Um
dia, meus caros em Cristo, passaremos do roxo das lágrimas desta vida, para o
branco da Glória eterna dos que, revestidos da Glória do Cordeiro, haverão de
segui-Lo para sempre! De Quaresma em Quaresma e de Páscoa em Páscoa, passaremos
da Quaresma deste mundo para a Páscoa da Glória eterna!
Mas,
detenhamo-nos um pouco no Tabor do Evangelho hodierno. Ele é prenúncio, uma
misteriosa antecipação da Ressurreição.
Com
Sua bendita Transfiguração, Jesus nosso Senhor deseja preparar os Seus para as
dores da Paixão – do mesmo modo que a Igreja nos deseja alentar e motivar para
as renúncias e observâncias quaresmais. Por isso mesmo, Pedro, Tiago e João, os
três que estão no Tabor, são os mesmos que estarão no Jardim das Oliveiras. Por
isso também o Evangelho de hoje termina com uma alusão à Ressurreição de Jesus
dentre os mortos e, o relato da transfiguração em Lucas afirma que “Jesus
falava de Sua partida que iria consumar-se em Jerusalém” (Lc 9,30).
Eis:
Moisés e Elias, a Lei e os Profetas dão testemunho da Paixão do Senhor: tudo
estava no misterioso desígnio de Deus! Após a Ressurreição, isto ficará claro:
“’Não era necessário que o Cristo sofresse tudo isso para entrar na sua
glória?’ E, começando por Moisés e passando por todos os Profetas,
explicou-lhes em todas as Escrituras, as passagens que se referiam a Ele” (Lc 24,26-27). Eis que mistério: a Lei
(Moisés) e os Profetas (Elias) dão testemunho de Jesus e aparecem iluminados
por Ele. Somente Nele, na luz da Sua Cruz e Ressurreição, o Antigo Testamento
encontra sua plenitude e sua luz!
Sendo
assim, levantemo-nos! Tomemos, generosos, nosso caminho quaresmal! Também nós
somos chamados, como nosso Pai Abraão o foi, a sair: sair de nós mesmos, sair
de nós velhos para nós renovados, transfigurados à imagem do Cristo Jesus!
Tenhamos a coragem de atravessar o deserto interior, enfrentar o deserto do
nosso coração, como Moisés e Elias, como o Povo de Israel, como o próprio
Senhor Jesus, que por nós quis ser tentado no Seu período de deserto! Somente
assim chegaremos renovados e purificados ao nosso destino. Este destino não é
um lugar, mas uma situação, uma realidade: é o homem novo, transfigurado à
imagem do Cristo que, após o tormento imenso da Cruz, foi glorificado pelo
Espírito do Pai.
Eis
o caminho quaresmal: do homem velho ao homem novo, do pecado à graça, do vício
à virtude, da preguiça espiritual à generosidade, da morte à Vida, da tristeza
à alegria, trazendo em nós, na nossa vida, o reflexo da Glória do próprio
Cristo Jesus! Não é este o significado das palavras de São Paulo, na segunda
leitura de hoje? “Sofre comigo pelo Evangelho. Deus nos salvou e nos chamou a
uma vocação santa… em virtude da graça que nos foi dada em Jesus Cristo. Esta
graça foi revelada agora, pela manifestação de nosso Salvador, Jesus Cristo.
Ele não só destruiu a Morte, como também fez brilhar a Vida e a imortalidade”.
Eis! Os sofrimentos e lutas desta vida não são pesados se compararmos com o
objetivo tão alto que nos preparam (2Cor 4,17)!
Caríssimos,
que as práticas quaresmais, vividas com generosa fidelidade, arrancando o
pecado que nos torna opacos, possam revelar em nós o resplendor da Glória de
Cristo a que somos chamados e que já está presente em nós desde o nosso
Batismo!
Mais
ainda: que a novidade de nossa vida transborde para o mundo, que tanto tem
necessidade do testemunho dos cristãos. Nunca esqueçamos: este mundo mergulhado
na violência (violência da injustiça, violência do desrespeito à dignidade
humana, violência da destruição das famílias, violência da fome, violência dos
atentados à paz, violência das drogas e das mentiras, violência da corrupção,
violência da imoralidade, violência da destruição do reto sentido da
sexualidade, violência dos meios de comunicação, violência de minorias
organizadas e tirânicas que desejam impor sua visão e sua agenda nefasta, violência
da negação de Deus)… Este mundo precisa de nosso testemunho e de nossa palavra,
mesmo quando nos rejeita, quando despreza o nome de Cristo, quando deseja
esquecer o seu Senhor e pisar os valores do Evangelho!
Deixemo-nos,
portanto, transfigurar pelo Senhor e sejamos humilde e forte luz para o mundo!
Como pede a oração inicial da Missa hodierna: Senhor, “que purificado o olhar
da nossa fé, nos alegremos com a visão da Vossa Glória!”. Por Cristo, nosso
único Senhor