A Semana Santa é um momento
forte de reflexão, uma parada na vida do cristão e oferece uma oportunidade de
confronto com Cristo, nos coloca em contato com os últimos momentos de Sua
vida, que revelam o amor incompreensível de um Deus e abre o panorama esplêndido
de Sua Ressurreição.
No
texto evangélico prescrito para esta cerimônia Jesus oferece aos apóstolos e,
em particular a Pedro, uma grande lição que deverá estar presente em toda a
vida e missão sobrenatural deles e de toda a Igreja. O Evangelista São
João inicia seu relato sobre como Jesus lavou os pés de seus discípulos com
estas palavras: “Era antes da festa da Páscoa. Jesus sabia que tinha chegado a
sua hora de passar deste mundo para o Pai; tendo amado os seus que estavam no
mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). Nesta frase encontramos a chave para
respondermos a todas as perguntas sobre os motivos da paixão de Cristo e de
maneira ainda mais profunda sobre a vinda de Cristo ao mundo e a sua
encarnação: Ele amou os homens até o fim.
Jesus
transforma a Cruz, o ato da execução, em um ato de doação, de amor até o fim.
Com esta expressão, “até o fim”, o Evangelista João faz uma referência à última
palavra de Jesus sobre a Cruz: “Tudo está consumado” (Jo 19,30). Com isto,
Jesus nos apresenta, em uma atitude de ação, o mandamento do amor: “Ninguém tem
maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15,13).
Este
processo essencial da hora de Jesus é representado na cena do lava-pés em uma
espécie de profético ato simbólico. Nele, Jesus evidencia com um gesto
concreto: Lava os pés dos discípulos e os tornam capazes de participar do
convívio divino ao qual Ele os convida. O texto nos diz que Jesus “levantou-se
da mesa, tirou as vestes e tomando uma toalha, cingiu-se com ela… colocou água
numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos…” (Jo 13,3-5).
No
livro do Levítico, o lava-pés era considerado como trabalho de escravo,
trabalho que nenhum servo judeu devia fazer ao seu patrão (cf. Lv 25,39), como
impunha a tradição judia. Isto nos faz compreender a força que Jesus quis
dar à sua ação e ao seu ensinamento. O Evangelho nesta perícope apresenta, com
isto, um evidente ensinamento de humildade e de serviço: “Vós me chamais Mestre
e Senhor, e dizeis bem, pois eu o sou. Portanto, se eu, o Senhor e Mestre, vos
lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo,
para que façais a mesma coisa que eu fiz” (Jo 13,13-15)
Com
estas palavras Jesus convida seus apóstolos e todos os seus seguidores a
comportar-se como servos que fazem os serviços mais humildes. Este
sentimento não é somente uma atitude exterior, mas deve ser uma convicção
profunda, fruto de um real conhecimento de si mesmo. A humildade é uma virtude
fundamental para o homem. O valor da humildade é também muito significativo
a São Bento que, no capítulo 7 da sua Regra, apresenta doze graus de humildade.
Isto significa o grande valor que ele deu à prática da humildade para a
perfeição da vida cristã.
E
Jesus é o exemplo de perfeita humildade. São Paulo já nos escreve que o
Filho de Deus “se reduziu a nada, assumindo a condição de servo e fazendo-se
solidário com os homens” (Fl 2,3). Jesus, em muitas de suas pregações
procurou exaltar o valor da humildade: “Quem se exalta será humilhado e quem se
humilha será exaltado” (Mt 23,12). E convida os seus discípulos a
imitá-lo por ser ele “manso e humilde de coração” (Mt 11,29). E São Paulo ainda
testemunha sobre a humildade de Cristo, ao dizer: “E, sendo exteriormente
reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a
morte, e morte de cruz” (Fl 2,8).