terça-feira, setembro 30, 2025

SOLENIDADE DOS ARCANJOS












Os Santos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael são investidos de cargos diferentes. Celebrados, antes, em datas diferentes, mas, com as reformas do Concílio Vaticano II, agora são recordados em um só dia. A memória litúrgica ocorre em 29 de setembro.

A Bíblia os lembra com missões específicas: Miguel, o adversário de Satanás; Gabriel, o anunciador; e Rafael, o ajudante. O título de arcanjo deriva da ideia de uma corte celestial na qual os anjos estão presentes de acordo com diferentes graus e dignidades.

Os Santos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael ocupam as esferas mais altas das hierarquias angélicas. Eles têm a tarefa de conservar a transcendência e o mistério de Deus, ao mesmo tempo que tornam presente e perceptível a sua proximidade salvífica.

 

São Miguel, o Príncipe que luta contra o mal

Segundo a tradição, o Arcanjo Miguel é o príncipe que luta contra o mal, de cujos assaltos defende perenemente a fé e a Igreja. Além disso, é reconhecido o poder da intercessão, muito venerada tanto no Oriente como no Ocidente.

No mundo, são incontáveis as catedrais, os santuários, os mosteiros, as capelas dedicados ao Arcanjo Miguel. Seu nome é citado cinco vezes na “Sagrada Escritura”, deriva da expressão “Mi-ka-El”, ou seja, “quem é como Deus?”. Pela sua popularidade secular, o Anjo guerreiro que, com a sua espada desembainhada, vigia, do Castelo Santo Anjo, a Cúpula de São Pedro, é também centro de numerosas histórias e anedotas. Uma delas remonta ao dia 13 de outubro de 1884.

Após a celebração da Missa, na Capela Vaticana, Leão XIII permanece inerte por uns dez minutos. Seu rosto, dizem as testemunhas, revela, ao mesmo tempo, terror e maravilha. A seguir, o Papa Pecci vai depressa ao seu escritório, senta-se à mesa e escreve de impulso uma oração ao Arcanjo Miguel. Meia hora depois, chama o Secretário e lhe entrega a folha de papel, pedindo-lhe para ser imprensa e enviada a todos os Bispos do mundo, para que a súplica fosse recitada no final da Missa. Leão XIII narra ter tido, naqueles poucos minutos, uma estarrecedora visão de “legiões de demônios” que atacavam a Igreja, quase a ponto de destruí-la, e de ter assistido a intervenção defensiva e decisiva do Arcanjo.

 

São Gabriel, o mensageiro de Deus

O Anjo Gabriel fez o anúncio a Maria. No Evangelho de Lucas, lemos “foi enviado”; logo, o Arcanjo Gabriel é o mensageiro de Deus, encarregado de explicar à “Virgem, prometida a um homem da casa de Davi, chamado José”, o modo com o qual Deus deveria se encarnar.

Mencionado várias vezes no Antigo e no Novo Testamento, São Gabriel, mensageiro por excelência, é o Padroeiro das Comunicações, além disso, foi declarado também Padroeiro da Rádio Vaticano.

Os episódios bíblicos dos quais Gabriel é protagonista são narrados no Livro do profeta Daniel. O Arcanjo aparece a Daniel para explicar-lhe o significado de uma visão misteriosa (Dn 8,15-18), enquanto, em outra (Dn 9,20- 27), preanuncia certos eventos. Ainda no Evangelho, em Lucas, ele comunica a Zacarias sobre o nascimento do seu filho João (Lc 1, 8-20). Assim, Gabriel revela, de modo bem mais claro, ser uma criatura celeste, estar na presença de Deus e ser seu mensageiro.

 

São Rafael, a medicina de Deus

A história do arcanjo Rafael é narrada no Livro de Tobias, na época da revolta dos Macabeus. O núcleo central do livro é a viagem empreendida por Tobias para recuperar, em uma terra distante, um crédito de seu pai que se tornou indigente, com o acompanhamento de outro viajante.

Durante uma parada no rio Tigre, um grande peixe atacou o jovem, que se assustou, mas, depois, encorajado pelo viajante — que era o arcanjo Rafael disfarçado —, pegou o peixe, do qual, sempre por orientação do viajante, arrancou o coração, o fígado e a bílis do peixe e os colocou no alforje.

Quando estavam quase chegando ao destino final, o Arcanjo insistiu para que Tobias se hospedasse na família de alguns parentes, onde conheceu sua prima Sara, que a lei de Moisés lhe reservou como esposa. A jovem já estava comprometida com sete homens, todos assassinados no tálamo nupcial pelo demônio Asmodeus, por ciúme da jovem. Sara casou-se com Tobias. A nova tentativa de Asmodeus foi derrotada pelo coração e o fígado do peixe, que o viajante sugeriu colocar em um braseiro, para que a fumaça afugentasse o demônio.

Depois do casamento, Tobias voltou para a casa paterna e quis recompensar o viajante por toda a sua ajuda. Chamando de lado o pai e filho, o viajante revelou a sua identidade. Explicou-lhes que, devido às orações e caridade deles, ele havia sido enviado por Deus para curá-los e guiá-los. E falando de si mesmo, lhes disse: “Eu sou Rafael, um dos sete Anjos, sempre prontos para entrar na presença da majestade do Senhor”.













segunda-feira, setembro 29, 2025

XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM











O Evangelho (Lc 16,19-31) apresenta-nos a parábola do rico e do pobre Lázaro, que respectivamente parecem reproduzir a denúncia do profeta Amós – ricos fartos e pobres famintos – na primeira leitura. Igualmente ao profeta Amós, a catequese de Jesus rema contra a corrente do senso comum que normalmente acredita que riqueza é sinal de benção divina. Para o evangelista Lucas, a riqueza é sempre sinal de pecado, uma vez que transparece uma apropriação, em benefício próprio e egoísta, dos dons que Deus reservou e ofertou para todos.

Em discurso que recorda muito o Salmo 1, Jesus apresenta na parábola a vida de dois homens: um rico vive rodeado de luxos e festas, enquanto um necessitado chamado o Lázaro, vive na miséria e encontra-se doente. Não são dados mais detalhes sobre a vida de ambos. Não se sabe se Lázaro era um homem virtuoso e piedoso. Não diz se ele fora trabalhador ou um preguiçoso e por isto estaria sozinho e doente. Apenas o seu nome nos oferece uma pista para seu destino e sua esperança: Lázaro significa “Deus ajuda”. Quanto ao rico, também pouco se sabe sobre suas atitudes. Não se menciona se era bom ou mau cotidianamente. Se costuma ir ao templo rezar ou se era um explorador dos mais pobres. Apenas uma única atitude: uma completa indiferença ante o sofrimento e a fome de Lázaro. Por que então os dois são levados a caminhos tão diferentes e extremos na vida eterna?

