Esse
episódio é muito mais do que um simples rito de purificação. Ele está carregado
de significado teológico, revelando o mistério da Santíssima Trindade, a missão
de Jesus como Salvador, e o chamado que cada um de nós recebe por meio do
batismo. Hoje, vamos refletir sobre esses aspectos e como eles se aplicam à
nossa vida.
No
início do Evangelho, vemos o povo na expectativa, perguntando-se se João
Batista seria o Messias. João, porém, deixa claro: “Eu vos batizo com água, mas
virá aquele que é mais forte do que eu.” João Batista reconhece seu papel como
precursor. Ele prepara o caminho, mas sabe que sua missão termina quando o
verdadeiro Messias chegar.
Essa
humildade de João é um exemplo para todos nós. Muitas vezes, queremos ocupar o
centro, ser os protagonistas. Mas João nos ensina que nossa missão é apontar
para Jesus, não para nós mesmos. Ele reconhece que o batismo que oferece é
apenas um símbolo de conversão, enquanto o batismo de Jesus traz uma
transformação completa: “Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo.”
E
então, acontece algo inesperado: Jesus, o Filho de Deus, se apresenta para ser
batizado. Aqui está o primeiro grande mistério. Jesus não precisava ser
batizado. Ele não tinha pecados a confessar, nem precisava de purificação. Mas,
ao receber o batismo de João, Ele desce até o nível humano, solidariza-se com a
humanidade pecadora e assume sobre Si os pecados do mundo.
Esse
gesto nos revela o coração de Deus. Jesus não veio para permanecer distante,
mas para se fazer próximo, para caminhar conosco, para tomar sobre Si nossas
dores e nosso pecado. O Batismo de Jesus é um gesto de humildade e amor, que
anuncia o que Ele fará plenamente na cruz, quando se entregará por nossa
salvação.
Mas
o que acontece a seguir é ainda mais significativo. Enquanto Jesus reza, o céu
se abre. Esse detalhe é importante. Até aquele momento, o céu estava fechado
para a humanidade por causa do pecado. Mas agora, em Jesus, o céu se abre
novamente. Ele é a ponte entre Deus e o ser humano. Ele é o caminho pelo qual
voltamos a ter acesso ao Pai.
E
então, o Espírito Santo desce sobre Jesus em forma de pomba. A pomba nos lembra
o Espírito que pairava sobre as águas no início da criação. Agora, no Batismo
de Jesus, começa uma nova criação. Por meio de Jesus, Deus está inaugurando uma
nova aliança, um novo tempo de graça, onde o Espírito Santo nos guia e
transforma.
E,
finalmente, ouvimos a voz do céu: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu
bem-querer.” Essa é a grande revelação. Deus Pai confirma a identidade de Jesus
como o Filho Amado, o Messias, o Salvador. Essa declaração é uma afirmação do
amor eterno de Deus por Seu Filho e, por extensão, por todos nós que somos
batizados em Cristo.
Agora,
irmãos, vejamos o que tudo isso significa para nós.
O
Batismo de Jesus não foi apenas um evento histórico. Ele tem implicações
profundas para cada um de nós, porque, pelo nosso próprio batismo, participamos
dessa realidade. Quando somos batizados, recebemos o mesmo Espírito Santo,
somos acolhidos como filhos e filhas de Deus, e ouvimos a mesma declaração do
Pai: “Tu és o meu filho amado.”
Nosso
batismo não é apenas um rito de entrada na Igreja. É um renascimento. É um
chamado à conversão, à missão, e à santidade. Pelo batismo, somos chamados a
viver como filhos de Deus, a permitir que o Espírito Santo nos conduza, e a
testemunhar o amor de Cristo no mundo.
Mas,
atenção: o batismo não nos isenta de desafios. Jesus, após ser batizado, foi
levado ao deserto para ser tentado. Assim também nós, mesmo após o batismo,
enfrentamos tentações, dificuldades e desafios. A diferença é que, agora, não
enfrentamos essas situações sozinhos. O Espírito Santo está conosco, e a voz do
Pai continua a ressoar em nosso coração: “Tu és meu filho amado.”
Queridos
irmãos e irmãs, hoje o Evangelho nos lembra que o Batismo do Senhor é também o
início da nossa missão. Somos chamados a ser como Jesus, a levar a luz do
Espírito Santo ao mundo, a ser instrumentos de reconciliação, paz e justiça.
E,
como João Batista, devemos ter a humildade de reconhecer que tudo o que temos
vem de Deus. Nossa missão não é crescer em importância, mas permitir que Cristo
cresça em nós e através de nós.
Que
possamos, a cada dia, renovar o compromisso assumido no nosso batismo. Que
permitamos que o Espírito Santo nos guie e nos transforme. E que, em tudo o que
fizermos, possamos ouvir e refletir a voz do Pai: “Tu és meu filho amado, em ti
ponho o meu bem-querer.” Amém!