segunda-feira, agosto 25, 2025

XXI DOMINGO DOMINGO DO TEMPO COMUM











Jesus continua seu caminho para Jerusalém, rumo à sua paixão, morte e ressurreição. Seu caminho é o dos cristãos. Pois bem, no caminho, fazem-lhe uma pergunta: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?”

Ao invés de responder a pergunta que lhe fizeram, o Senhor vai direto ao ponto que realmente interessa… Por isso, responde com uma advertência: Não é da nossa conta se são muitos ou poucos os que se salvam. Interessa, isso sim, que tenhamos uma tal atitude hoje, no presente de nossa vida, em relação ao seu Evangelho, que possamos herdar a salvação: “Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão”. Portanto, o Senhor chama nossa atenção para o presente, como estamos nos posicionando agora em relação a ele.

Mas, por que afirmar que a porta é estreita e que muitos tentarão e não conseguirão? Será que Deus nos preparou uma armadilha? De modo algum! A porta é estreita porque nos tornamos grandes demais, auto-suficientes demais, prepotentes demais, demasiadamente cheios de nós mesmos! A porta é estreita porque nossas manhas sãos largas… Portanto, há um combate a ser travado em nós, para nos adequarmos ao Reino de Deus. Seguindo nossa lógica, nossos instintos, nossas paixões, não entraremos! Não entrará no Reino quem primeiro não deixar o Reino entrar em si, no seu coração e na sua vida.

E há ainda mais dois aspectos importantes para os quais o Senhor chama a nossa atenção: (1) haverá um momento final, definitivo, decisivo e irremediável: “Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta!’ Ele responderá: ‘Não sei de onde sois’.” Cuidemos, portanto, porque haverá um momento final, um julgamento definitivo, um céu ou um inferno que nunca passarão! Não nos esqueçamos disso; não brinquemos com isso!

Há ainda um segundo aspecto: (2) Seremos julgados por nossa relação com ele, o Cristo Senhor. Se hoje o amamos, se hoje vivemos o seu Evangelho, se hoje praticamos a justiça do Reino que ele trouxe, seremos reconhecidos por ele; caso contrário, seremos rejeitados: “Começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta!’ ele responderá: ‘Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim todos vós que praticais a injustiça’”.

Nosso futuro está ligado à nossa atitude concreta em relação a Jesus hoje! Por isso mesmo, hoje escutemos a advertência do Autor da Carta aos Hebreus: “Meu filho, não desprezes a educação do Senhor; pois o Senhor corrige a quem ama e castiga a quem aceita como filho. Portanto, firmais as mãos cansadas e os joelhos enfraquecidos, acertai os passos dos vossos pés”. É no hoje da vida que o Senhor nos espera; é no nosso presente que o nosso futuro eterno é decidido. Como tenho vivido meu hoje, meu presente em relação ao Senhor? Vou construindo meu céu ou meu inferno?

 

E, uma última advertência seríssima da Palavra de Deus hoje: que ninguém se iluda pensando ser membro da Igreja, ser batizado, ser filho de Deus, pois o Senhor olha o coração. Sermos batizados não é somente uma honra, mas é também um dever, uma responsabilidade imensa. Quantos pagãos, quantos ateus, quantos não-católicos, são mais generosos que nós! Quantos seriam melhores cristãos e melhores católicos que nós! Por isso mesmo, Jesus nos previne: Virão muitos do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. E assim há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos”. Como os judeus, que eram primeiros e perderam a prioridade para nós, cristãos, assim também nós, apesar de cristãos, podemos perder a prioridade para os pagãos. Recordemos que ser cristão não é nunca, mera questão de tradição, de costume, mas é, antes de tudo, uma relação viva de amor e empenho sempre renovado em relação ao Senhor que nos chamou a segui-lo! Esse amor vivo e sempre renovado é a única garantia de receber a salvação, de encontrar a porta aberta – e a porta é o próprio Cristo!









sábado, agosto 23, 2025

ATITUDE PASTORAL ANTE OS PAIS QUE PEDEM O BATISMO PARA SEU FILHO










O cânon 868 § 1 indica que para poder batizar uma criança é necessário contar com o consentimento dos pais ou ao menos de um dos dois, ou de quem faça suas vezes, e que haja esperança fundada de que a criança vai ser educada na fé católica. Este é o teor literal de dito cânon:

 

Cânon 868 § 1: Para batizar licitamente uma criança requer-se:

 

1º que deem seu consentimento os pais, ou ao menos um dos dois, ou quem faça legitimamente suas vezes.

