Segundo a tradição, Ana e seu marido Joaquim já estavam com idade avançada e ainda não tinham filhos. O que, para os judeus de sua época, era quase um desgosto e uma vergonha também. Os motivos são óbvios, pois os judeus esperavam a chegada do Messias, como previam as sagradas profecias.
Assim, toda esposa judia esperava que dela nascesse o Salvador e, para tanto, ela tinha de dispor das condições para servir de veículo aos desígnios de Deus, se assim Ele o desejasse. Por isso, a esterilidade causava sofrimento e vergonha, e é nessa situação constrangedora que vamos encontrar o casal.
Mas Ana e Joaquim não desistiram. Rezaram por muito e muito tempo até que, quando já estavam quase perdendo a esperança, Ana engravidou. Não se sabe muito sobre a vida deles, pois passaram a ser citados a partir do século II, mas pelos escritos apócrifos. E eles apenas revelam o nome dos pais da Virgem Maria, que é a Mãe do Messias.
No Evangelho, Jesus disse: “Dos frutos conhecereis a planta”. Assim, não foram precisos outros elementos para descrever-lhes a santidade, senão pelo exemplo de santidade da filha Maria. Afinal, Deus não escolheria filhos sem princípios ou dignidade para fazer deles o instrumento de sua ação.
Maria, cujo nascimento comemoramos no dia 8 de setembro, não só tirou dos ombros dos pais o peso de uma vida estéril, mas ainda recompensou-os pela fé ao ser escolhida para, no futuro, ser a Mãe do Filho de Deus.
A princípio, Sant’Ana era comemorada em dias diferentes no Ocidente e no Oriente. Em 25 de julho pelos gregos e no dia seguinte pelos latinos. A partir de 1584, também são Joaquim passou a ser cultuado, no dia 20 de março.
A festa de ambos registra-se, desde 1969, em 26 de julho. Em algumas regiões, seu culto e devoção são muito vivos. Atualmente, são muitas as igrejas dedicadas a eles, pois a tradição nos sugere que os avós de Jesus devem ser reverenciados. Foram eles que prepararam, aqui na Terra, a Mãe de nosso Salvador.
Sobre os pais da Virgem Maria, não temos na Bíblia dado algum. O Protoevangelho de São Tiago, apócrifo do século II, oferece os dados de uma tradição. Nele se narra o nascimento milagroso de Maria, de pais estéreis. O anjo adverte Joaquim, depois de quarenta dias de jejum no deserto, que sua oração fora ouvida enquanto Ana o esperava na Porta Dourada de Jerusalém. Vê-se que esse relato está calcado sobre o texto da concepção de Samuel. Sem dúvida que tudo nesta festividade se refere a Cristo, pois é por causa Dele que comemoramos seus avós. Deus enviou o Seu Filho, que se encarnou em uma família humana, tornando-se um de nós.
Nesse dia comemoramos o Dia dos Avós. O papel dos avós na vida da família é muito importante. A sabedoria popular costuma dizer que avó é mãe duas vezes, porque é mãe da mãe, ou do pai. O mesmo raciocínio se usa para o avô.
Na sociedade moderna, talvez esses valores se percam ou estão ameaçados de se perder, seja pela não valorização do idoso, seja pela confusão familiar que hoje existe. Porém, cabe àqueles que valorizam a família incutir nos filhos o carinho pelos avôs, pois eles têm um papel importante na transmissão da fé, das informações, das histórias familiares e, principalmente, em demonstrar que o valor da pessoa está não naquilo que ela produz ou ganha financeiramente, mas em sua dignidade humana. Mesmo com o estatuto da pessoa idosa, quando não se tem a mudança de mentalidade, os problemas e injustiças continuam. Eis a nossa grande missão como Igreja nos tempos materialistas e egoístas de hoje. Rezemos por nossos avós e confiemos sempre na importância da pessoa de terceira idade, pela sua santidade e experiência na vida de todos nós.
Que São Joaquim e que Santa Ana abençoem todas as famílias! À Sant´Ana, padroeira secundária de nossa Arquidiocese, confiamos todas as nossas famílias, particularmente nossos avós.
Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