sábado, abril 08, 2023

LAVA PÉS





A Semana Santa é um momento forte de reflexão, uma parada na vida do cristão e oferece uma oportunidade de confronto com Cristo, nos coloca em contato com os últimos momentos de Sua vida, que revelam o amor incompreensível de um Deus e abre o panorama esplêndido de Sua Ressurreição.

No texto evangélico prescrito para esta cerimônia Jesus oferece aos apóstolos e, em particular a Pedro, uma grande lição que deverá estar presente em toda a vida e missão sobrenatural deles e de toda a Igreja.  O Evangelista São João inicia seu relato sobre como Jesus lavou os pés de seus discípulos com estas palavras: “Era antes da festa da Páscoa. Jesus sabia que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai; tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1).  Nesta frase encontramos a chave para respondermos a todas as perguntas sobre os motivos da paixão de Cristo e de maneira ainda mais profunda sobre a vinda de Cristo ao mundo e a sua encarnação: Ele amou os homens até o fim.  

Jesus transforma a Cruz, o ato da execução, em um ato de doação, de amor até o fim. Com esta expressão, “até o fim”, o Evangelista João faz uma referência à última palavra de Jesus sobre a Cruz: “Tudo está consumado” (Jo 19,30). Com isto, Jesus nos apresenta, em uma atitude de ação, o mandamento do amor: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15,13).

Este processo essencial da hora de Jesus é representado na cena do lava-pés em uma espécie de profético ato simbólico. Nele, Jesus evidencia com um gesto concreto: Lava os pés dos discípulos e os tornam capazes de participar do convívio divino ao qual Ele os convida. O texto nos diz que Jesus “levantou-se da mesa, tirou as vestes e tomando uma toalha, cingiu-se com ela… colocou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos…” (Jo 13,3-5).

No livro do Levítico, o lava-pés era considerado como trabalho de escravo, trabalho que nenhum servo judeu devia fazer ao seu patrão (cf. Lv 25,39), como impunha a tradição judia.  Isto nos faz compreender a força que Jesus quis dar à sua ação e ao seu ensinamento. O Evangelho nesta perícope apresenta, com isto, um evidente ensinamento de humildade e de serviço: “Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, pois eu o sou. Portanto, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz” (Jo 13,13-15)

Com estas palavras Jesus convida seus apóstolos e todos os seus seguidores a comportar-se como servos que fazem os serviços mais humildes.  Este sentimento não é somente uma atitude exterior, mas deve ser uma convicção profunda, fruto de um real conhecimento de si mesmo. A humildade é uma virtude fundamental para o homem.  O valor da humildade é também muito significativo a São Bento que, no capítulo 7 da sua Regra, apresenta doze graus de humildade. Isto significa o grande valor que ele deu à prática da humildade para a perfeição da vida cristã.

E Jesus é o exemplo de perfeita humildade.  São Paulo já nos escreve que o Filho de Deus “se reduziu a nada, assumindo a condição de servo e fazendo-se solidário com os homens” (Fl 2,3).  Jesus, em muitas de suas pregações procurou exaltar o valor da humildade: “Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado” (Mt 23,12).  E convida os seus discípulos a imitá-lo por ser ele “manso e humilde de coração” (Mt 11,29). E São Paulo ainda testemunha sobre a humildade de Cristo, ao dizer: “E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,8).