segunda-feira, junho 23, 2025

XII DOMINGO DO TEMPO COMUM












1) Pedro faz uma verdadeira profissão de fé com os seus lábios e aprenderá a fazer essa profissão de fé na profundidade do seu conteúdo e com a própria vida, na sua fragilidade e na sua grandeza! Pedro e os discípulos passarão da concepção do Messias nacionalista, triunfador, vitorioso, à maneira humana de poder e da força, para o Messias que Jesus vai apresentar no anúncio da sua paixão, morte e Ressurreição.

Jesus proibiu-os de dizer que Ele era o Messias. Eles precisavam e deviam também fazer um longo e profundo caminho até compreenderem a resposta profunda, sábia e dinamizadora. Jesus vai elucidá-los sobre a Sua Identidade e Missão.

 

2) Da verdadeira compreensão da identidade e missão de Jesus depende a profundidade, a beleza e autenticidade da nossa vida de discípulos. Como discípulos fixaremos o nosso olhar em Jesus. Como Ele colocamos a nossa vida em oração aberta aos desígnios do Pai e do Espírito Santo. Eles nos revelam Jesus, nos proporcionam uma verdadeira comunhão e constroem em nós uma estrutura coesa de identidade e missão, à maneira de Jesus.

Jesus faz-nos a mesma proposta “Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me”. Este convite à verdadeira felicidade, à verdadeira liberdade e à plenitude, significa esquecer-se de si para se doar inteiramente na verdadeira aventura do ser discípulo.

Como os discípulos todos temos de abandonar as falsas ideias e comportamentos de um messianismo triunfador que não exige a nossa conversão e a nossa entrega.

 

3) Vivemos num mundo em que os grandes, os fortes, os poderosos, os que pensam só em si vivem num círculo fechado de idolatria narcisística e parecem revelar os verdadeiros vencedores ou as forças motrizes da construção da vida e da sociedade. É um erro colossal porque tal lógica se baseia na prepotência, na falsidade, na deturpação da dignidade humana e na falsa imagem de Deus. Torna-se urgente e actual a lógica e a proposta de Jesus: dar a vida. Como nos diz a segunda leitura de hoje: “fostes revestidos de Cristo”. E assim a nossa beleza interior permite uma renovação profunda na vida pessoal, comunitária e social. É que ser cristão não é uma questão de teorias ou normas, mas de fiel seguimento à pessoa de Jesus e de seguimento generoso à mesma causa. E tal atitude é forjadora do mais belo acontecer.

 

4) Assumir e tomar a Cruz todos os dias e segui-Lo. É a beleza e a exigência do quotidiano. Quando apetece e quando não apetece. Quando há emoção e quando não há. Quando O sentimos e quando Ele parece ausente. Quando tudo é fácil e quando tudo é difícil e inacessível. Não é só para as festas e para ocasiões especiais, mas na beleza escondida, e às vezes tão apagada, dos dias que passam sem brisas, sem palmas, sem palavras animadoras, dos dias de silêncio, da humilhação, do sofrimento, do aparente fracasso, do gólgota. Sempre de mãos abertas, de seguimento contínuo, de começar e recomeçar, de esperança, de confiança e de amor. Isto conduz á verdadeira vitória e glória.

E o que dizem hoje as multidões sobre a identidade e missão de Jesus? Muitos já não dizem nada pela indiferença total. Outros dizem mal, falseando e corrompendo pelo vínculo a ideologias afastadas da Verdade. Outros sabem algo mas ainda é pouco. A tarefa dos cristãos, dos discípulos de Cristo, de cada um, diante de todo este panorama, deve ser amar sem medida, dar a vida, acolher, dialogar, formar, ser testemunha da esperança e anunciador da Boa Nova.

















sexta-feira, junho 20, 2025

CORPUS CHRISTI










Estamos perante uma situação sem saída? Não. Chegou a altura de Jesus mostrar aos discípulos a “Sua” solução – a solução de Deus – para a fome da humanidade. Jesus assume a condução do processo e, de forma precisa, dá as suas indicações: “mandai-os sentar por grupos de cinquenta” (vers. 14b).

Depois de todos se terem instalado, “Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao Céu e pronunciou sobre eles a bênção. Depois partiu-os e deu-os aos discípulos, para eles os distribuírem pela multidão” (vers. 16). A fórmula aqui utilizada por Lucas para descrever a ação de Jesus é decalcada do relato eucarístico da “última ceia”: Jesus “tomou o pão, deu graças, partiu-o e distribuiu-o por eles” (Lc 22,19). Naturalmente, Lucas vê uma correspondência perfeita entre os dois momentos. Em ambos se refere o “tomar”, “dar graças”, “partir” e “distribuir”.

