Nesse
tempo da Quaresma, a Igreja muito nos fala de conversão. E esse foi o tema dos
primórdios da pregação de Jesus: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc
1,15).
Conversão
quer dizer mudança. E a palavra grega usada no Evangelho - “metanoia” -
significa mudança de mentalidade. Mais do que o comportamento, é preciso mudar
a mentalidade, pois dela procede o comportamento.
A
mentalidade do tempo de Jesus era pagã: prazer, ganância e orgulho. Desejo de
gozar a vida, de possuir bens materiais e de soberba, muitas vezes confundida
com o poder. Tudo isso se concretizava no dinheiro, com o qual se pode comprar
o prazer, os bens e o poder. Por isso, Jesus pregava: “Não podeis servir a Deus
e ao ‘Dinheiro’” (Mt 6,24).
Opondo-se
a essa mentalidade, Jesus propunha a mortificação da carne, o espírito de
pobreza, o desapego dos bens materiais e a humildade, dando Ele mesmo o exemplo
dessas virtudes. Não foi fácil a pregação desses temas por Ele e pelos
Apóstolos no ambiente pagão. E mesmo no ambiente religioso dos judeus essas
virtudes eram desconhecidas. Ali também, sob outra roupagem, imperava a
impureza, a ganância e o orgulho.
Hoje
vivemos no neopaganismo, onde esses vícios imperam e onde são raras as virtudes
que lhes são contrárias. Por isso, neste tempo da Quaresma, a Igreja nos leva a
refletir sobre a conversão, ou seja, o combate espiritual contra esses vícios.
“Porque
tudo o que há no mundo – o desejo da carne, o desejo dos olhos e a ostentação
da riqueza - não vem do Pai, mas do mundo”, ensina São João, Apóstolo (1Jo
2,16).
A
concupiscência da carne significa não os prazeres ordenados por Deus, dentro
dos seus legítimos limites, mas os desejos desordenados da carne. É a
sensualidade, o amor desregrado dos prazeres, que provocam em nós o conflito
interior de que fala São Paulo: “Descubro em mim esta lei: quando quero fazer o
bem, é o mal que se me apresenta. Como homem interior, ponho toda a minha
satisfação na Lei de Deus; mas sinto em meus membros outra lei, que luta contra
a lei de minha mente e me aprisiona na lei do pecado, que está nos meus
membros...” (Rm 7, 21-23). Daí a
necessidade, com a graça de Deus, do combate interior: “Todo atleta se impõe
todo tipo de disciplina. Eles assim procedem, para conseguirem uma coroa
corruptível. Quanto a nós, buscamos uma coroa incorruptível...” (1Cor 9, 25).
A
concupiscência dos olhos é a ambição de possuir. “A raiz de todos os males é o
amor ao dinheiro. Por se terem entregue a ele, alguns se desviaram da fé e se
afligem com inúmeros sofrimentos” (1Tm 6,10). Não é essa a mentalidade
subjacente a essa epidemia de corrupção que assistimos?
E
a soberba da vida, que vem a ser o orgulho, o egoísmo, que gera o ciúme, a
inveja e a ira. “O princípio de todo o pecado é a soberba” (Eclo 10,15).
Convertamo-nos
e combatamos esse “bom combate”.
Fonte:
Dom Fernando Arêas Rifan