 

2º que haja esperança fundada de que a criança vai ser educada na religião católica; se falta por completo essa esperança, deve-se adiar o batismo, segundo as disposições do direito particular, fazendo saber a razão a seus pais.

 

O cânon 97 § 2 define até que idade se deve considerar criança uma pessoa; segundo este cânon, é criança (infans, em latim) quem não completou sete anos de idade; o cânon 99, além disso, previne que quem carece de uso da razão se equipara às crianças a estes efeitos.

 

Portanto, para poder batizar uma criança até os sete anos de idade só se pedem estes dois requisitos enunciados: que consinta ao menos um dos dois pais, e que haja esperanças fundadas de que vai ser educada na fé da Igreja. Como se pode observar, o Código não exige nenhum requisito referente à, digamos, qualidade moral da relação dos pais.

 

 

Atitudes pastorais ante situações dos pais contrárias à moral

 

O problema pastoral se coloca se aos pais os une uma relação contrária aos ensinamentos da Igreja. Nesse caso, como se vê, o Código não lhes proíbe pedir o batismo de seu filho; se os pais não estão casados, ou tentaram casamento civil, ou só pede o batismo a mãe porque o pai não aparece, pelo direito universal da Igreja pode ser batizado, com tal que esteja garantida de algum modo a educação cristã do filho.

 

Não se pode julgar a ninguém; não é o objetivo deste artigo julgar a consciência dos que se encontrem nas situações morais descritas acima, ou em outras similares, em contradição com os ensinamentos do Magistério. Por isso, se se fala aqui de culpa ou inclusive de pecado, se faz só em referência ao fato objetivo de que tais condutas são contrárias à doutrina da Igreja. Mas não é nossa intenção julgar a culpabilidade de cada um, pois só Deus julga.

 

O critério que parece expressar a Igreja neste preceito é o de não castigar ao filho pela conduta dos pais. Deve-se ter em conta que o batismo é o sacramento que abre a porta aos demais sacramentos (cfr. cânon 849), e que por ser sacramento, confere a graça. Que os pais tenham cometido uma culpa não deve impedir que os filhos possam acessar às fontes da graça. Portanto, a norma de direito universal permite que estas crianças possam incorporar-se à Igreja. Para maior abundância, se pode observar que o Código nem sequer exige que os pais estejam batizados.

 

Mais ainda, o batismo que pedem para seu filho pode ser uma ocasião para que o pároco fale com os pais, e os anime a que retomem sua vida cristã. Talvez se possa falar com os pais, com motivo da catequese pré-batismal, e ajudá-los a enfrentar sua vida com coerência, com a mesma coerência com a qual pedem o batismo de seu filho. Provavelmente atua mal o pastor que recebe a estes pais, e nem sequer lhes recorda – com caridade e compreensão, tentando ajudar – que seu modo de vida é contrário às indicações da Igreja. Mas tampouco deve esquecer o pároco que o batismo que pedem é uma oportunidade que se apresenta para tentar aproximar esses pais de Deus. Estas conversas, desde logo, não devem afastar aos pais do objetivo para o qual acodem, que é o batismo de seu filho. Portanto, não parece apropriado condicionar o batismo do filho a uma mudança de atitude dos pais.

 

Contudo, não se deve omitir um matiz: o pároco – autoridade competente como norma geral, pelo cânon 857 § 2 – deve ter esperanças fundadas da educação cristã das crianças que lhe apresentam para ser batizadas; trata-se de um mandato do Código de difícil interpretação na prática, dada a variedade de situações em que se deve aplicar o Código ao longo da Igreja universal. Por isso, remete o cânon às disposições de direito particular. Pode haver indicações de direito particular, que deem critérios aos párocos a esse respeito. O que tem grande interesse pastoral, para poder unificar critérios em uma nação, território ou diocese. Poucas coisas causam tanto dano aos fiéis como a disparidade de critérios entre os sacerdotes de umas paróquias ou de outras, frente ao mesmo problema pastoral.