O rico tornou-se a personificação do uso inadequado da riqueza. O seu luxo o levava a pensar em satisfazer unicamente suas próprias necessidades. E isto ocupou tamanho espaço em seu coração que o cegou a ponto de não enxergar alguém faminto e doente todos os dias na porta de sua casa. Ele é a pessoa cujo poder financeiro leva todos ao redor a se preocupar e servir. Ao passo que Lázaro é menosprezado, ignorado e esquecido por todos, menos por Deus.  O fato de Jesus nomear Lázaro, mas não o rico também é simbólico: revela que quando o dinheiro passa a dominar nosso coração e se apodera de nossa vida, pode fazer com que esqueçamos quem somos. Alguém sem nome não possui identidade.

Com a passagem da vida terrena para a vida eterna, a distância que era apenas temporária e remediável se torna permanente. Já não há mais possibilidades de mudança nos destinos. O abismo entre a riqueza e pobreza que era reparável pela caridade e solidariedade na vida terrena, agora na vida eterna se revela intransponível devido a separação entre a misericórdia e a ganância e o egocentrismo. No final cada um permaneceu com o que escolheu como apoio para a própria vida: os bens materiais passageiros, no caso do rico, que o levaram a perder tudo. A confiança e esperança em Deus, no caso de Lázaro, as quais permanecem para sempre.

Na segunda parte da parábola quando o rico intercede pelos irmãos que ainda estão na vida terrena, Jesus oferece mais um valioso ensinamento para os fariseus que eram especialistas em decorar a Lei, mas não em vivê-la. O rico sabia da importância da Palavra de Deus, mas escolheu não escutar seus apelos e não se deixar transformar por ela. Ao mencionar a ressurreição, Jesus ensina que nem mesmo os mais miraculosos sinais são capazes de transformar um coração que não acolheu a Palavra de Deus.

Quantas lições a Palavra de Deus tem para oferecer para nossa sociedade atual vive em constante ato de afastamento de Deus e autodivinização! A riqueza financeira cada vez mais centralizada nas mãos de poucos não é vista como algo que deve servir a todos, mas como expressão de status e domínio. A riqueza cultural que ao invés de ser usada para ensinar e servir, torna-se um meio para demonstrar superioridade e subjugamento. E a riqueza afetiva que ao invés de produzir comunhão e fraternidade é transmigrada para possessividade e dominação alienantes.

Em resumo. O evangelho nos convida a mais uma decisão vital enquanto continuamos acompanhando Jesus na subida a Jerusalém. Escolheremos imitar a vida do rico indiferente e egocêntrico denunciado na parábola e no clamor do profeta Amós?! Ou buscaremos viver a vida de fé e de esperança do pobre Lázaro cujas virtudes são também apresentadas através dos conselhos do Apóstolo Paulo para Timóteo?

Peçamos ao Deus que venha em nosso auxílio como sua Palavra e nos faça colocar em prática os valores do Reino nos tornando mais atentos aos irmãos necessitados. E assim a caridade nos torne livres para partilhar com eles aquilo que nos foi confiado pelo Senhor na esperança de multiplicarmos estes dons enquanto caminhamos, já aqui na vida terrena, para a vida eterna.


segunda-feira, setembro 22, 2025

XXV DOMINGO DO TEMPO COMUM












A Liturgia do 25º Domingo do tempo comum (ano C) reflete sobre a correta utilização dos bens que passam, a fim de que abracemos os que não passam: os bens são necessários, mas não são deuses.

Na passagem do Livro Profeta Amós (Am 8,4-7) temos um brado profético contra a exploração dos pobres na defesa da justiça de Deus, que se concretiza na construção de relações justas e fraternas.

O Profeta denunciou com coragem e ousadia as práticas para o aumento do lucro à custa dos empobrecidos.

Embora nosso contexto de exploração, enriquecimento e empobrecimento seja muito diferente do citado no tempo de Amós, constatamos que esta relação, lamentavelmente, persiste com novas expressões, às vezes mais sutis, mas não menos insanas (preços exorbitantes de medicamentos indispensáveis, a publicidade que gera falsas necessidades, produtos adulterados e impróprios para o consumo, produtos que deveriam ser evitados, pois absolutamente antiecológicos e tantos outros fatos).

Com a passagem da segunda Leitura (1 Tm 2,1-8), aprendemos que a Oração feita por um coração límpido, os horizontes da fraternidade, amizade, comunhão e solidariedade geram vida e a paz.

São Basílio Magno (séc. IV) já nos acenava que toda concentração ou desperdício gera situações de miséria e indigência.

São duras e inesquecíveis suas palavras, mas muito mais do que isto são extremamente questionadoras para todos nós:

“Não és acaso um ladrão, tu que te apossas das riquezas cuja gestão recebeste?(…)

Ao faminto pertence o pão que conservas; ao homem nu o manto que manténs guardado; ao descalço, os sapatos que estão estragando em tua casa; ao necessitado, o dinheiro  que escondeste. Cometes assim tantas injustiças quantos são aqueles a quem poderias dar.”

Evidentemente que a passagem do Evangelho não faz uma apologia à corrupção (Lc 16,1-13). É indubitavelmente impensável fazer este tipo de leitura, no mínimo, ingênuo.

O coração do discípulo deve ser indiviso e seduzido pelo Bem Maior – Deus! Com habilidade os discípulos podem gerar uma nova sociedade pondo os bens a serviço de todos, numa clara postura profética contra a ambição e a acumulação.

Considerando o contexto da Parábola de Jesus, trata-se da capacidade de renúncia de algo em favor de um bem maior.

O administrador abriu mão do lucro assegurando seu futuro na espera da gratidão de seus devedores. O que o fez injusto não foi isto, mas o que anteriormente fez e que o levou a ser despedido.

Jesus nos ensina que os discípulos devem usar os bens deste mundo, não como um fim em si mesmo, mas para conseguir algo mais importante e mais duradouro, como sinais do Reino.

As riquezas jamais devem se tornar obstáculo à Salvação e a honestidade é virtude que deve perpassar em todas as nossas relações.

