Como Mãe, o coração virginal e ao mesmo tempo materno de Maria abraça todos os crentes, todos os homens. O seu amor é um amor inexaurível e universal. Este amor pelo homem, Maria manifesta-o, sobretudo, diz João Paulo lI, na sua "singular vizinhança a ele e a toda a sua história. Nisto consiste o mistério da Mãe" RH, 22). Ela caminha com a Igreja e com a humanidade inteira: faz caminho lado a lado com ambas. Ela é a estrela da manhã que guia os homens para a plenitude do dia que não tem ocaso, em direção à plenitude do Mistério Pascal de Jesus Ressuscitado. Também Ela (N. Sra. das Graças), como Cristo, estará connosco todos os dias até ao fim dos tempos. É a Virgem do bom caminho, a Senhora peregrina no tempo, connosco peregrinos na história.
A Senhora exprime o seu grande amor para com os homens, sobretudo, intercedendo por eles junto d'Aquele que é a fonte inesgotável de todas as graças: o seu Divino Filho. Ninguém, mais do que Ela, está em posição de intervir junto d'Ele, de interceder por nós e de nos obter tudo aquilo de que precisamos para sermos autênticas testemunhas do Evangelho. Do Senhor Ressuscitado Paulo diz que "Ele vive junto do Pai intercedendo por nós" (Rom 8,24). Jesus intercede por nós junto do Pai. Maria intercede por nós junto do Filho.
A Mediação de Maria, sublinha ainda João Paulo II, na Encíclica "Redemptoris Mater", tem essencialmente "um caráter de intercessão" (RMt,21). Este poder de intercessão da Virgem Santíssima funda-se na sua maternidade divina. Jesus disse: "pedi e dar-se-vos-á; batei e abrir-se-vos-á". Se a oração cristã, "feita segundo a vontade de Deus" (1Jo 5,14), é sempre eficaz, muito mais deve ser a oração feita por Aquela que é a Mãe de Deus. Como poderia o Filho negar qualquer coisa à sua amadíssima Mãe? Por essa razão, Maria é chamada "l'omnipotentia suplex", Aquela que tudo pode obter com a sua oração de mediação. (...)
A nenhum faz faltar o sustento da sua proteção e o conforto da sua poderosa intercessão. Esta função maternal de Maria em relação aos homens, "de modo algum ofusca ou diminui a única mediação de Cristo; manifesta antes a sua eficácia. Com efeito, todo o influxo salvador da Virgem Santíssima sobre os homens se deve ao beneplácito divino e não a qualquer necessidade; deriva da abundância dos méritos de Cristo, funda-se na sua mediação e dela depende inteiramente, haurindo aí toda a sua eficácia; de modo nenhum impede a união imediata dos fiéis com Cristo, antes a favorece" (LG, 60).
A ação mediadora de Maria não afasta, portanto, os homens de Cristo. Pelo contrário, intercedendo por eles, leva-os a Ele como única fonte de todos os bens da salvação; impele-os a incarnar o seu Evangelho, sem dúvidas nem medo, no quotidiano da própria vida.
Não é fácil reconhecer hoje, no meio de tantas vozes ensurdecedoras, a voz do divino Mestre e fazer dela a norma de toda a existência. Também não é simples superar os obstáculos e resistir às tentações que colocam em risco a própria vida cristã.
Pois bem, é a Senhora das Graças que, com a sua maternal solicitude, ilumina os caminhos dos homens com a luz pascal do Senhor Ressuscitado; é Ela que os conduz, quase pela mão, para Aquele no qual o Eterno Pai "nos escolheu para sermos santos e irrepreensíveis na sua presença, no amor" (Ef 1,4); é Ela que em todas as circunstâncias da vida, especialmente nos momentos mais dificeis, nos repete as palavras ditas aos servos nas bodas de Caná: "fazei tudo o que 'Cristo' vos disser".
Fonte Cardeal José Saraiva Martins
Portugal, 2012
Procissão da Capela São José de Anchieta para a Capela Nossa Senhora das Graças