 

E entre estas disposições de direito particular, pode haver normas que indiquem como deve atuar um pároco se lhe pede o batismo uns pais em uma das situações indicadas acima, contrárias aos ensinamentos da Igreja. Nesse caso, o pároco deverá ater-se à legislação particular em vigor em sua diocese. Supondo estas normas, o pároco não poderá batizar à criança, ou deverá pedir garantias adicionais da educação cristã. Então o pároco legitimamente poderá adiar o batismo da criança. Naturalmente, nos lugares em que se deva atuar assim, se deverá explicar aos pais que pedem o batismo de seu filho a razão pela qual se adia o batismo.

 

Fonte: presbiteros.org.br


segunda-feira, agosto 18, 2025

ASSUNÇÃO DE MARIA










Alguém gostaria de dar um presente para sua mãe, mas tudo que via ou lhe oferecia era pouco pela grandeza de seu amor por sua mãe, queria dar o perfume das rosas, a beleza das roseiras, o brilho da lua, o calor do sol, a imensidão do mar e a vastidão do céu, queria dar o que existia de melhor… Assim são todos os filhos para com sua mãe, tentam dar o melhor que existe para expressar de formas tão claras o seu amor filial.

Jesus não é diferente, ama sua mãe com predileção e, como qualquer filho, quer sempre dar o melhor para sua mãe, ou seja, o céu. Hoje celebramos a assunção de Maria, isto é, foi elevada por graça de Deus, em virtude de sua maternidade à glória dos céus em corpo e alma; de forma simples a nossa Igreja proclama esse dogma, uma verdade existente desde o princípio no coração de todos aqueles que pelo batismo se tornam filhos de Deus.

Somos filhos no Filho, nos lembra São Paulo (cf. Gl 3, 26), ou seja, somos enxertados em Cristo para sermos filhos de Deus (cf. Rm11,17), e se somos um com Cristo, somos cristãos, Cristo é filho de Maria, assim também nós somos filhos de Maria. Todos aqueles que se tornam filhos de Deus em Cristo, se tornam também filhos de Maria em Cristo. E como bons filhos, queremos o melhor para nossa mãe, e assim celebramos a sua assunção, damos a ela o mesmo louvor que seu filho Jesus Cristo lhe deu, veneramos nela a mesma graça que Deus lhe outorgou, admiramos em Maria a nova Eva que nos trouxe o Salvador.

E se por Eva entra a morte, por Maria vem a vida, e se por Eva as portas do paraíso se fecham, por Maria elas se abrem e o novo Adão, Cristo, juntamente com a nova Eva, Maria, vivem já o verdadeiro destino e projeto de Deus para toda a humanidade: adorar e louvar a Deus por toda a eternidade em corpo e alma. O mesmo amor filial de Jesus para a com Maria que a elevou em corpo e alma aos céus, deve ser o mesmo amor filial de cada cristão que eleva à sua mãe as preces cotidianas, que a trata com carinho ao rezar o terço, que a venera com admiração de filho e confia na sua especial proteção e intercessão. Não somos órfãos de mãe, temos uma que junto a Deus olha por nós, roga ao Pai pelos pecadores e nos livra de todos os males. Temos que cultivar cada vez mais em nossa espiritualidade esse carinho de filhos para com a nossa mãe por meio da prática constante do Santo Terço.

Se pela Eucaristia recebemos Jesus Cristo, pelo a oração do Terço recebemos nossa Mãe Maria Santíssima, e cada Ave-Maria não deve ser uma tediosa repetição, mas um constante “eu te amo”, uma rosa que nunca nos cansamos de entregar à nossa mãe, um diálogo de amor onde reconhecemos a Mãe de Deus e nossa Mãe, agradecemos o seu sim à vontade de Deus e pedimos seu mais terno  olhar materno sobre nós. Com amor filial, com o mesmo carinho e amor de Cristo, vamos elevar nossos olhos ao céu e louvar àquela que foi assunta, agradecer sua maternidade e pedir que rogue sempre por nós pecadores, para que um dia, também nós, sejamos dignos de alcançar as promessas de Cristo.
















segunda-feira, agosto 11, 2025

XIX DOMINGO DO TEMPO COMUM













Amados irmãos, o Evangelho de hoje nos chama com força à vigilância espiritual. “Vós também, ficai preparados!” Não como quem vive com medo, mas como servos fiéis que esperam, com esperança viva, o Senhor que vem. Jesus nos coloca diante da imagem do servo atento, com os rins cingidos e as lâmpadas acesas, à espera de seu Senhor que volta das núpcias.