Reflitamos:

  Qual deve ser o lugar dos bens materiais na vida dos discípulos do Senhor?

  Como sermos hábeis e não desonestos na busca do essencial, visto que não podemos servir a dois senhores?

  Como lido com os bens que tenho?

  Possuo os bens ou são eles que me possuem, me escravizam?

  Os bens que tenho me impedem de partilhar com alegria e  desprendimento?

– Alguns têm pouco e são escravos deste pouco, outros têm muito e nunca estão  felizes, outros ainda se alegram e são felizes com o que possuem. E eu, com quem me identifico?

De fato, o discípulo deve ser livre de todos os bens, porque tem um Bem Maior: Deus.









segunda-feira, setembro 15, 2025

EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ















A cruz de nosso Senhor Jesus Cristo está no centro da nossa fé, pois, por ela, o Senhor Jesus venceu a nossa morte e ingressou na vida de ressurreição. Por isso, São Paulo exclama: “Quanto a mim, não aconteça gloriar-me senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gl 6,14). Mas, o que é a cruz? É uma tragédia, é um sinal de derrota, é resultado de uma injustiça miserável, é silêncio de Deus, que parece esquecer a dor do Filho e se cala diante da maldade, do pecado e da morte. A cruz de Jesus, em si mesma, é um terrível escândalo… em si mesma, seria sinal que Deus não existe e, se existe, não liga para a dor humana, para a injustiça que massacra o inocente… Na cruz de Cristo está significada toda a cruz do mundo e da humanidade: a cruz do inocente que sofre, a cruz dos órfãos, dos que morrem na guerra, a cruz dos pobres, sem nome, sem vez nem voz… Na cruz do Senhor estão tantos povos e raças oprimidos, dizimados pela ganância e pelo ódio… Na cruz de Cristo está simbolizada toda dor, todo fracasso, toda solidão, todo peso do mundo… Na cruz do Senhor está tudo aquilo que nos deixa com uma pergunta presa na garganta: “Por que tanta dor, tanto sofrimento, tanta injustiça? Por que Deus se cala? Por que permite? Onde ele está?” Não pode compreender o mistério da cruz quem não se deixa atingir e questionar por estas perguntas, por estas dores, por estes prantos! Não pode proclamar o triunfo do Senhor quem não suportou o absurdo da cruz do Senhor! A cruz não é um ornamento, uma brincadeira; a cruz é um ícone, um símbolo, uma parábola impressionante e dolorosa! Na cruz está significado tudo aquilo que tanto nos apavora! E, no entanto, Jesus diz, no evangelho de hoje, que era necessário passar pela cruz: “Do mesmo modo que Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado…” (Jo 3,14). Palavra impressionante, confirmada após a ressurreição: “Não era necessário que o Filho sofresse tudo isso e assim entrasse na sua glória?” (Lc 24,26). Por que era necessário? Por que no caminho do Cristo e do cristão tem que estar a cruz, bendita e maldita? Por quê? E Para quê?

Para mostrar-nos até onde o pecado nos levou e até onde o amor de Deus está disposto a ir por nós.

Vivemos num mundo crucificado, somos uma humanidade crucificada, porque nos afastamos da vida, que é Deus. Como o povo de Israel no caminho do deserto, que perdeu a paciência e murmurou contra o Senhor (cf. 1a. leitura), assim a humanidade foi e vai se fechando para o Deus da vida e foi e vai encontrando a morte. Quantas serpentes venenosas mordem nossa existência! Mas, Deus não se cansou de nós: “Amou tanto o mundo que entregou o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crer, não morra, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). Era necessário! Era necessário mostrar a gravidade do nosso pecado, da nossa loucura de querer construir nossa existência sem Deus. Era necessário também mostrar até que ponto Deus nos leva a sério, até que ponto sofre conosco, até que ponto nos é solidário: ele não explica o sofrimento; silenciosamente, toma-o sobre os ombros, sofre conosco até o mais baixo da humilhação, da solidão e da dor: “Ele esvaziou-se de si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto de homem, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,7). No seu Filho único e querido, o Pai se condói com nossa dor, “com-sofre” conosco, como Deus de “com-paixão”. Ninguém, contemplando a cruz, pode pensar que Deus é indiferente e frio ante o sofrimento do mundo. Ele não nos explica o sofrimento; toma-o sobre os ombros, silencioso e cheio de dolorido amor e piedade! Contemplar o mistério da cruz é levar a sério que existe dor e miséria no mundo; é deixar-se tocar por todo sofrimento humano… mas é também compreender que Deus assumiu tudo isso em Jesus crucificado e venceu tudo isso na ressurreição. Contemplar a cruz dá-nos a graça de nunca perder a esperança, mesmo diante dos maiores percalços. Quem contempla a cruz, não perde a confiança em Deus, não se desespera, não se despedaça: “Do mesmo modo que Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos aqueles que nele crerem (que o contemplarem), tenham a vida eterna” (Jo 3,16). A cruz, portanto, joga-nos na realidade da vida e do mundo – realidade crua…. mas, cheios de esperança, pois sabemos que Cristo fez dela, da cruz, um sinal de amor e ressurreição.

 

Por isso a cruz era necessária; por isso Paulo não queria gloriar-se a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo; por isso hoje louvamos o mistério da cruz; por isso nos dispomos a não só traçar o sinal da cruz sobre nós com devoção, mas a viver nossa cruz unidos a Cristo, invencíveis na esperança da ressurreição; por isso cantamos hoje com a Igreja:

Ó cruz feliz, dos teus braços

do mundo o preço pendeu;

balança foste do corpo

que ao duro inferno venceu!















sexta-feira, setembro 12, 2025

O CÉU, A MORTE, O PURGATÓRIO... O QUE NOS ACONTECE NO FIM DA VIDA?










O CÉU, A MORTE, O PURGATÓRIO...

O QUE NOS ACONTECE NO FIM DA VIDA?

12 de setembro de 2025

 

Paróquia São Conrado de Constança









1. O que há depois da morte? Deus julga cada pessoa pela sua vida?

O Catecismo da Igreja Católica ensina que «a morte põe termo à vida do homem, enquanto tempo aberto à aceitação ou à rejeição da graça divina, manifestada em Jesus Cristo» «Ao morrer, cada homem recebe na sua alma imortal a retribuição eterna, num juízo particular que põe a sua vida em referência a Cristo, quer através de uma purificação, quer para entrar imediatamente na felicidade do céu, quer para se condenar imediatamente para sempre».

