Hoje, a Igreja levanta a voz e anuncia uma notícia
que atravessa os séculos e não perde a força: hoje nasceu para vós o Salvador.
Antes de tudo, essa palavra “hoje” não aponta apenas para uma data no
calendário, mas para um acontecimento vivo, atual, pulsando agora no meio de
nós. Deus não fala do passado distante; Ele entra no tempo humano e escolhe
nascer dentro da nossa história concreta, com suas dores, seus medos e suas
esperanças.
Além disso, o nascimento do Salvador acontece longe
dos palácios e do barulho do poder. Deus escolhe a simplicidade, o silêncio da
noite, o chão duro de uma manjedoura. Dessa forma, Ele revela algo essencial: a
salvação não nasce da força, mas do amor que se abaixa. Enquanto o mundo corre
atrás de grandeza, Deus se faz pequeno. Enquanto muitos buscam controle, Deus
oferece proximidade.
Em seguida, percebemos que o anjo não diz apenas
“nasceu um Salvador”, mas afirma “nasceu para vós”. Aqui, o Evangelho toca
fundo. O Filho de Deus não nasce de modo genérico, distante, impessoal. Ele
nasce para cada um, para quem crê e para quem duvida. Jesus nasce para quem
acerta e para quem cai, e para quem se sente digno e, sobretudo, para quem se
sente perdido. O céu se inclina porque a humanidade precisa de salvação, não de
discursos vazios.
Ao mesmo tempo, o título dado ao Menino carrega um
peso teológico imenso: Salvador. Isso significa que Ele vem libertar, curar,
reconciliar e dar sentido novo à vida. Jesus não nasce para decorar presépios
nem para inspirar bons sentimentos passageiros. Ele nasce para salvar do
pecado, da morte e do medo que paralisa o coração humano. Onde Ele chega, a
noite começa a perder espaço.
Por outro lado, esse nascimento nos provoca. Se hoje
nasceu para nós o Salvador, então algo precisa nascer também dentro de nós.
Precisa nascer uma fé mais simples. Precisa nascer um amor mais concreto, de
uma esperança menos ingênua e mais firme. O Natal não pede apenas emoção; ele
pede conversão. Ele pede que abramos espaço para Cristo, assim como Maria
abriu, assim como José confiou, assim como os pastores caminharam na noite.
Por fim, o anúncio de hoje nos chama à decisão. Ou
deixamos o Salvador entrar na nossa vida, ou continuamos fechando as portas do
coração. Deus não invade, Ele se oferece. Ele não impõe, Ele convida. Hoje, Ele
nasce de novo para cada um de nós e espera acolhida. Que não falte lugar para
Ele em nossa casa interior, para que o Natal não termine na decoração, mas
continue na vida.
Que hoje, verdadeiramente hoje, o Salvador encontre
em nós um coração aberto, uma fé viva e uma vida disposta a caminhar com Ele.
Amém.










