segunda-feira, setembro 08, 2025

XXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM












Irmãos e irmãs, hoje Jesus nos confronta com uma palavra contundente e libertadora: “Qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo.” Logo de início, ele não nos pede gestos pontuais nem boas intenções; ele nos chama a resolver a questão do coração, aquele lugar onde se faz a escolha definitiva entre o Senhor e as muitas coisas do mundo.

Primeiro, compreendamos a imagem que o Evangelho dispõe diante de nós. Jesus usa exemplos duros: o homem que quer construir uma torre e não calcula o custo, o rei que parte para a guerra sem ponderar as forças, para mostrar que seguir a Cristo exige lucidez e coragem.

Assim, a renúncia que ele solicita não é uma aventura temerária nem um apelo ao improviso: ela nasce do cálculo sério de quem sabe quanto vale a própria alma e não quer gastar a vida com coisas que se desfazem.

Além disso, percebam que “renunciar a tudo” funciona como metáfora do desapego: o Senhor não exige necessariamente que todos vendam bens materiais e vivam na rua; antes, Ele exige que nenhum bem possua o lugar de senhor no nosso coração. Por isso, a renúncia tem rosto interior antes de ter rosto exterior, ela desmonta ídolos íntimos: a segurança do dinheiro, a obsessão pela imagem social, o conforto que anestesia a caridade. Quando o coração se liberta dessas prisões, então as posses passam a ser instrumentos e não ditadores da vida.

Por outro lado, devemos lembrar que o chamado ao desapego assume formas distintas conforme a vocação. Logo, o matrimônio, o ministério, a vida consagrada e a vocação laical respondem à mesma exigência de fé de modos diferentes.

Assim, o casal que casa na Igreja não precisa abandonar tudo material para ser discípulo; porém, o casal concreto deve praticar a renúncia quotidiana: preferir o bem comum à ambição egoísta, partilhar o tempo e os bens, perdoar antes de contabilizar ofensas. Do mesmo modo, o consagrado assume renúncias explícitas que iluminam toda a comunidade.

Ademais, não confundamos pobreza evangélica com pauperismo moral. A verdadeira pobreza que Cristo propõe não humilha a pessoa, antes a eleva: ela esvazia para ser preenchida pelo Espírito. Neste sentido, a renúncia transforma-se em liberdade interior. Quando deixamos que o Senhor ocupe o lugar do coração, descobrimos capacidades de amar maiores do que imaginávamos; descobrimos ainda que aquilo que perdemos por amor a Deus volta multiplicado em paz e fraternidade.

O que me prende?

Praticamente, como viver hoje este chamado tão exigente? Primeiramente, façamos um inventário honesto. Hoje mesmo, com coragem e oração, perguntemo-nos: “O que me prende? Qual hábito me impede de ouvir a Deus?” Em seguida, introduzamos gestos concretos: diminuir um luxo supérfluo para ajudar uma família; reservar uma hora semanal para o serviço aos pobres; estabelecer limites no uso das redes sociais para recuperar o tempo da leitura espiritual e do diálogo familiar.

Além disso, peçamos formação: aconselhamento espiritual e acompanhamento comunitário ajudam a discernir o que a renúncia deve significar para cada um.

Finalmente, recordemos a promessa pascal que sustenta este caminho. Jesus não nos pede o impossível: Ele nos pede o coração. Portanto, enquanto caminhamos no desapego, confiemos que o Senhor preenche o vazio que criamos com sua presença. Assim, quando deixarmos redes de segurança humanas, Ele nos dará redes de sentido maiores, redes que pescam vidas para o Reino. Que, por isso, cada passo de renúncia apareça como resposta de amor ao convite que transforma: “Segue-me.” Amém.