 

Neste sentido S. João da Cruz fala do juízo particular de cada um dizendo que «ao entardecer desta vida, examinar-te-ão no amor».

 

Catecismo da Igreja Católica, 1021-1022

 

Contemplar o mistério

Tudo se conserta, menos a morte... E a morte conserta tudo. Sulco, 878 *

Em face da morte, sereno! - É assim que te quero. - Não com o estoicismo frio do pagão; mas com o fervor do filho de Deus, que sabe que a vida é mudada, não tirada. - Morrer?... Viver! Sulco, 876

Não faças da morte uma tragédia!, porque não o é. Só aos filhos desamorados é que não entusiasma o encontro com seus pais. Sulco, 885

O verdadeiro cristão está sempre disposto a comparecer diante de Deus. Porque, em cada instante - se luta por viver como homem de Cristo -, encontra-se preparado para cumprir o seu dever. Sulco, 875

“Achei graça quando ouvi o senhor falar das "contas" que Deus lhe pedirá. Não, para vós Ele não será Juiz - no sentido austero da palavra -, mas simplesmente Jesus”. Esta frase, escrita por um Bispo santo, que consolou mais de um coração atribulado, bem pode consolar o teu. Caminho, 168

 

2. Quem são os que vão para o céu? Como é o céu?

O céu é “o fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o estado de felicidade suprema e definitiva.” S. Paulo escreve: Nem olho viu, nem ouvido ouviu, nem passou pelo pensamento do homem as coisas que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1Cor 2, 9).

 

Depois do juízo particular, os que morrem na graça e na amizade de Deus e estão perfeitamente purificados vão para o céu. Vivem em Deus, vêem-no tal como é. Estão sempre com Cristo. São para sempre semelhantes a Deus, gozam da sua felicidade, do seu Bem, da Verdade e da Beleza de Deus.

 

Esta vida perfeita com a Santíssima Trindade,esta comunhão de vida e de amor com Ela, com a Virgem Maria, com os anjos e com todos os bem-aventurados chama-se céu. Pela sua morte e ressurreição, Jesus Cristo «abriu-nos» o céu. Viver no céu é “estar com Cristo” (cf. Jo 14, 3; Flp 1, 23; 1 Ts 4,17). Os eleitos vivem «n'Ele»; mas n'Ele conservam, ou melhor, encontram a sua verdadeira identidade, o seu nome próprio. (cf. Ap 2, 17)

 

Catecismo da Igreja Católica, 1023-1026

 

Contemplar o mistério

Mentem os homens quando dizem “para sempre” nas coisas temporais. Só é verdade, com uma verdade total, o “para sempre” da eternidade. - E assim hás de viver tu, com uma fé que te faça sentir sabores de mel, doçuras de céu, ao pensares nessa eternidade que, essa sim, é para sempre! Forja, 999

Pensa como é grato a Deus Nosso Senhor o incenso que se queima em sua honra; pensa também quão pouco valem as coisas da terra que, mal começam, já acabam... Pelo contrário, um grande Amor te espera no Céu: sem traições, sem enganos: todo o amor, toda a beleza, toda a grandeza, toda a ciência...! E sem enjoar: saciar-te-á sem saciar. Forja, 995

Se transformamos os projetos temporais em metas absolutas, cancelando do horizonte a morada eterna e o fim para que fomos criados - amar e louvar o Senhor, e possuí-lo depois no Céu -, os mais brilhantes empreendimentos se tornam traições e mesmo veículo para aviltar as criaturas. Recordemos a sincera e famosa exclamação de Santo Agostinho, que havia passado por tantas amarguras enquanto desconhecia Deus e procurava fora dEle a felicidade: Criaste-nos, Senhor, para ti, e o nosso coração está inquieto enquanto não descansar em ti! Amigos de Deus, 208

Na vida espiritual, muitas vezes é preciso saber perder, aos olhos da terra, para ganhar no Céu. - Assim ganha-se sempre. Forja, 998

 

3. O que é o purgatório? É para sempre?

Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não de todo purificados, embora seguros da sua salvação eterna, sofrem depois da morte uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrar na alegria do céu. A Igreja chama Purgatório a esta purificação final dos eleitos, que é absolutamente distinta do castigo dos condenados.

 

Esta doutrina apoia-se também na prática da oração pelos defuntos, de que já fala a Sagrada Escritura: «Por isso, [Judas Macabeu] pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres das suas faltas» (2 Mac 12, 46). Desde os primeiros tempos, a Igreja honrou a memória dos defuntos, oferecendo sufrágios em seu favor, particularmente o Sacrifício eucarístico para que, purificados, possam chegar à visão beatífica de Deus. A Igreja recomenda também a esmola, as indulgências e as obras de penitência a favor dos defuntos.

 

Catecismo da Igreja Católica, 1030-1032

 

Contemplar o mistério

O purgatório é uma misericórdia de Deus, para limpar os defeitos daqueles que desejam identificar-se com Ele. Sulco, 889

Não queiras fazer nada para ganhar méritos, nem por medo das penas do purgatório. Empenha-te, desde agora e para sempre, em fazer tudo, até as coisas mais pequenas, para dar gosto a Jesus. Forja, 1041

“Esta é a vossa hora, e o poder das trevas”. - Quer dizer que... o homem pecador tem a sua hora? - Tem, sim... E Deus, a sua eternidade! Caminho, 734

 

4. O inferno existe?

Significa permanecer separado d'Ele - do nosso Criador - para sempre, por nossa própria livre escolha. E é este estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se designa pela palavra «Inferno».

 

Morrer em pecado mortal sem arrependimento e sem dar acolhimento ao amor misericordioso de Deus é escolher este fim para sempre.

 

A doutrina da Igreja afirma a existência do Inferno e a sua eternidade. As almas dos que morrem em estado de pecado mortal descem imediatamente, após a morte, aos infernos, onde sofrem as penas do Inferno, «o fogo eterno». A principal pena do inferno consiste na separação eterna de Deus, o único em Quem o homem pode ter a vida e a felicidade para que foi criado e a que aspira.

 

Jesus fala muitas vezes da «geena» do «fogo que não se apaga» (630) reservada aos que recusam, até ao fim da vida, acreditar e converter-se, e na qual podem perder-se, ao mesmo tempo, a alma e o corpo. A principal pena do inferno consiste na separação eterna de Deus.