 

Não tenhas medo

Logo no início, Cristo nos acalma o coração: “Não tenhas medo, pequeno rebanho, porque foi do agrado do Pai dar-vos o Reino”. Aqui está o ponto de partida da nossa vigilância: não o pânico, mas a confiança. O Pai deseja dar-nos o Reino. A vigilância, portanto, não é medo de perder, mas zelo por não desperdiçar.

Jesus continua com um convite claro: “Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não se gastam.” Ou seja, invistam no que é eterno, não no que passa. Há aqui um chamado à liberdade interior: quem está preso às riquezas e à autossuficiência, não conseguirá esperar o Senhor com o coração leve. Ele será como o servo distraído, embriagado com os banquetes do mundo, insensível às necessidades do próximo.

 

A vinda do Senhor

Na teologia espiritual, esta parábola reflete o modo escatológico de viver a fé: conscientes de que este mundo passa, vivemos o presente com responsabilidade e expectativa. Não adianta conhecer a doutrina se ela não se traduz em escolhas. A vinda do Senhor será como um ladrão — não para nos roubar, mas para nos surpreender. E será feliz aquele servo que Ele encontrar cumprindo fielmente a sua missão.

Pedro pergunta: “Senhor, é para nós que dizes essa parábola ou para todos?” E Jesus responde com outra imagem: o administrador fiel, a quem o Senhor confia sua casa. Esse administrador não é apenas uma figura dos apóstolos ou dos líderes da Igreja; é cada batizado, cada cristão, chamado a cuidar do que lhe foi confiado: sua família, seu trabalho, sua fé, sua alma.

 

A quem muito foi dado

Contudo, quanto mais recebemos, mais será exigido de nós. Jesus é claro: “A quem muito foi dado, muito será pedido.” Essa frase, ao mesmo tempo, nos responsabiliza e nos dignifica. O Senhor confia tanto em nós, que nos dá dons, nos revela mistérios, nos coloca como guardiões do Reino. Mas isso não é para orgulho, é para serviço.

Na vida cotidiana, essa vigilância se traduz em atitudes concretas:

– Não adiar o bem que podemos fazer hoje.

– Cultivar a oração como lâmpada acesa.

– Viver com sobriedade, sem se distrair com excessos.

– Ser fiel nas pequenas tarefas.

– Estar reconciliado com Deus e com os irmãos.

A vigilância cristã não é tensão, é prontidão. Como a noiva que espera o noivo, como o lavrador que prepara a colheita, vivemos o presente com olhos fixos na eternidade.

 

Ficai preparados!

Portanto, irmãos e irmãs, não durmamos no comodismo, nem fujamos para a agitação sem sentido. Estejamos despertos, não o fim dos tempos, mas para cada momento em que o Senhor se aproxima: nas dores dos que sofrem, nos pedidos discretos dos pobres, nas oportunidades diárias de amar melhor.

Porque o Senhor virá. E feliz o servo que Ele encontrar vigilante.

Vós também, ficai preparados! Amém.





















segunda-feira, agosto 04, 2025

XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM










XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM
04 de agosto de 2025

Paróquia São Conrado de Constança



Amados irmãos, o Evangelho de hoje começa com uma situação comum: um pedido por justiça material. Alguém da multidão pede a Jesus: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo”. Era uma reclamação legítima, uma preocupação concreta com bens, com direito, com aquilo que, aos olhos humanos, parece importante para a sobrevivência e para a vida digna. Mas Jesus, que sempre vai além da superfície, recusa-se a ser somente um mediador de heranças, e Ele aproveita o momento para nos ensinar algo muito maior: o perigo da ganância.

E, então, Ele nos conta a parábola do homem rico que produziu uma grande colheita. Ele se vê diante de uma dificuldade — não por falta, mas por excesso, e seus celeiros são pequenos demais para guardar toda a sua produção. E a solução que encontra é construir armazéns maiores para acumular ainda mais. Ele fala consigo mesmo, como se fosse dono do seu destino:

“Tens muitos bens armazenados para longos anos; descansa, come, bebe, aproveita!” Mas Deus lhe diz: “Insensato! Ainda nesta noite pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que acumulaste?”

Aqui está o ponto central: a vida não se mede pela abundância dos bens, afinal, Jesus não condena o trabalho, o planejamento ou o esforço: Ele alerta contra a ilusão de que a vida pode ser garantida por posses. Aquele homem acreditava que seu futuro estava seguro porque seus depósitos estavam cheios, mas esqueceu-se de que sua alma estava vazia.

