A partir das 13h30min, na Catedral Metropolitana de
São Sebastião, na Avenida Chile, no centro do Rio de Janeiro, espero encontrar
todas as forças vivas de nossa Arquidiocese: nosso reverendo clero,
representantes de todas as paróquias e capelas, os religiosos e as religiosas,
os consagrados, os seminaristas, os jovens, gloriosa esperança da Igreja, as
pastorais, serviços, irmandades e associações, enfim, todo o povo santo de Deus
para agradecermos as muitas graças que a Santíssima Trindade nos concedeu nesse
ano, particularmente pela JMJRio 2013, que tantos benefícios se faz sentir na
ação evangelizadora desta grande cidade.
Nosso Senhor Jesus Cristo chama todos os seus
discípulos à unidade. Unidos na esteira dos mártires, os cristãos devem
professar juntos a mesma verdade sobre a Cruz. A Cruz! A corrente anticristã
propõe dissipar o seu valor, esvaziá-la do seu significado, negando que o homem
possa encontrar nela as raízes da sua nova vida e alegando que a Cruz não
consegue nutrir perspectivas nem esperanças: o homem — dizem — é um ser
meramente terreno, que deve viver como se Deus não existisse.
A Igreja, como mãe e mestra, deve estar empenhada em
libertar-se de todo o apoio puramente humano, para viver profundamente a lei
evangélica das Bem-aventuranças. Isso é tão significativo que o próprio Papa
Francisco fixou as Bem-aventuranças como tema dos três próximos anos para as
Jornadas da Juventude, colocando em relevo a misericórdia, o perdão e a
acolhida de todos com a mesma caridade com que Cristo acolhe seus discípulos.
Ciente de que a verdade não se impõe senão pela sua
própria força, que penetra nos espíritos de modo ao mesmo tempo suave e forte,
nada procura para si própria senão a liberdade de anunciar o Evangelho. De
fato, a autoridade da Igreja exerce-se no serviço da verdade e da caridade.
O anúncio messiânico – "completou-se o tempo e o
Reino de Deus está perto" – e o consequente apelo – "convertei-vos e
crede no Evangelho" (Mc 1, 15) –, com os quais Jesus inaugura a sua
missão, indicam o elemento essencial que deve caracterizar e ser o centro
propulsor da nossa unidade arquidiocesana: a exigência fundamental da
evangelização em cada etapa do caminho salvífico da Igreja.
O Concílio Vaticano II apela tanto à conversão pessoal
como à conversão comunitária. O anseio de cada Comunidade cristã pela unidade
cresce ao ritmo da sua fidelidade ao Evangelho. Ao referir-se às pessoas que
vivem a sua vocação cristã, o Concílio fala de conversão interior, de renovação
da mente e da ação pastoral. Assim, cada um tem que se converter mais
radicalmente ao Evangelho e, sem nunca perder de vista o desígnio de Deus, deve
retificar o seu olhar para fazer a vontade Dele em renovado ardor missionário,
levando a boa-nova de Cristo nas redes de comunidade, indo ao encontro dos que
estão afastados.
O Papa Francisco, na sua Encíclica Lumen Fidei, no
número 47, ensina que: "A unidade da Igreja, no tempo e no espaço, está
ligada com a unidade da fé: 'Há um só Corpo e um só Espírito, (...) uma só fé'
(Ef 4, 4-5). Hoje poderá parecer realizável a união dos homens com base num compromisso
comum, na amizade, na partilha da mesma sorte com uma meta comum, mas sentimos
muita dificuldade em conceber uma unidade na mesma verdade. Parece-nos que uma
união do gênero se oporia à liberdade do pensamento e à autonomia do sujeito.
Pelo contrário, a experiência do amor diz-nos que é possível termos uma visão
comum precisamente no amor: neste, aprendemos a ver a realidade com os olhos do
outro e isto, longe de nos empobrecer, enriquece o nosso olhar.
O amor
verdadeiro, à medida do amor divino, exige a verdade e, no olhar comum da
verdade que é Jesus Cristo, torna-se firme e profundo. Esta é também a alegria
da fé: a unidade de visão num só corpo e num só espírito. Neste sentido, São
Leão Magno podia afirmar: 'Se a fé não é una, não é fé".
O Papa pergunta qual é o segredo desta unidade?
"A fé é una, em primeiro lugar, pela unidade de Deus conhecido e
confessado.
Todos os artigos de fé se referem a Ele, são caminhos para conhecer
o seu ser e o seu agir; por isso, possuem uma unidade superior a tudo quanto possamos
construir com o nosso pensamento; possuem a unidade que nos enriquece porque se
comunica a nós e nos torna um".
A imensa promessa e as energias vibrantes de uma nova
geração de católicos estão esperando para ser aproveitadas para a renovação da
vida da Igreja e do legado da JMJ de fazer da nossa Arquidiocese uma Igreja
unida, em permanente estado de missão. Estejamos, particularmente, próximos dos
homens e mulheres, dos jovens e dos que estão na melhor idade, da infância e
das crianças, e também dos que estão empenhados em seguir Cristo sempre com
maior perfeição na generosidade, abraçando os conselhos evangélicos. Com o
enfraquecimento progressivo dos valores tradicionais cristãos e a ameaça de um
período no qual nossa fidelidade ao Evangelho pode nos custar muito caro, a
verdade de Cristo não apenas precisa ser compreendida, articulada e defendida,
mas proposta com alegria e confiança, como a chave para a realização humana
autêntica e para o bem-estar da sociedade como um todo, recordando que Cristo
nos chama a viver a unidade que só Ele pode nos dar.
Nossa Igreja deve ser uma
Igreja em permanente estado de missão. Que a unidade que esperamos seja
perpassada pelo nosso compromisso pela fidelidade a Cristo, ao seu Evangelho,
em sintonia com a Santa Igreja, sendo santo na sua vida cotidiana e eclesial.
Viver a santidade não é um privilégio de poucos. Pelo batismo todos nós
recebemos a herança de nos tornarmos Santos. Ser santo é uma vocação para todos
os fiéis, e é a vocação natural da própria Igreja Particular do Rio de Janeiro.
Todos nós somos chamados a percorrer o caminho da santidade, e o caminho que
leva à santidade e à unidade tem um nome e um rosto: Jesus Cristo. No
Evangelho, Ele nos mostra a estrada das Bem-Aventuranças.
Por isso, no dia de nossa Unidade Arquidiocesana
rezemos ao Cristo Redentor para que possamos acolher e anunciar o Reino dos
Céus. E isso somente será possível para aqueles que não depositam sua confiança
nas coisas humanas, no ajuntamento do ser, do ter e do poder, mas no amor de
Deus. Unidos em Cristo, buscando viver com o testemunho dos Santos, sejamos
encorajados a não ter medo de caminhar contra a corrente ou ser mal-entendidos
e ridicularizados quando falamos de Cristo e do Evangelho, que evangelizamos
para superar as diferenças, e, na diversidade de carismas e como Igreja,
possamos testemunhar Cristo "ut omnes unum sint".
Dom
Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)