 

As afirmações da Sagrada Escritura e os ensinamentos da Igreja a respeito do Inferno são um apelo ao sentido de responsabilidade com que o homem deve usar da sua liberdade, tendo em vista o destino eterno. Constituem, ao mesmo tempo, um apelo urgente à conversão: «Entrai pela porta estreita, pois larga é a porta e espaçoso o caminho que levam à perdição e muitos são os que seguem por eles. Que estreita é a porta e apertado o caminho que levam à vida e como são poucos aqueles que os encontram!» (Mt 7, 13-14).

 

Catecismo da igreja Católica, 1033-1036

 

Contemplar o mistério

Não esqueçais que é mais cômodo - mas é um descaminho - evitar a todo o custo o sofrimento, com a desculpa de não desgostar o próximo. Freqüentemente, esconde-se nessa inibição uma vergonhosa fuga à dor própria, já que normalmente não é agradável fazer uma advertência séria. Meus filhos, lembrai-vos de que o inferno está cheio de bocas fechadas. Amigos de Deus, 161

Um discípulo de Cristo nunca raciocinará assim: “Eu procuro ser bom, e os outros, se quiserem..., que vão para o inferno”. Este comportamento não é humano, nem se coaduna com o amor de Deus, nem com a caridade que devemos ao próximo. Forja, 952

Somente o inferno é castigo do pecado. A morte e o juízo não passam de conseqüências, que aqueles que vivem na graça de Deus não temem. Sulco, 890

 

5. Quando será o juízo final? Em que consistirá?

A ressurreição de todos os mortos, «justos e pecadores» (Act 24, 15), há-de preceder o Juízo final. Será «a hora em que todos os que estão nos túmulos hão-de ouvir a sua voz e sairão: os que tiverem praticado o bem, para uma ressurreição de vida, e os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de condenação» (Jo 5, 28-29). Então Cristo virá «na sua glória, com todos os seus anjos [...]. Todas as nações se reunirão na sua presença e Ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. [...] Estes irão para o suplício eterno e os justos para a vida eterna» (Mt 25, 31-33.46).

 

O Juízo final terá lugar quando acontecer a vinda gloriosa de Cristo. Só o Pai sabe o dia e a hora, só Ele decide sobre a sua vinda. Pelo seu Filho Jesus Cristo. Ele pronunciará então a sua palavra definitiva sobre toda a história. Nós ficaremos a saber o sentido último de toda a obra da criação e de toda a economia da salvação, e compreenderemos os caminhos admiráveis pelos quais a sua providência tudo terá conduzido para o seu fim último. O Juízo final revelará como a justiça de Deus triunfa de todas as injustiças cometidas pelas suas criaturas e como o seu amor é mais forte do que a morte (cf. Ct.8, 6).

A mensagem do Juízo final é um apelo à conversão, enquanto Deus dá ainda aos homens «o tempo favorável, o tempo da salvação» (2 Cor 6, 2). Ela inspira o santo temor de Deus, empenha na justiça do Reino de Deus e anuncia a «feliz esperança» (Tt 2, 13) do regresso do Senhor, que virá «para ser glorificado nos seus santos, e admirado em todos os que tiverem acreditado» (2 Ts 1, 10).

 

Catecismo da Igreja Católica, 1038-1041

 

Contemplar o mistério

Quando pensares na morte, apesar dos teus pecados, não tenhas medo... Porque Ele já sabe que O amas..., e de que massa estás feito. - Se tu O procurares, acolher-te-á como o pai ao filho pródigo: mas tens de procurá-Lo! Sulco, 880

“Conheço algumas e alguns que não têm forças nem para pedir socorro”, dizes-me desgostoso e cheio de pena. - Não passes ao largo; a tua vontade de salvar-te e de salvá-los pode ser o ponto de partida da sua conversão. Além disso, se reconsideras, perceberás que também a ti te estenderam a mão. Sulco, 778

O mundo, o demônio e a carne são uns aventureiros que, aproveitando-se da fraqueza do selvagem que trazes dentro de ti, querem que, em troca do fictício brilho de um prazer - que nada vale -, lhes entregues o ouro fino e as pérolas e os brilhantes e os rubis embebidos no sangue vivo e redentor do teu Deus, que são o preço e o tesouro da tua eternidade. Caminho, 708

Para salvares o homem, Senhor, morres na Cruz; e, no entanto, por um só pecado mortal, condenas o homem a uma eternidade infeliz de tormentos... Quanto te ofende o pecado, e quanto não devo odiá-lo! Forja, 1002

 

6. No final dos tempos Deus prometeu céu novo e uma nova terra. Que devemos esperar?

A esta misteriosa renovação, que há-de transformar a humanidade e o mundo, a Sagrada Escritura chama «os novos céus e a nova terra» (2 Pe 3, 13) (640). Será a realização definitiva do desígnio divino de «reunir sob a chefia de Cristo todas as coisas que há nos céus e na terra» (Ef 1, 10).

Para o homem, esta consumação será a realização final da unidade do género humano, querida por Deus desde a criação e da qual a Igreja peregrina era «como que o sacramento» (LG 1). Os que estiverem unidos a Cristo formarão a comunidade dos resgatados, a «Cidade santa de Deus» (Ap 21, 2), a «Esposa do Cordeiro» (Ap 21, 9). Esta não mais será atingida pelo pecado, pelas manchas (644), pelo amor próprio, que destroem e ferem a comunidade terrena dos homens. A visão beatífica, em que Deus Se manifestará aos eleitos de modo inesgotável, será a fonte inexaurível da felicidade, da paz e da mútua comunhão.

 

«Ignoramos o tempo em que a terra e a humanidade atingirão a sua plenitude, e também não sabemos como é que o universo será transformado. Porque a figura deste mundo, deformada pelo pecado, passa certamente, mas Deus ensina-nos que se prepara uma nova habitação e uma nova terra, na qual reinará a justiça e cuja felicidade satisfará e superará todos os desejos de paz que se levantam no coração dos homens(GS 39).

 

«A expectativa da nova terra não deve, porém, enfraquecer, mas antes ativar a solicitude em ordem a desenvolver esta terra onde cresce o corpo da nova família humana, que já consegue apresentar uma certa prefiguração do mundo futuro. Por conseguinte, embora o progresso terreno se deva cuidadosamente distinguir do crescimento do Reino de Cristo, todavia, na medida em que pode contribuir para a melhor organização da sociedade humana, interessa muito ao Reino de Deus» (DS 39).

