Em
primeiro lugar, é um apelo que se dirige a todos os cristãos, mas que ressoa,
de maneira especial, aos ouvidos daqueles que são especialmente consagrados,
sobretudo se tivermos em conta a reiterada insistência do Papa na dimensão
profética da Vida Consagrada. Com efeito, esta forma de vida, desde a sua
essência mais pura e profunda, configura um estilo de vida contracultural,
crítico e questionador de usos, práticas e costumes profundamente arraigados em
nós, mas pouco saudáveis.
Em segundo lugar, nesta proposta de uma nova
maneira de entender a qualidade de vida, está subjacente uma advertência quanto
a uma perspectiva redutora que identifica essa mesma qualidade de vida com um
estilo consumista. Vários sectores da nossa sociedade têm-se esforçado por veicular
a ideia que quanto mais consumirmos mais felizes seremos e melhor realizados
nos descobriremos. Ora, é precisamente este vínculo que é posto em dúvida nas
palavras do Papa. Incumbe, por isso, a todos os cristãos demonstrar que este é
um vínculo excessivo e forçado, com consequências devastadoras para o nosso
planeta.
Uma vida de qualidade não advém do acesso
folgado e refastelado ao consumo, mas antes duma alegria alimentada por um
estilo de vida profético e contemplativo. Dito de outro modo, é possível
experimentar a alegria, quando contemplamos o mundo natural; é possível gozar a
alegria, quando nos solidarizamos com os mais pobres e desfavorecidos e somos
capazes de ser a sua voz; é possível viver a alegria, quando pomos em prática
um estilo de vida sóbrio e humilde, que nos permita alegrar-nos com o que
temos, sem estarmos obcecados por aquilo que não temos.
A consolidação dum estilo de vida profético e
contemplativo implica redescobrir a natureza como o cenário privilegiado para a
experiência estética. Precisamos de cuidar melhor das nossas actividades –
lúdicas, pastorais, fraternas – ao ar livre. De facto, é a partir do assombro,
do gozo e da beleza, que experimentamos ao contemplar o mundo natural, que
podemos aceder à experiência transcendente. Este salto do natural para o
sobrenatural é possível, porque a criação é o reflexo da beleza e da bondade de
Deus. Os nossos jovens precisam muito de passeios, caminhadas e peregrinações
ao ar livre. Por isso, não devemos descurar «a relação que existe entre uma
educação estética apropriada e a preservação de um ambiente sadio. Prestar
atenção à beleza e amá-la ajuda-nos a sair do pragmatismo utilitarista. Quando
não se aprende a parar a fim de admirar e apreciar o que é belo, não surpreende
que tudo se transforme em objecto de uso e abuso sem escrúpulos» (LS
215).
Fonte: Dehonianos de Portugal