Teologicamente, esta parábola nos ensina que os bens materiais são passageiros e relativos. A vida é dom, não propriedade. O tempo que temos, o fôlego que respiramos, não nos pertencem, mas pertencem a Deus. Por isso, a verdadeira riqueza não está no que acumulamos para nós, mas no que oferecemos, no que partilhamos, no que fazemos frutificar para o bem do outro.

Jesus termina a parábola com uma frase incisiva:

“Assim acontece com quem ajunta tesouros para si, mas não é rico diante de Deus.”

Aqui está a chave: existe uma riqueza que Deus valoriza. Não é a conta bancária, nem os investimentos, nem as posses, mas a capacidade de amar, de perdoar, de partilhar, de viver para os outros. Essa é a riqueza que nem a morte pode levar, porque ela atravessa a eternidade.

Na vida prática, isso nos provoca. Quantas vezes medimos nosso valor pelo que temos? Quantas vezes dizemos: “Se eu perder isso, perco tudo”? Mas, no dia em que a vida for pedida de volta, o que restará? Os títulos? Os imóveis? As conquistas? Ou as relações, os gestos de amor, a fé que carregamos?

Não se trata de desprezar o necessário para viver. Jesus não elogia a miséria, mas denuncia a ilusão da autossuficiência. É bom ter planejamento, mas sem esquecer que tudo o que temos é provisório e deve ser usado com sabedoria e solidariedade.

Portanto, irmãos e irmãs, o convite hoje é revisar nossas prioridades. Onde está nosso coração? No que acumulamos ou no que entregamos? Em depósitos de coisas ou em tesouros eternos? Porque, no fim, todos nós ouviremos a mesma pergunta:

“E para quem ficará o que tu acumulaste?”

Que possamos responder não com medo, mas com alegria, porque escolhemos ser ricos aos olhos de Deus — ricos em amor, em misericórdia, em obras de justiça.



sexta-feira, agosto 01, 2025

O QUE SIGNIFICA O 666?








 

Quando se fala em 666 do Apocalipse de São João surgem muitas dúvidas

O que significa o 666? Para não ser enganado, é preciso saber o que os números representavam para os antigos judeus. Por exemplo: os 144 mil eleitos (Apocalipse, cap. 14) é o povo cristão, que não aderiu ao culto imperial, permanecendo fiel a Cristo. 144.000 = 12 x 12 x 1000. O número 12 era símbolo da perfeição e é citado 187 vezes na Bíblia. O número 1000 representava a glória de Deus.

 

O simbolismo do 666 é claramente interpretado pela Igreja

A mentalidade judia afirmava que o número 7 significava a perfeição e o contato com Deus, e o que estava abaixo era imperfeito, de modo que, o número 6 era sinal de imperfeição, de erro. Temos, por exemplo, os 7 Sacramentos, os 7 dons do Espírito Santo, as 7 dores de Virgem Maria e de São José, etc.; o 7 é um número símbolo de perfeição. O número 6 repetido quer dizer “perfeição da maldade”, e o autor do Apocalipse identifica a besta com o 666, fala dessa como de vários personagens, ou de alguém que perseguia os cristãos dessa época.

 

Perseguição ao Cristianismo

É bom lembrar que, o Apocalipse foi escrito em grego no fim do séc. I (95 d.C), e tinha como destinatário as comunidades cristãs da Ásia Menor (Ap 1,4; 2,1-3,22), que falavam o grego. Nessa época, essa região estava sob o domínio do Império Romano, e o Cristianismo era duramente perseguido pelo terrível imperador Domiciano (81-96 d.C). Esse imperador considerava-se um deus e exigia que todos os seus súditos o adorassem, o que os cristãos, jamais aceitaram.

 

São João, assim escreve o Apocalipse, divinamente inspirado proclama que, no final, o Cristianismo sairá vencedor. Querendo dizer quem era a besta, sem poder falar claramente para não ser acusado de crime de “lesa majestade” (estava desterrado na ilha de Patmos por causa da Palavra de Deus – cf. Ap. 1,9). De maneira que, o apóstolo fez uso da gematria, que consistia em atribuir um número formado pela soma das letras de certo alfabeto para expressar uma verdade conhecida pelos leitores.

