A
liturgia da Palavra desempenha um papel essencial na Vigília Pascal. São nove
leituras, oito salmos e oito orações. Um conjunto que visa resumir toda a
Palavra de Deus contida na Bíblia. Toda a história da salvação é condensada e
apresentada como a paisagem de uma janela aberta diante de nossos olhos. Como
pedras pavimentando um caminho a ser percorrido com segurança, as leituras,
salmos e orações nos guiam no caminho espiritual em direção ao sepulcro para
encontrar o Senhor.
Essa
é a noite da verdadeira libertação. “Noite em que Jesus rompeu o inferno, ao
ressurgir da morte vencedor” (Proclamação da Páscoa). Nela, a Igreja, permanece
à espera da ressurreição do Senhor enquanto celebra os sacramentos da iniciação
cristã. A procissão luminosa que realizamos ao entrar na igreja nos relembra o
caminho do povo de Deus rumo à terra prometida e simboliza, igualmente o
caminho da humanidade, que nas noites escuras da história busca a luz, a
reconciliação entre os povos e a paz universal.
Eis
porque, mesmo em meio a todas as tragédias que afligem nosso mundo, a chegada
da Páscoa é celebrada no coração da noite, com antigos ritos cheios de beleza
poética e de força transformadora. O “Círio Pascal”, ao comunicar sua chama às
velas que se acendem na escuridão da noite se torna imagem do Cristo
Ressuscitado, que rompe as trevas da morte, comunica sua vida sem diminuí-la e
compartilha do seu destino glorioso com toda a humanidade.
Ouvimos
nas leituras proclamadas que Israel foi guiado de noite por uma coluna de fogo
e durante o dia, por uma nuvem. A nossa coluna de fogo, a nossa nuvem é Cristo
Ressuscitado, simbolizado pelo círio pascal aceso. Cristo é a luz! Cristo é o
Caminho, a Verdade e a Vida! Seguindo-o, tendo fixo o olhar em Nele, não andaremos
nas trevas (Jo. 8,12).
Ouvimos
no Evangelho proclamado que as mulheres caminham muito cedo em direção ao
sepulcro do Senhor (Mt. 28,1)). Elas fazem isto porque o buscam para escutar
novamente sua Palavra. Seguir Cristo significa estar atento à sua palavra.
Assim compreendemos porque é necessário participarmos da liturgia dominical,
semana após semana. Para que entremos numa verdadeira familiaridade com a
Palavra. Não vivemos somente do pão, vivemos da Palavra de Deus que nos anuncia
os valores do seu Reino. Seguir Cristo implica estarmos atentos aos mandamentos
de amar a Deus e ao próximo como a nós mesmos. Seguir Cristo significa ter
compaixão dos que sofrem. Seguir Cristo implica amar a sua Igreja (Fl. 2,5-11).
Caminhando assim, acendemos pequenas luzes no mundo, afastamos as trevas da
história da humanidade.
O
caminho de Israel o conduziu a terra prometida. A liturgia pascal que agora
celebramos nos dirige à Cristo. E nesta caminhada nos acompanham os sacramentos
da iniciação cristã: o Batismo, a Crisma e a santa Eucaristia. Assim, a Igreja
nos diz que estes sacramentos são a antecipação do mundo novo. Este Jesus que
as mulheres procuraram de manhã e que foi anunciado pelo anjo como
ressuscitado, nós o encontramos na Igreja, através dos Sacramentos que Ele nos
deixou.
A ressurreição de Cristo não é simplesmente uma recordação de um fato passado! É o glorioso Dom do amor de Deus. Cabe a nós agora apropriarmo-nos desse dom e vivermos na verdade do nosso Batismo. A noite pascal nos convida cada ano a nos imergir novamente nas águas do Batismo, a passar da morte para a vida, a nos tornarmos verdadeiros cristãos.
É
noite. No entanto, não temamos a sua escuridão. Logo contemplaremos a Luz!
Ouçamos o que S. Paulo nos fala na Carta aos Romanos (6,11): “Assim, vós também
considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em Jesus Cristo”. Hoje a
Igreja proclama em todos os cantos do mundo e a todos nós: Despertemo-nos do
nosso cristianismo cansado, sem motivação. Levantemo-nos e sigamos Cristo, a verdadeira
luz, a verdadeira vida!!!!!