O
Evangelho de hoje nos fala de algo profundamente humano: a espera. Esperar é
difícil. Esperar rezando, então, é quase um exercício de fé pura. Jesus conta a
parábola da viúva insistente, aquela mulher simples, sem poder, sem influência,
que vai diariamente ao juiz solicitando justiça, afinal, o juiz, homem frio,
indiferente e sem temor de Deus, se cansa e diz: “Vou fazer justiça, senão essa
mulher não me deixa em paz.”
É
curioso, não? O juiz age por cansaço, não por compaixão. Mas Jesus usa essa
cena para revelar algo grandioso: se até um juiz injusto cede à insistência de
uma viúva, quanto mais Deus, que é justo e amoroso, ouvirá os clamores dos seus
filhos.
Aqui
está o coração da parábola: Deus não é surdo, portanto, Ele escuta o grito dos
que sofrem, o pranto dos que esperam, o silêncio dos que já não têm forças para
falar. Às vezes, nós é que não percebemos o modo como Ele responde. Porque Deus
não é um juiz distante; Ele é Pai. E um pai não dá qualquer resposta: Ele dá a
melhor.
Deus
fará justiça!
No
entanto, o Evangelho nos desafia a olhar mais fundo: a justiça de Deus não é
vingança, é fidelidade. Quando Jesus diz que o Pai “fará justiça aos seus
escolhidos que gritam por Ele”, Ele não promete que todos os problemas humanos
desaparecerão. Ele promete algo maior: a certeza de que o mal não tem a última
palavra.
Pensemos
nisso. O mundo é cheio de injustiças, de dores, de lágrimas não enxugadas,
então, diante disso, muitos se perguntam: “Onde está Deus?”: Está lá,
exatamente onde sempre esteve: ao lado dos que clamam, ainda que o grito pareça
cair no vazio. O tempo de Deus não é o nosso, e a Sua justiça não é cálculo
humano; é restauração. Ele não devolve o que perdemos; Ele recria o que foi
destruído.
A
viúva da parábola nos ensina o segredo da fé perseverante: rezar sem desistir.
Jesus mesmo começa o Evangelho dizendo: “É preciso orar sempre e nunca
desanimar”, afinal, Perseverar na oração é um ato de resistência espiritual. É
dizer, com a vida: “Eu ainda acredito, mesmo quando não entendo.”
Quantas
vezes, irmãos, oramos por algo e parece que o céu permanece fechado? Quantas
vezes a dor parece mais rápida do que a resposta divina? Pois bem, é exatamente
aí que a fé se purifica. Porque a oração não serve para mudar a vontade de
Deus, mas para moldar a nossa vontade à d’Ele.
No
fim da parábola, Jesus lança uma pergunta que corta fundo: “Mas quando o Filho
do Homem vier, encontrará fé sobre a terra?” Ele não pergunta se encontrará
igrejas, nem rituais, nem palavras bonitas, pergunta se encontrará fé viva,
aquela que continua clamando, acreditando e esperando, mesmo na escuridão.
Deus
fará justiça, sim. Não da forma que o mundo entende, mas da forma que salva.
Ele ouve os clamores dos corações fiéis, mesmo quando esses clamores são
somente lágrimas silenciosas.