 

Catecismo da Igreja Católica, 1043-1049

 

Enquanto aqui vivemos, o reino assemelha-se ao fermento que uma mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até que toda a massa ficou fermentada. Quem compreende o reino que Cristo propõe, percebe que vale a pena arriscar tudo para consegui-lo: é a pérola que o mercador adquire à custa de vender tudo o que possui, é o tesouro achado no campo. O reino dos céus é uma conquista difícil, e ninguém tem a certeza de alcançá-lo; mas o clamor humilde do homem arrependido consegue que as suas portas se abram de par em par. É Cristo que passa, 180

Nesta terra, a contemplação das realidades sobrenaturais, a ação da graça em nossas almas, o amor ao próximo como fruto saboroso do amor a Deus, representam já uma antecipação do céu, um começo destinado a crescer de dia para dia. Nós, os cristãos, não suportamos uma vida dupla: mantemos uma unidade de vida, simples e forte, em que se fundamentam e se compenetram todas as nossas ações. É Cristo que passa, 126

O tempo é o nosso tesouro, o “dinheiro” para comprarmos a eternidade. Sulco, 882

 

7. Por que rezar pelos falecidos?

Na Igreja Católica, o mês de novembro, é iluminado de modo particular pelo mistério da comunhão dos santos que se refere à união e à ajuda mútua que os cristãos podem prestar entre si: nós que estamos ainda na terra, os que, já certos de irem para o Céu, se purificam, antes de se apresentarem diante de Deus, dos vestígios de pecado no purgatório e os que intercedem por nós diante da Santíssima Trindade onde gozam da felicidade suprema para sempre. O Céu é o fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o estado de felicidade suprema e definitiva.

 

Catecismo da Igreja Católica, 1024.

 

“Até que o Senhor venha em Sua majestade e, com ele, todos os anjos e, tendo sido destruída a morte, todas as coisas lhe forem sujeitas, alguns dentre os seus discípulos peregrinam na terra; outros, terminada esta vida, são purificados; enquanto outros são glorificados, vendo claramente o próprio Deus trino e uno, assim como é” “Lumen Gentium, 49”.

 

Todos, porém, em grau e modo diverso, participamos da mesma caridade de Deus e do pró­xi­mo e cantamos o mesmo hino de glória a nosso Deus.

 

Catecismo da Igreja Católica 954

 

“Reconhecendo cabalmente esta comunhão de todo o corpo místico de Jesus Cristo, a Igreja terrestre, desde os primeiros tempos da religião cristã, venerou com grande piedade a memória dos defuntos (...) e, "já que é um pensamento santo e salutar rezar pelos defuntos para que sejam perdoados de seus pecados”

 

Catecismo da Igreja Católica 958

 

“A Igreja chama Purgatório esta purificação final dos eleitos que é completamente distinta do castigo dos condenados”.

 

Catecismo da Igreja Católica 1031

 

Desde os primeiros tempos, a Igreja honrou a memória dos defuntos ofereceu sufrágios em seu favor, em particular o sacrifício eucarístico, para que, uma vez purificados, possam chegar à visão beatífica de Deus. A Igreja também recomenda as esmolas, as indulgências e as obras de penitência em favor dos falecidos.

 

*Sulco , Forja e Caminho são livros de São Josemaria Escrivá

 

 

Fonte do texto : opusdei.org/pt-br


segunda-feira, setembro 08, 2025

XXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM












Irmãos e irmãs, hoje Jesus nos confronta com uma palavra contundente e libertadora: “Qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo.” Logo de início, ele não nos pede gestos pontuais nem boas intenções; ele nos chama a resolver a questão do coração, aquele lugar onde se faz a escolha definitiva entre o Senhor e as muitas coisas do mundo.

Primeiro, compreendamos a imagem que o Evangelho dispõe diante de nós. Jesus usa exemplos duros: o homem que quer construir uma torre e não calcula o custo, o rei que parte para a guerra sem ponderar as forças, para mostrar que seguir a Cristo exige lucidez e coragem.

Assim, a renúncia que ele solicita não é uma aventura temerária nem um apelo ao improviso: ela nasce do cálculo sério de quem sabe quanto vale a própria alma e não quer gastar a vida com coisas que se desfazem.

Além disso, percebam que “renunciar a tudo” funciona como metáfora do desapego: o Senhor não exige necessariamente que todos vendam bens materiais e vivam na rua; antes, Ele exige que nenhum bem possua o lugar de senhor no nosso coração. Por isso, a renúncia tem rosto interior antes de ter rosto exterior, ela desmonta ídolos íntimos: a segurança do dinheiro, a obsessão pela imagem social, o conforto que anestesia a caridade. Quando o coração se liberta dessas prisões, então as posses passam a ser instrumentos e não ditadores da vida.

Por outro lado, devemos lembrar que o chamado ao desapego assume formas distintas conforme a vocação. Logo, o matrimônio, o ministério, a vida consagrada e a vocação laical respondem à mesma exigência de fé de modos diferentes.

Assim, o casal que casa na Igreja não precisa abandonar tudo material para ser discípulo; porém, o casal concreto deve praticar a renúncia quotidiana: preferir o bem comum à ambição egoísta, partilhar o tempo e os bens, perdoar antes de contabilizar ofensas. Do mesmo modo, o consagrado assume renúncias explícitas que iluminam toda a comunidade.

Ademais, não confundamos pobreza evangélica com pauperismo moral. A verdadeira pobreza que Cristo propõe não humilha a pessoa, antes a eleva: ela esvazia para ser preenchida pelo Espírito. Neste sentido, a renúncia transforma-se em liberdade interior. Quando deixamos que o Senhor ocupe o lugar do coração, descobrimos capacidades de amar maiores do que imaginávamos; descobrimos ainda que aquilo que perdemos por amor a Deus volta multiplicado em paz e fraternidade.

O que me prende?

Praticamente, como viver hoje este chamado tão exigente? Primeiramente, façamos um inventário honesto. Hoje mesmo, com coragem e oração, perguntemo-nos: “O que me prende? Qual hábito me impede de ouvir a Deus?” Em seguida, introduzamos gestos concretos: diminuir um luxo supérfluo para ajudar uma família; reservar uma hora semanal para o serviço aos pobres; estabelecer limites no uso das redes sociais para recuperar o tempo da leitura espiritual e do diálogo familiar.

