Irmãos
e irmãs, a palavra que hoje ouvimos toca o cerne da autoridade de Cristo e do
lugar que Ele ocupa na economia da salvação: “Quem me rejeita, rejeita aquele
que me enviou.”
Assim,
quando alguém fecha o ouvido ao anúncio do Evangelho, esse gesto não se esgota
numa recusa humana qualquer; ele atinge a trama mesma da revelação, porque o
Verbo encarnado procede do Pai e torna visível o rosto daquele que nos ama
desde sempre. Portanto, hostilizar o Mensageiro é, em última instância, recusar
o próprio Pai que o envia.
Logo,
percebamos a lógica do enviado. Na Escritura, o enviado, o “apóstolo”, traz
consigo a presença do que envia. Não se trata de representação formal, mas de
comunhão hipostática: o Filho revela o Pai, e o Pai age no Filho.
Assim,
a rejeição dirigida a Jesus assume dimensão teológica: ela separa o homem da
fonte primeira do amor. Os Pais da Igreja sempre entenderam isso como ofensa
que ultrapassa o indivíduo, porque nega o dom que sustenta a criação e a
história redentora.
Caridade
paciente
Além
disso, a frase afirma também o valor do ministério apostólico e da missão. Os
missionários, os sacerdotes, os catequistas e os leigos que anunciam o
Evangelho não são empresários de ideias; são portadores de uma presença
gratuita. Por isso, quando alguém recusa a pregação ou atrapalha a caridade que
brota da Palavra, ele coloca-se contra a economia sacramental que Deus
instituiu. A comunidade cristã, ao enviar, assume responsabilidade por este
dom, e ao acolher, reconhece no outro o espaço onde Cristo se oferece.Por outro
lado, precisamos distinguir rejeição de incompreensão. Nem toda resistência é
malícia deliberada; muitas vezes nasce do medo, da ferida cultural, das ofensas
sofridas. Portanto, a resposta evangélica não é retaliar, mas insistir em
caridade paciente e testemunho coerente.
Mesmo
quando o Messias é recusado, a vida santa e a simplicidade do testemunho
tornam-se argumentos que falam mais alto do que palavras retóricas. Os grandes
mestres espirituais aconselham que se suporte a incompreensão com oração e
serviço, porque assim se reabilita o rosto do Pai.
Em
seguida, essa realidade exige de nós decisões práticas e urgentes. Primeiro,
cuidemos da formação de quem envia: preparemos pregadores e mensageiros com
oração, estudo e humildade, para que neles a Palavra se torne credível.
Segundo, tornemos a casa da Igreja hospital de acolhida, onde se cuidam feridas
e se responde à dor com justiça e compaixão, de modo que menos corações se
fechem. Terceiro, pratiquemos a paciência corajosa: rezemos pelos que rejeitam,
acompanhemos com obras, abramos canais de diálogo sem ceder na verdade.
Transformar
pelo amor
Ademais,
a passagem nos adverte contra a tentação de confundir recepção fria com
neutralidade religiosa. Quando a sociedade exclui a mensagem cristã do espaço
público, não estamos diante de mero desacordo civil, estamos diante de uma
prova para a fé: permanecer fiel sem vontade de impor, anunciar sem violência,
testemunhar sem manipular. A forma mais pura de evangelização não busca
domínio, mas transforma pelo amor que se faz serviço concreto e justiça.
Ainda,
convictos de que a vitória última pertence ao Senhor, mantenhamos a esperança.
O Rejeitado pelos homens é o mesmo que ressurge e vence a morte. Assim, a
aparente derrocada do Mensageiro não anula o mandato do Pai, antes o confirma;
cada rejeição que sofremos torna-se ocasião para maior fidelidade e oração. A
missão prossegue porque o Espírito sustenta os enviados e renova a coragem das
comunidades.
Finalmente,
façamos hoje um exame sincero: em que ocasiões nós próprios rejeitamos o
Mensageiro? Em que atitudes fechamos as portas ao dom do Pai, preferindo
segurança ou conforto ao risco do seguimento? Ao identificar essa resistência,
peçamos conversão e abertura. Que a Mãe que ouviu e guardou a Palavra nos ajude
a acolhê-la sempre com docilidade, e que o Espírito nos dê coragem para
continuar a anunciar o Cristo que revela o Pai, mesmo quando a porta se fecha.
Amém.