A fórmula de Jesus para saciar a fome da multidão resultou? Sim. “Todos comeram e ficaram saciados”. Mais: “ainda recolheram doze cestos dos pedaços que sobraram” (vers. 17). Quando reconhecemos que tudo é dom de Deus (“dar graças”) e nos dispomos a partilhar e a distribuir o que Deus coloca à nossa disposição, o pouco faz-se muito, a “divisão” gera abundância, os dons de Deus chegam para todos e ainda sobram.

 

Detenhamo-nos um pouco mais na fórmula que Jesus usou para saciar a multidão. Segundo o relato de Lucas, o que Jesus fez não foi exatamente uma “multiplicação”; mas foi a “divisão” e a “partilha” de cinco pães e dois peixes. O grande “milagre” de Jesus não foi fazer aparecer do nada uma montanha de pães e de peixes, suficiente para saciar a fome de cinco mil homens; mas foi mostrar aos seus discípulos que o pouco, quando partilhado com amor, chega para todos e permite saciar todas as fomes. Guiados por Jesus, os discípulos descobriram que a solução para a “fome” dos homens não está no sistema de compra e de venda, que apenas produz exploração, injustiça e desigualdade; mas está na adoção de uma forma de viver que privilegie a partilha, a gratuidade, o dom. Só a partir desta lógica – a lógica de Deus – será possível saciar uma humanidade atormentada pela fome de pão e pela fome de tantas outras coisas necessárias para ter vida em abundância.

 

Num “local deserto” perto de Betsaida, Jesus quis que os discípulos distribuíssem pela multidão o pão e os peixes repartidos; na última ceia, Jesus pediu aos discípulos que repetissem em sua memória os gestos de entrega e de doação que Ele tinha feito (“fazei isto em minha memória” – Lc 22,19b). Os discípulos são testemunhas e arautos daquilo que viram Jesus fazer. Devem dizer ao mundo, com palavras e com gestos, que a partilha/doação/entrega é fonte de vida para todos e sacia todas as fomes.

 

 











segunda-feira, junho 16, 2025

SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE











Meus irmãos, há momentos na vida em que, mesmo tendo ouvidos, a gente não consegue escutar. Jesus, com sua delicadeza divina, reconhece isso. “Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora”, e quanta ternura há nessas palavras! Ele não nos força. Ele espera: que amadureçamos e que o coração esteja pronto. Espera que o Espírito venha.

E Ele vem. Sim, o Espírito da Verdade vem. Não como um mestre que grita ordens, mas como um amigo que nos pega pela mão e nos conduz. Vagarosamente. Com paciência. Conduz-nos à plena verdade, não somente à verdade teórica, mas à verdade que transforma o coração e a vida. Aquela que cura, que liberta, que sacode as máscaras e devolve a nós mesmos.

O Espírito não fala de si. Ele não busca aplausos, não brilha sozinho, mas aponta, reflete, transmite, e nos leva a Cristo e nos mostra que tudo em Cristo vem do Pai. E assim o círculo se fecha: Pai, Filho e Espírito. Uma comunhão de amor eterno, que se doa por inteiro e se comunica sem ruído.

Mas olhe bem: Jesus diz que o Espírito nos anunciará até as coisas futuras. Ora, isso não é previsibilidade de calendário, mas clareza interior, afinal, o Espírito nos prepara para o que virá e nos treina o coração para a cruz e para a glória. Nos dá sabedoria nas escolhas. E, sobretudo, nos ensina a caminhar com esperança, mesmo quando tudo ao redor parece um nevoeiro.

Agora… pense um pouco: você tem deixado o Espírito conduzir? Ou está tentando viver só com a força dos próprios braços? Às vezes a gente quer entender tudo de uma vez. Quer controlar. Quer ter garantias. Mas o Espírito não é um mapa com rotas fixas. Ele é vento. Sopra onde quer, como quer. Às vezes sopra manso e reconforta. Outras vezes sopra forte e nos arranca do chão.

E isso é graça. Porque só quando largamos o leme é que descobrimos que não somos os donos da embarcação. Todavia, o Espírito é o verdadeiro timoneiro da alma, e se você confiar, Ele te levará onde nunca imaginou – ao encontro da verdade que te faz livre, da verdade que te faz novo.