Além disso, peçamos formação: aconselhamento espiritual e acompanhamento comunitário ajudam a discernir o que a renúncia deve significar para cada um.

Finalmente, recordemos a promessa pascal que sustenta este caminho. Jesus não nos pede o impossível: Ele nos pede o coração. Portanto, enquanto caminhamos no desapego, confiemos que o Senhor preenche o vazio que criamos com sua presença. Assim, quando deixarmos redes de segurança humanas, Ele nos dará redes de sentido maiores, redes que pescam vidas para o Reino. Que, por isso, cada passo de renúncia apareça como resposta de amor ao convite que transforma: “Segue-me.” Amém.














sexta-feira, setembro 05, 2025

EXAME DE CONSCIÊNCIA: APRENDA A FAZÊ-LO















Um bom católico deve ter o costume de, com frequência, fazer um bom exame de consciência. Aprenda como deve fazê-lo.

O Exame de Consciência é uma prática espiritual essencial na vida do católico. Muito além de uma preparação para a Confissão, ele nos ajuda a crescer na humildade, no autoconhecimento e no amor a Deus. Neste artigo, você vai aprender como fazer um bom Exame de Consciência diariamente e como se preparar para o Sacramento da Penitência com profundidade.

 

O que é o Exame de Consciência e por que ele é importante?

Um bom católico deve ter o costume de, com frequência, fazer um bom exame de consciência.

De modo geral, essa é uma prática feita em preparação à confissão. Porém, a importância dela vai além do aspecto sacramental.

Este exame é um exercício que torna a nossa consciência cada vez mais sensível, capaz de identificar com maior facilidade a verdadeira intenção por trás dos nossos pensamentos, palavras, atos e omissões.

Por isso, a Igreja orienta que façamos o exame de consciência não apenas antes de procurar o Sacramento da Penitência, mas diariamente.

 

Como fazer um bom Exame de Consciência diariamente?

Basta dedicar alguns minutos antes de dormir para avaliar 3 pontos sobre a sua conduta durante o dia que passou:

O que fez de bom?

O que fez de ruim?

E no que pode melhorar?

Uma dica é sempre anotar o resultado desta breve análise em um caderninho particular. Assim, você não precisará fazer um grande esforço para lembrar dos seus pecados — sejam eles graves ou veniais — quando for fazer um exame mais profundo em vista do Sacramento da Confissão.

 

 

Exame de Consciência para a Confissão: passo a passo completo

À preparação para a Confissão é recomendável dispensar um tempo maior, já que este exame deve contemplar cada um dos mandamentos da Lei de Deus e da Igreja.

Trata-se de uma série de questionamentos que vão ajudar você a enxergar não apenas os pecados em si, mas também as más inclinações que te conduziram a cometê-los.

Ao longo do exame, pergunte-se:

“Onde eu estava quando não estava com Deus?”

Esta etapa deve levar você a perceber que cada uma das faltas cometidas — especialmente as de matéria grave — te fez perder o Céu e merecer o inferno. Esta constatação é o que chamamos de atrição.

Mas os sentimentos de culpa, vergonha ou medo — que normalmente surgem quando nos deparamos com a possibilidade da condenação eterna — não são suficientes para a confissão.

É necessário que brotem do coração duas disposições que, juntas, levam à contrição: o profundo arrependimento por ter ofendido a Deus e o firme propósito de emenda.

Por isso, lembre-se de pedir ao Espírito Santo que ilumine sua inteligência e o auxilie a encontrar meios para combater os maus hábitos e evitar as ocasiões de pecado.

 

Exame de Consciência: oração preparatória

Meu bom Deus e Salvador, Pai de misericórdia, eis-me aqui prostrado aos vossos pés, cheio de confusão e de remorsos, qual outro filho pródigo que volta arrependido à casa paterna. Não mereço perdão, porque desgostei demasiadamente a vossa bondade infinita. Mas sei que não olhais para os meus pecados senão para perdoá-los, como Pai misericordioso que sois. Pelos méritos inefáveis do vosso Filho, crucificado e morto por meu amor, pelos méritos do seu Preciosíssimo Sangue, pelas suas lágrimas e agonia, tende piedade de mim. Dai-me luz para conhecer os meus pecados; sincero arrependimento para os aborrecer; firme propósito para nunca mais os cometer; ânimo para os acusar e para cumprir com a devida penitência. Amém.

 

 

Exame de Consciência com base nos 10 Mandamentos

1º Mandamento

“Amar a Deus sobre todas as coisas”

Neguei a fé? Duvidei da existência de Deus? Escarneci da religião? Deixei de rezar por muito tempo? Declarei que o matrimônio, o sacerdócio, a confissão, a Santa Missa estão ultrapassados?

2º Mandamento

“Não tomar o Seu santo nome em vão”

Cantei músicas blasfemas? Zombei da Igreja, das cerimônias religiosas ou de seus representantes? Falei mal do Santo Padre, o Papa? Acusei a Igreja de ser falsa ou desonesta? Acusei Deus de injusto? Roguei pragas? Contei piadas em que Deus aparece como personagem, rindo d’Ele? Jurei em falso ou à toa?

3º Mandamento

“Guardar Domingos e Festas”

Passei o Domingo na frente da televisão? Faltei a Santa Missa nesse mesmo dia? Fiz piada com a Santa Missa? Disse que “já assisti missas que chega”? Fui à Santa Missa para “cumprir a obrigação”? Dediquei uma parte do meu tempo a Deus, lendo a Bíblia e rezando? Como tenho vivido o Domingo, Dia do Senhor?

4º Mandamento

“Honrar pai e mãe”

Fui desobediente aos pais, autoridades ou superiores? Desejei-lhes algum mal, talvez a morte? Obedeci-lhes em coisas contrárias à lei de Deus? Negligenciei como pai e mãe ou irmão mais velho os deveres de educação e instrução religiosa?

5º Mandamento

“Não matar”

Tive ódio? Recusei o perdão a quem me pediu? Desejei a morte para mim ou para outros? Ensinei a praticar pecados? Seduzi alguém ao pecado? Defendi o assassinato de bebês através do aborto? Desejei a guerra, ou me entusiasmei por ela? Falei que “a Terra está cheia demais, e precisa mesmo morrer gente”?

