“Mesmo
sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que
sofreu. Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para
todos os que lhe obedecem”.
Esta
hodierna Liturgia é solene e dramática. Altar desnudo cruzes veladas ou
retiradas da igreja, nenhum ornamento… Quase não há palavras para exprimir o
estupendo mistério que celebramos: o eterno Filho, Deus santo, vivo e
verdadeiro, nesta tarde sacratíssima, por nós se entregou ao Pai, em total
obediência, até à morte, e morte de cruz! Para contemplar o mistério hoje
celebrado, tomemos, então, com temor e tremor, as palavras da Epístola aos
Hebreus, que escutamos.
“Mesmo
sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que
sofreu”. Eis aqui uma realidade que jamais poderemos compreender totalmente! O
Filho eterno, o Filho que viveu sempre na intimidade do Pai, o Filho
infinitamente amado pelo Pai, no seu caminho neste mundo, aprendeu a descobrir,
cada dia, a vontade do seu Pai e a ela obedecer! Mais ainda: esta obediência
lhe custou lágrimas, fê-lo sofrer! Toda a existência do Senhor Jesus foi uma
total dedicação ao Pai, uma absoluta entrega, no dia-a-dia, nas pequenas
coisas… Jesus foi procurando e descobrindo a vontade do Pai nos acontecimentos,
nas pessoas, nas Escrituras… e, pouco a pouco, foi percebendo que esta vontade
ia levá-lo à cruz. E ele, nosso Salvador, “com forte clamor e lágrimas”, foi se
entregando, se esvaziando, se abandonando…
É
impressionante pensarmos, mas toda a vida do Filho de Deus neste mundo foi uma
busca pobre e obediente da vontade do Pai, entre clamor e lágrimas. Vemo-lo de
modo dramático no Horto da Agonia: “Abba! Ó Pai! Tudo é possível para ti:
afasta de mim este cálice; porém não o que eu quero, mas o que tu queres!” (Mc
14,36). Para o Senhor, como para nós, a vontade do Pai tantas vezes pareceu
enigmática, e ele teve que discerni-la e descobri-la entre trevas densas e
dolorosas! Mas, ao fim, como é comovente a entrega total do Cristo: “Pai, em
tuas mãos entrego o meu espírito!” (Lc 23,46). Em tuas mãos, meu querido Pai,
eu me coloco, eu me abandono! Para nós, o Filho é modelo e caminho de amor ao
Pai! Ser cristão é entregar-se ao Senhor Deus como ele se entregou! E esta
entrega total ao Pai foi por nós: “Cristo por nós se fez obediente até a morte
e morte de cruz” (Fl 2,8).
“Mas,
na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que
lhe obedecem”. Isto é, tornado perfeito na obediência, consumando toda a sua
existência humana de modo amoroso e total, entregando-se ao Pai por nós, ele se
tornou causa da nossa salvação! Vede, irmãos: não se oferece mais ao Pai
sacrifícios de vítimas irracionais e impessoais! Agora é o próprio Cordeiro
santo e imaculado que, com todo amor do seu coração, com toda dedicação de sua
alma, se oferece livremente por nós todos! Por isso ele “tornou-se causa de
salvação eterna para todos os que lhe obedecem”, isto é, desde que nós entremos
na sua obediência e dela participemos na nossa vida! Eia, irmãos no Senhor!
Entremos nessa obediência bendita e amorosa do nosso Senhor: façamos de nossa
vida uma entrega total ao Pai com Jesus: entrega de nossos atos, de nossos
pensamentos, de nossos afetos, de nossos negócios, de nossa vida familiar e
profissional, de nossas decisões e escolhas, de nossas relações humanas… Tudo,
absolutamente tudo, ofereçamos ao Pai com Jesus e por Jesus e entraremos na
salvação que Jesus nos trouxe por sua cruz! Não esqueçamos: nesta santíssima
Sexta-feira da Paixão, somos convidados a não somente contemplar, admirados, a
obediência total do Filho querido ao Pai amado, mas também somos interpelados a
participar na nossa vida dessa mesma obediência! É assim que Cristo é causa de
salvação para nós!
Senhor
Jesus, que o teu sublime exemplo de amor ao Pai e a nós, nos comova e converta
o coração, tire-nos da preguiça espiritual e de uma vida cristã morna e tíbia!
Senhor, obrigados por tão grande prova de amor a nós e ao mundo todo! Obrigados
por tuas dores, obrigados por tua cruz, obrigados por tua morte e por tua
sepultura!
Nós
vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos, porque pela vossa santa
Cruz remistes o mundo!