segunda-feira, julho 09, 2018

XIV DOMINGO DO TEMPO COMUM




1 – Duas características do profetismo Bíblico

Há dois Domingo atrás, no dia 24 de junho, celebramos o nascimento do grande profeta João Batista. Precursor de Jesus, homem corajoso, pagou com sua vida a coragem de testemunhar a verdade diante dos políticos e dos reis de seu tempo. No Domingo passado, celebramos Pedro e Paulo, que também pagaram com a vida o testemunho do Evangelho. Cito João Batista, Pedro e Paulo para lembrar duas características do profetismo Bíblico. A primeira característica faz do profeta um sinal de contradição. O profeta não é alguém que prevê o futuro, como se ouve, mas é alguém que fala em nome de Deus. Por isso, sua pregação e seu modo de viver — como era o caso de João Batista — incomoda principalmente os poderosos. É isso que constitui a segunda característica da atividade profética: desinstalar quem se acomodou; mexer com quem se instalou na religião, com quem se instalou na vida... O profeta quando fala, age e testemunha em nome de Deus para questionar o modo como se está vivendo. 

2 – A difícil missão de ser profeta

Aquilo que conhecemos da história de João Batista, de Pedro e de Paulo, aconteceu também com Ezequiel, relatado na 1ª leitura. Deus o chama e o envia para anunciar a Palavra a um povo, que o próprio Deus caracteriza como “bando de rebeldes – cabeça dura – coração de pedra”. Por quê? O motivo principal está no interesse pela qualidade de vida do povo. Deus quer que o povo viva bem, por isso, envia Ezequiel para alertar o povo, propondo mudança no modo de pensar — deixar de ser “cabeça dura” — e mudança do coração, mudança no modo de viver. A vocação do profeta não consiste em pregar ameaças, mas propor um modo de viver diferente, que não termine em morte, em tragédia. A missão profética, portanto, é uma missão para valorizar a vida, para produzir mais vida. O profeta realiza sua missão na fragilidade humana; ele é um “filho do homem”, diz a 1ª leitura; é um ser humano. São Paulo, na 2ª leitura, reconhece-se repleto de fraquezas, mas que conta com a força da graça divina e isso lhe basta. 


3 – Vocação profética no nosso hoje

Por que estou falando tudo isso? Porque aquilo que aconteceu com João Batista, com Pedro e com Paulo; aquilo que aconteceu com Ezequiel, aconteceu também com Jesus, como relatado no Evangelho, e acontece com a missão profética da Igreja. É a mesma recusa do profetismo de nossos dias, do mesmo Evangelho anunciado nas igrejas, nas praças e, hoje, em todas as mídias sociais. Muitos ouvem, muitos gostam, mas poucos são os que o acolhem como projeto de vida. Hoje, como no tempo do profetismo do Antigo Testamento, não é difícil encontrar evangelizadores cansados, como cantava o salmista na última estrofe do salmo responsorial. É a queixa de um profeta cansado diante do desprezo de quem não acolhe a mensagem. Cada um de nós recebeu a vocação profética no Batismo. Vamos encarar este chamado ou vamos nos omitir, reconhecendo a dificuldade da missão, dada a incredulidade do nosso tempo? Amém!