Cristo quer te dizer mais, muito mais. Mas talvez ainda não esteja pronto. E tudo bem. Ele não tem pressa. Mas abra espaço. Dê ouvidos. Silencie a agitação. Ore mais com o coração do que com os lábios. E peça: “Espírito da Verdade, vem e me conduz. Eu me rendo.”

Porque só quem se deixa conduzir… chega. Amém.















terça-feira, junho 10, 2025

SOLENIDADE DE PENTECOSTES








Meus irmãos e irmãs em Cristo, hoje, celebramos um dia que transforma tudo. Pentecostes não é o fim da Páscoa. É o começo da missão. Aquele grupo de discípulos medrosos, trancados, acuados como crianças no escuro, recebe algo que muda sua história: o sopro de Deus. E com esse sopro, o Espírito Santo – não uma ideia, mas uma força viva, quente, divina, que incendeia o mundo.

Percebam: as portas estavam fechadas. E não era só a madeira que trancava. Era o medo. Medo da morte, medo do fracasso, medo do futuro. E o que faz Jesus? Entra mesmo assim. Porque nenhuma porta trancada segura o Ressuscitado. Ele não precisa arrombar nada. Ele entra com a paz. E diz: “A paz esteja convosco.” Duas vezes. Porque os corações precisavam ouvir. Porque quando a alma está tremendo, é a paz que devolve o chão.

E ali, naquela sala abafada pela insegurança, Jesus sopra. Como no Gênesis, quando Deus soprou vida no barro de Adão. Aqui, Ele sopra nova vida, um novo começo. Ele sopra sobre aqueles homens ainda confusos e diz: “Recebei o Espírito Santo.” Não é só um sopro. É um envio. Ele diz: “Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio.”

Sopro no mundo

O que significa isso? Que nós também somos enviados. Não como turistas espirituais, mas como testemunhas. A Igreja nasce não de uma ideia ou de uma estrutura. A Igreja nasce desse sopro. E se não formos sopro no mundo, somos só barulho.

E olhem o que Ele entrega junto: o poder de perdoar. Ele não dá armas, não dá riquezas, não dá estratégias de marketing. Dá o perdão. E o perdão é a arma mais poderosa do cristão. Porque perdoar é vencer sem matar. É libertar a si e ao outro. E se há algo que o Espírito Santo quer fazer hoje, é arrancar os grilhões do rancor que nos amarra há tanto tempo.

Quando o Espírito sopra

Pentecostes, meus irmãos, não é sobre barulho, é sobre fogo. E o fogo não serve só para aquecer, ele serve para purificar, para transformar. Possibilita iluminar. O Espírito Santo não veio para nos deixar confortáveis. Ele veio para nos empurrar. Para tirar a gente da zona de conforto, da fé morna, da rotina vazia.

Hoje, Jesus sopra sobre você. Sim, sobre você mesmo. Sopra para te levantar, para te enviar, para te fazer portador do perdão, do amor, da paz. E se você está com medo, saiba: o Espírito Santo não nos foi dado por merecimento, mas por amor.

Então, abre as janelas do seu coração. Destranca a porta da sua alma. Deixa o vento do Alto entrar. Porque quando o Espírito sopra, a vida muda. E quando Ele habita em nós, o mundo começa a ver, a ouvir, a sentir o Cristo ressuscitado. Amém.














segunda-feira, junho 09, 2025

BENÇÃO DA FARMÁCIA E DO CONSULTÓRIO MÉDICO






Homenagem póstuma a Sandra e Gisele


O Pai das misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola por meio do seu Filho, no Espírito Santo, acompanha com peculiar amor e sua bênção os homens que sofrem tribulações e enfermidades, e aqueles que, de algum modo, trabalham na assistência e no serviço dos enfermos.

Os enfermos não só completam o que falta aos sofrimentos de Cristo em favor do seu corpo, que é a Igreja, mas representam de modo singular a pessoa do próprio Cristo, que disse estar presente nos enfermos, tanto que considerava prestado a si todo serviço que a eles fosse prestado.

É, portanto, justo implorarmos a bênção divina sobre todos os enfermos que estarão neste centro pastoral, e sobre todos os que aqui se dedicam (se dedicarão) generosamente à cura dos enfermos, numa palavra, sobre este centro pastoral, destinada a tratar da saúde das pessoas.

 

 

ORAÇÃO DA BÊNÇÃO

 

Senhor nosso Deus,

cujo Filho, por virtude do Espírito Santo,

curou nossas fraquezas e enfermidades,

e, enviando os discípulos para pregarem o Evangelho,

ordenou-lhes que visitassem os doentes e cuidassem deles,

concedei que todos os enfermos atendidos neste centro pastoral

sejam recebidos com toda afabilidade

e tratados com toda presteza

pelos médicos e seus auxiliares,

para que, ao receberem alta,

já recuperada a saúde do corpo e do espírito,

entoem louvor sem fim à vossa misericórdia.