6º e 9º Mandamentos

“Não pecar contra a castidade” e “Não desejar a mulher do próximo”

Tenho visto revistas e filmes pornográficos? Defendi ou propaguei a sua leitura? Faço ou aprovo o sexo sem o matrimônio ou fora do matrimônio? Acaso me divirto observando na rua o corpo das pessoas, e fazendo gracejos com elas, ou em conversas indecentes sobre as pessoas que passam? Tenho me vestido de maneira sensual? Provoquei os outros com meu comportamento? Fiz intriga para acabar namoros ou casamentos que eu não aprovava, ou cobiçava? Aprovo a prostituição? Sou promíscuo? Zombei da virgindade de alguém? Envergonhei-me da minha virgindade, rejeitando-a?

7º e 10º Mandamentos

“Não roubar” e “Não cobiçar as coisas alheias”

Prejudiquei alguém ou tive desejo de prejudicar, enganando no troco, nos pesos e nas medidas, ou roubando? Fiz dívidas desnecessárias à subsistência? Paguei as minhas dívidas? Comprei bebidas ou cigarros a fiado, sem ter como pagar?

Gastei meu salário com outras coisas, faltando em casa para a comida? Recusei a dar esmolas, nem que seja de comida? Roubei de Deus o dinheiro que devia dar a Ele para o sustento da Sua Igreja? Deixei de devolver algo que não me pertence? Paguei com justiça os meus empregados?

8º Mandamento

“Não levantar falso testemunho”

Falei mal dos outros pelas costas? Fui fiel à verdade ao comentar acontecimentos passados? Exagerei ou inventei qualidades para ganhar um emprego ou subir no emprego? Prejudiquei alguém com minhas palavras? Fiz alguém perder o emprego? Fiz juízo errado das pessoas? Duvidei da honestidade de alguém? Acusei algum mendigo ou pedinte de desonestidade? Revelei faltas ocultas dos outros? Ridicularizei ou humilhei alguém na frente dos outros? Fui fingido? Digo aos outros que sou católico mas não frequento a Igreja? Caluniei os sacerdotes e religiosos?

 

 

Mandamentos da Igreja

1. Recebi a Sagrada Eucaristia pelo menos uma vez ao ano, por ocasião do Tempo Pascal?

2. Guardei o jejum eucarístico de uma hora antes da comunhão eucarística?

3. Cumpri o jejum e a abstinência de carne nos dias prescritos pela Igreja?

4. Confessei-me pelo menos uma vez ao ano?

5. Tenho contribuído para as necessidades materiais da Igreja segundo as minhas possibilidades?

 

 

Exame de Consciência baseado nos 7 Pecados Capitais

Os 7 Pecados Capitais – orgulho, inveja, preguiça, luxúria, avareza, gula e ira – refletem atitudes e comportamentos que podem impactar negativamente em nossa vida espiritual, emocional e social. No exame de consciência, refletir sobre essas falhas ajuda a identificar áreas que precisam de crescimento pessoal, para fortalecer nossos relacionamentos e alinhar nossas ações aos valores que promovem a harmonia e o bem-estar. Ao examinar nossa consciência com sinceridade, podemos evitar hábitos destrutivos e adotar práticas que nos aproximam de Deus, dos outros e de uma vida mais equilibrada e virtuosa.

Orgulho: “Orgulho é uma opinião falsa sobre nós mesmos.” Pense: você demonstra superioridade ao pensar, falar ou agir? É arrogante, esnobe ou busca reconhecimento constante? Fala mal dos outros, mente sobre eles ou destaca suas falhas? Evita falar com alguém ou guarda mágoas? É argumentativo ou sensível demais?

Inveja: “Inveja é a tristeza pelo bem que acontece ao próximo.” Você sente tristeza pelo sucesso ou prosperidade dos outros? Fica feliz com os fracassos alheios? Deseja o que os outros possuem?

Preguiça: “Preguiça é uma aversão que nos faz negligenciar nossos deveres.” Você evita suas responsabilidades ou prefere ociosidade? É displicente na oração ou nas tarefas espirituais?

Luxúria: “Luxúria é o desejo por prazeres contrários à pureza.” Você alimenta pensamentos ou desejos impuros? Consome conteúdo impróprio? Comete atos impuros sozinho ou com outros? Veste-se de maneira imodesta?

Avareza: “Avareza é o amor desordenado pelos bens materiais.” Você administra seus bens de forma justa? É generoso com os outros e com a Igreja?

Gula: “Gula é o amor desordenado por comer e beber.” Você come ou bebe em excesso? Usa drogas lícitas ou ilícitas de maneira inadequada? Tem algum vício em álcool ou substâncias?

Ira: “Ira é uma emoção que nos leva a repelir aquilo que nos desagrada.” Você se irrita com facilidade? Guarda rancor ou planeja vingança? Fala mal dos outros ou busca motivos para contradizê-los?

Refletir nos convida a um exame profundo de consciência, permitindo-nos reconhecer fraquezas que podem nos afastar de uma vida plena e harmoniosa. No entanto, esse reconhecimento não é o fim, mas o início. Ao identificarmos essas falhas, somos chamados a trilhar o caminho das virtudes – humildade, gratidão, diligência, pureza, generosidade, temperança e paciência – que nos guiam rumo à paz interior e espiritual.

Seguir este caminho é um esforço individual e é um compromisso com Deus, com os outros e conosco mesmos. É uma escolha diária de buscar o bem, superar nossos desafios e viver com mais amor, compaixão e propósito.

 

 

Guia de Confissão: um dos momentos mais importantes da sua vida precisa de direcionamento

O Guia de Confissão é um livro completo para quem quer entender e viver melhor o Sacramento da Penitência. Ele é ideal tanto para quem já se confessa regularmente quanto para quem deseja retomar esse hábito ou aprender mais sobre ele.

No livro, você encontrará uma explicação clara sobre a confissão, baseada no Catecismo da Igreja Católica e nos ensinamentos dos santos. Além disso, há um passo a passo prático para se preparar bem, incluindo um exame de consciência detalhado com base nos Dez Mandamentos e nos pecados capitais, ajudando a reconhecer as próprias faltas e a fazer uma confissão mais sincera.

O guia também responde às principais dúvidas sobre o sacramento, como quais pecados precisam ser confessados, qual a diferença entre pecado mortal e venial e com que frequência se deve procurar a confissão. Para tornar a experiência ainda mais enriquecedora, o livro traz orações para antes e depois do sacramento, ajudando a vivê-lo com mais profundidade.

Com um conteúdo claro e acessível, o Guia de Confissão é um excelente companheiro para quem deseja se aproximar de Deus por meio desse sacramento tão importante.