Em
cada mulher grávida existe um sinal da vida divina entrando no mundo. Toda vida
é santificada no seio da mulher e toda mulher grávida, a exemplo de Maria
grávida de Jesus, pede que abramos as portas do mundo e de nossas vidas
pessoais para que Deus possa entrar: “abri as portas para que ele possa
entrar”, cantamos no salmo responsorial. Este é o pedido da Liturgia deste
Domingo : abrir as portas da sociedade, abrir as portas de nossas casas, abrir
as portas da nossa comunidade, da cidade... para que ele possa entrar. O modo
como Deus entra no mundo é permitindo o nascimento da vida. A mulher grávida,
desde todo o sempre, e mais especialmente olhando para o sinal da Virgem Mãe, é
um pedido para que Deus possa entrar e estar em nosso meio. Que pedido é este?
O pedido para que a vida nasça, para que nasça e seja cuidada e tratada
dignamente. Preparar-se para o Natal avaliando o modo como cuidamos da vida,
como protegemos a vida, como respeitamos a vida humana.
Tem
um detalhe, ao qual eu que gostaria de chamar sua atenção: a surpresa de Deus
assusta. O primeiro a se assustar com a surpresa de Deus foi José. Ficou tão
atrapalhado diante da surpresa de Deus que começou a organizar um plano para
fugir do compromisso que Deus lhe tinha reservado. José pode ser proposto como
exemplo de quem foge da preparação do Natal para não assumir compromisso diante
da vida. O Evangelho dizia que ele recebeu a visita de um anjo para orientá-lo
como proceder. A visita do anjo é o modo que São Mateus encontrou para falar da
experiência intima de Deus na vida de José. Como José, é no encontro íntimo com
Deus que aprendemos a não desistir do seu projeto. O encontro com Deus
transforma a tentação de abandonar o projeto divino, que pede que eu me envolva
em pessoa para assumir a missão que Deus confia a mim e a cada um de nós. Três
modos, portanto, de nos preparar para o Natal: cultivando a virtude da alegria
espiritual, perceber os sinais da gravidez da vida nascendo perto de nós e não
abandonar o projeto que Deus propõe a cada um de nós em forma de missão.
A
conversão de José, que o impediu de seguir com o projeto de abandono, aconteceu
em uma experiência pessoal com Deus. Foi nessa experiência que ouviu o
encorajamento divino: “não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque
ela concebeu pelo Espírito Santo” (E). Assim, uma motivação essencial para se
preparar para o Natal é a experiência pessoal de encontro com Deus. Essa
experiência pode não ser tão imediata ou extraordinária como a de José, e
talvez se prolongue por toda a vida. No entanto, é exatamente esse encontro
pessoal, ouvindo a voz divina falar em nossa história, que nos fortalece
espiritualmente para não abandonar o projeto de Deus — nem neste Natal, nem em
outros. Trata-se de aprender a perceber os sinais de Deus no dia a dia, em
situações simples e em pessoas comuns, como era aquele casal pobre que se
chamava José e Maria (E).
Concluímos
nossa caminhada de preparação para o Natal reconhecendo que Deus se aproxima de
nós com sinais discretos, cujo maior se encontra onde a vida floresce. Foi
assim na gravidez de Maria, quando Deus entrou na história humana pelo ventre
de uma mulher, assumindo nossa fragilidade. O Natal é, portanto, um convite a
redescobrir a simplicidade, a acolhida e o compromisso diante do projeto
divino. Preparar-se para o Natal é aprender a reconhecer o Emanuel, o “Deus
conosco”, nos pequenos sinais da vida cotidiana. Inspirados pela
espiritualidade de São Francisco de Assis, compreendemos que celebramos
verdadeiramente o Natal quando damos lugar ao Menino Jesus em nosso coração e,
com toda a simplicidade e pobreza de nossa vida, o transformamos em uma manjedoura
de amor.