Por Cristo, nosso Senhor.

R/. Amém.















segunda-feira, junho 02, 2025

SOLENIDADE DE ASCENSÃO DO SENHOR






No 5º Domingo da Páscoa :

“Dou-vos um novo mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado” (v. 34).

Jesus fala em um “novo mandamento”. A novidade deste novo mandamento é que não se trata do antigo e conhecido mandamento que ordenava “amar ao próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18). A própria construção da frase, sugere que o “novo” deste mandamento consiste, exatamente, no “como eu vos amei”. Nem a palavra amar, nem o mandamento do amor são novos. Novo é amar como Jesus, amar em Jesus, por causa de sua palavra impressa em cada página do evangelho.

A prática do amor mútuo é a expressão da fé em Jesus. O verdadeiro discípulo distingue-se pelo amor. A capacidade de amar-se mutuamente indica o quanto Jesus está agindo na vida do cristão. A presença salvadora de Jesus tem o efeito de desatar o nó do egoísmo, que afasta os indivíduos de seus semelhantes e, por consequência, de Deus também.

No 6º Domingo da Páscoa

o Senhor nos fala da memória — não da memória fraca da carne, mas da memória viva do Espírito. Ele promete enviar o Paráclito, o Defensor, o Espírito da Verdade, pois . E afirma: “Ele vos recordará tudo o que eu vos tenho dito.”

Não se trata de uma lembrança qualquer, pois o Espírito não vem somente para relembrar frases ou registrar doutrinas. O Espírito Santo não é um gravador divino, mas é o Sopro do Amor entre o Pai e o Filho, que se derrama em nossos corações para tornar presente o que, sem Ele, permaneceria no passado.

Porque sem o Espírito, até o Evangelho vira letra morta. Sem Ele, ouvimos Jesus… e esquecemos. Lemos as Escrituras… e não entendemos. Repetimos as palavras… mas elas não nos transformam. A função do Espírito é nos introduzir na verdade, não como quem ensina lições, mas como quem acende uma chama no fundo da alma.

Comunhão com o Cristo Ascendido: A Ascensão exige que vivamos sempre na presença do Senhor glorificado. Em cada Missa, ao proclamarmos “e quando o Senhor Jesus voltar em glória, acolhei-o no meio de nós!”, estamos retomando o gesto dos discípulos que, após adorar, “permaneciam no Templo, bendizendo a Deus”. Cultivar a oração e participar da liturgia dominical é nossa forma contemporânea de “estar em Jerusalém” antes de receber o Pentecostes pessoal.

Missão e Testemunho: Ser testemunha de Cristo não significa somente pronunciar palavras, mas deixar que as “obras” de Cristo vivam em nós: a compaixão pelos pobres, o perdão incondicional, a denúncia profética das estruturas de pecado. Tal como o Ressuscitado enviou os discípulos, Ele nos envia hoje — na escola de Madre Teresa e de São Vicente de Paulo — a anunciar conversão e perdão em nossos ambientes de trabalho, família e cultura.

Unidade Eclesial: A cena de “todos reunidos no Templo com alegria” sublinha a importância de manter a coesão eucarística. A comunhão sacramental fortalece a caridade e evita o isolamento espiritual. Assim, em tempos de individualismo, recordemos o apelo paulino: “Eles devem cuidar uns dos outros, como um corpo em que todas as partes colaboram para a saúde comum” (Rm 12, 5).

Esperança Escatológica: A Ascensão projeta nosso olhar para “novos céus e nova terra” (2Pd 3, 13). O quotidiano se torna litúrgico quando vivemos a História como rumo seguro ao cumprimento das promessas do Pai. A “força do alto” (Lc 24, 49) é, ao mesmo tempo, dom presente e antecipação da consumação eterna, que nos impele a perseverar na caridade e na santidade.

Queridos irmãos, ao celebrarmos este mistério pascal-ascensional, sintamos no coração o convite a projetar nossas vidas para o alto, mantendo os pés firmes na missão e a alma sedenta de oração. Que a “grande alegria” dos primeiros que viram o Senhor subir em glória nos inunde de esperança e coragem para testemunhar, até os confins da terra, que aquele que ressuscitou e ascendeu voltará novamente em glória. Amém.