Quando
se fala em 666 do Apocalipse de São João surgem muitas dúvidas
O
que significa o 666? Para não ser enganado, é preciso saber o que os números
representavam para os antigos judeus. Por exemplo: os 144 mil eleitos
(Apocalipse, cap. 14) é o povo cristão, que não aderiu ao culto imperial,
permanecendo fiel a Cristo. 144.000 = 12 x 12 x 1000. O número 12 era símbolo
da perfeição e é citado 187 vezes na Bíblia. O número 1000 representava a
glória de Deus.
O
simbolismo do 666 é claramente interpretado pela Igreja
A
mentalidade judia afirmava que o número 7 significava a perfeição e o contato
com Deus, e o que estava abaixo era imperfeito, de modo que, o número 6 era
sinal de imperfeição, de erro. Temos, por exemplo, os 7 Sacramentos, os 7 dons
do Espírito Santo, as 7 dores de Virgem Maria e de São José, etc.; o 7 é um
número símbolo de perfeição. O número 6 repetido quer dizer “perfeição da
maldade”, e o autor do Apocalipse identifica a besta com o 666, fala dessa como
de vários personagens, ou de alguém que perseguia os cristãos dessa época.
Perseguição
ao Cristianismo
É
bom lembrar que, o Apocalipse foi escrito em grego no fim do séc. I (95 d.C), e
tinha como destinatário as comunidades cristãs da Ásia Menor (Ap 1,4;
2,1-3,22), que falavam o grego. Nessa época, essa região estava sob o domínio
do Império Romano, e o Cristianismo era duramente perseguido pelo terrível
imperador Domiciano (81-96 d.C). Esse imperador considerava-se um deus e exigia
que todos os seus súditos o adorassem, o que os cristãos, jamais aceitaram.
São
João, assim escreve o Apocalipse, divinamente inspirado proclama que, no final,
o Cristianismo sairá vencedor. Querendo dizer quem era a besta, sem poder falar
claramente para não ser acusado de crime de “lesa majestade” (estava desterrado
na ilha de Patmos por causa da Palavra de Deus – cf. Ap. 1,9). De maneira que,
o apóstolo fez uso da gematria, que consistia em atribuir um número formado
pela soma das letras de certo alfabeto para expressar uma verdade conhecida
pelos leitores.
Os
números e os povos antigos
Os
povos antigos não usavam o sistema arábico (o nosso) para expressar os números,
mas sim, as próprias letras do alfabeto. Os romanos usavam apenas 7 letras.
Também os judeus e os gregos atribuíam números às letras de seus respectivos
alfabetos, mas de forma muito mais ampla do que os romanos, já que toda letra
(grega ou hebraica) possuía um certo valor.
Alfabeto
Grego: Alfa = 1; Beta = 2; Gama = 3; Delta = 4; Epsilon = 5; Stigma = 6 (antiga
letra grega que depois de certo tempo deixou de ser usada); Zeta = 7; Eta = 8;
Teta = 9; Iota = 10; Kapa = 20; Lamba = 30; Mu = 40; Nu = 50; Xi = 60; Omicron
= 70; Pi = 80; Ro = 100; Sigma = 200; Tau = 300; Upsilon = 400; Phi = 500; Chi
= 600; Psi = 700 e Omega = 800.
Alfabeto
Hebraico: Alef = 1; Bet = 2; Guimel = 3; Dalet = 4; He = 5; Vau = 6; Zayin = 7;
Chet = 8; Tet = 9; Yod = 10; Kaf = 20; Lamed = 30; Mem = 40; Num = 50; Sameq =
60; Ayin = 70; Pe = 80; Tsadi = 90; Kof = 100; Resh = 200; Shin = 300; Tau =
400.
Origem
do 666
São
João era de origem hebraica e escreveu o Apocalipse em grego. Se fizermos a
gematria da expressão grega “NVRN RSQ” (César Nero), usando o alfabeto
hebraico, totalizaremos 666, pois: N(50)V(6)R(200)N(50) R(200)S(60)Q(100)=666.
As
comunidades da Ásia Menor falavam o grego, mas conheciam os caracteres
hebraicos. São João misturou aí dois idiomas, ou seja, o grego e hebraico por
esse fato. Se, acaso, o livro caísse nas mãos das autoridades romanas, que não
conheciam o hebraico, não colocaria em risco seus leitores. Nero (67dC) foi o
primeiro grande perseguidor dos cristãos e, na época em que foi escrito o
Apocalipse (anos 90), Domiciano voltava a perseguir os cristãos com mais força
e crueldade. Era “um novo Nero”. Essa e outras evidências levaram os estudiosos
a interpretar que, a “Besta do Apocalipse”, era o próprio Imperador Romano,
perseguidor dos cristãos.
Em
Ap 17,10-11 reafirma-se essa interpretação. Esse versículo diz: “São também
sete reis, dos quais cinco já caíram, um existe e o outro ainda não veio, mas
quando vier deverá permanecer por pouco tempo. A Besta, que existia e não
existe mais, é ela própria o oitavo e também um dos sete, mas caminha para a
perdição”. Os reis de que trata a citação são os imperadores romanos.
Considerando, cronologicamente, os imperadores a partir da vinda de Cristo, até
a época da redação do livro do Apocalipse: cinco já caíram – Augusto
(31aC-14dC), Tibério (14-37dC), Calígula (37-41dC), Cláudio (41-54dC) e Nero
(54-68dC); 1 existe: – Vespasiano (69-79 dC); e 1 durará pouco: – Tito
(79-81dC: só 2 anos!); a besta é o oitavo Domiciano (81-96dC).
As
duas bestas do Apocalipse, quem são?
A
primeira besta, que sobe do mar (v. 1), é o próprio imperador de Roma,
Domiciano (como foi explicado); o mar é o Mediterrâneo, onde se localizava
Roma, a capital do Império. Sua autoridade vem de satanás (v. 2) e as palavras
blasfêmicas que profere (v. 5) se referem ao culto de adoração ao imperador
imposto por Domiciano a todos os povos do Império. A segunda besta, que sai da
terra (v.11), classificada como “falso profeta” (Ap 16, 13; 19,20; 20,10), é a
ideologia do culto imperial favorecido pelas religiões pagãs. A prostituta
(caps. 16-17) significa a Roma pagã e idólatra (v. 9). Os reis das terras que
se prostituíram com ela (v. 2) são os povos que adotaram o culto de adoração ao
imperador.
De
maneira figurada, o 666 pode ser símbolo também de toda força, cultura, pessoa,
que combata contra Deus e a sua santa Igreja. São João dizia, no séc. I, que o
anticristo já estava no mundo.
Fonte:
Canção Nova