 

Os números e os povos antigos

Os povos antigos não usavam o sistema arábico (o nosso) para expressar os números, mas sim, as próprias letras do alfabeto. Os romanos usavam apenas 7 letras. Também os judeus e os gregos atribuíam números às letras de seus respectivos alfabetos, mas de forma muito mais ampla do que os romanos, já que toda letra (grega ou hebraica) possuía um certo valor.

 

Alfabeto Grego: Alfa = 1; Beta = 2; Gama = 3; Delta = 4; Epsilon = 5; Stigma = 6 (antiga letra grega que depois de certo tempo deixou de ser usada); Zeta = 7; Eta = 8; Teta = 9; Iota = 10; Kapa = 20; Lamba = 30; Mu = 40; Nu = 50; Xi = 60; Omicron = 70; Pi = 80; Ro = 100; Sigma = 200; Tau = 300; Upsilon = 400; Phi = 500; Chi = 600; Psi = 700 e Omega = 800.

 

Alfabeto Hebraico: Alef = 1; Bet = 2; Guimel = 3; Dalet = 4; He = 5; Vau = 6; Zayin = 7; Chet = 8; Tet = 9; Yod = 10; Kaf = 20; Lamed = 30; Mem = 40; Num = 50; Sameq = 60; Ayin = 70; Pe = 80; Tsadi = 90; Kof = 100; Resh = 200; Shin = 300; Tau = 400.

 

Origem do 666

São João era de origem hebraica e escreveu o Apocalipse em grego. Se fizermos a gematria da expressão grega “NVRN RSQ” (César Nero), usando o alfabeto hebraico, totalizaremos 666, pois: N(50)V(6)R(200)N(50) R(200)S(60)Q(100)=666.

 

As comunidades da Ásia Menor falavam o grego, mas conheciam os caracteres hebraicos. São João misturou aí dois idiomas, ou seja, o grego e hebraico por esse fato. Se, acaso, o livro caísse nas mãos das autoridades romanas, que não conheciam o hebraico, não colocaria em risco seus leitores. Nero (67dC) foi o primeiro grande perseguidor dos cristãos e, na época em que foi escrito o Apocalipse (anos 90), Domiciano voltava a perseguir os cristãos com mais força e crueldade. Era “um novo Nero”. Essa e outras evidências levaram os estudiosos a interpretar que, a “Besta do Apocalipse”, era o próprio Imperador Romano, perseguidor dos cristãos.

 

Em Ap 17,10-11 reafirma-se essa interpretação. Esse versículo diz: “São também sete reis, dos quais cinco já caíram, um existe e o outro ainda não veio, mas quando vier deverá permanecer por pouco tempo. A Besta, que existia e não existe mais, é ela própria o oitavo e também um dos sete, mas caminha para a perdição”. Os reis de que trata a citação são os imperadores romanos. Considerando, cronologicamente, os imperadores a partir da vinda de Cristo, até a época da redação do livro do Apocalipse: cinco já caíram – Augusto (31aC-14dC), Tibério (14-37dC), Calígula (37-41dC), Cláudio (41-54dC) e Nero (54-68dC); 1 existe: – Vespasiano (69-79 dC); e 1 durará pouco: – Tito (79-81dC: só 2 anos!); a besta é o oitavo Domiciano (81-96dC).

 

As duas bestas do Apocalipse, quem são?

A primeira besta, que sobe do mar (v. 1), é o próprio imperador de Roma, Domiciano (como foi explicado); o mar é o Mediterrâneo, onde se localizava Roma, a capital do Império. Sua autoridade vem de satanás (v. 2) e as palavras blasfêmicas que profere (v. 5) se referem ao culto de adoração ao imperador imposto por Domiciano a todos os povos do Império. A segunda besta, que sai da terra (v.11), classificada como “falso profeta” (Ap 16, 13; 19,20; 20,10), é a ideologia do culto imperial favorecido pelas religiões pagãs. A prostituta (caps. 16-17) significa a Roma pagã e idólatra (v. 9). Os reis das terras que se prostituíram com ela (v. 2) são os povos que adotaram o culto de adoração ao imperador.

 

De maneira figurada, o 666 pode ser símbolo também de toda força, cultura, pessoa, que combata contra Deus e a sua santa Igreja. São João dizia, no séc. I, que o anticristo já estava no mundo.

 

Fonte: Canção Nova