preciso percorrer.

A aproximação do Natal nos estimula a uma atitude mais vigilante de espera do Senhor que vem, enquanto a liturgia de hoje nos apresenta João Batista como um exemplo a imitar. Precisamos limpar o caminho.  E um modo concreto para a concretização desta conversão que o texto evangélico prescreve, pode ser também o Sacramento da Reconciliação, para que o pecado seja eliminado e devidamente expiado.  Só assim estaremos dando espaço para o Senhor em nossa vida e permitir que Ele possa nascer no íntimo da nossa vida.

Neste tempo de advento, lembremos também da Virgem Maria, aquela que é bem-aventurada porque acreditou na mensagem do Senhor. Em Maria, preservada de qualquer pecado e repleta de graça, Deus encontrou a terra fértil, na qual depositou a semente da nova humanidade. A ela, preservada da culpa e repleta da graça divina, colocamos a nossa esperança.  Peçamos a sua intercessão por cada um de nós, para que possamos preparar com dignidade os caminhos do Senhor e a endireitar as suas veredas a fim de que, um dia, possamos contemplar a salvação que vem de Deus. Assim seja.