segunda-feira, abril 01, 2019

IV DOMINGO DA QUARESMA




1 – Nem tudo cai do céu

As "coisas novas" ditam as tendências para os jovens, já as "coisas velhas" vivem na recordação e na saudade de pessoas idosas. Com a espiritualidade cristã, fortemente alimentada na Quaresma, a dinâmica é diferente. A espiritualidade cristã não se alimenta do "maná": espera que tudo caia do céu, mas tem uma dinâmica de empenho e de trabalho para produzir alimento espiritual para a vida. A 1ª leitura alerta que chegará o tempo que o maná deixará de cair do céu e será preciso o empenho e a dedicação do cultivo da terra para produzir frutos. Um dia, Deus faz com que o maná deixe de cair do céu, não para castigar o povo, mas para marcar uma passagem: passar de colhedor do maná para cultivador dos frutos da terra, que alimentam a vida do homem e da mulher.


2 – Criatura nova; novo modo de viver

O cultivo da espiritualidade cristã tem a ver com conversão, tema muito próprio da espiritualidade quaresmal. Aqui falamos de dois aspectos. Aquele que a conversão é dinâmica e por isso exige que seja cultivada; a conversão não cai do céu, é cultivada em nossas vidas, como se cultiva a terra para produzir frutos. E, tem o segundo aspecto, que é aquele da passagem; passar de viver como criatura velha e começar a viver como criatura nova, como esclarece Paulo: "se alguém está em Cristo é criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo". Ouço dizer que alguns passam a Quaresma sem tomar cerveja; esta pessoa está falando de um esforço pessoal, de uma penitência. Esta é a primeira parte da conversão que consta do esforço. A segunda parte é mudar de comportamento no resto do ano para não se tornar um alcoólatra. Na segunda parte a pessoa cultiva este hábito porque é uma criatura nova.


3 – Filhos ou empregados

A dinâmica da conversão, por fim, é um trabalho que envolve mudança de mentalidade. Estou falando da mentalidade que se tem de Deus. Na conhecida parábola do “Pai misericordioso”, os filhos tinham uma mentalidade de servos, de empregados do Pai; o pai era tratado como patrão. Quando o filho mais novo "cai em si", não lembra a misericórdia do pai, mas lembra dos empregados, entre os quais poderá ser incluído. Em seu plano de volta, o filho já determina os papéis: o pai será patrão e ele empregado. Quanto ao filho mais velho, a relação patrão - empregado é ainda mais clara: "eu trabalho para ti (sou teu empregado) há tantos anos". Por isso, para que aconteça a conversão, a parábola chama atenção para nosso relacionamento com Deus: Pai ou patrão? Igualmente, a noção que temos de nós mesmos em relação a Deus: filhos ou servos? Pode acontecer que, de bom grado, nos dispomos a "fazer" algo para Deus: sacrifícios, rituais, orações, louvores... e praticamos a "religião do mérito"; eu mereço receber de Deus um "cabrito" porque fiz isso ou aquilo. O convite à conversão pede que cultivemos uma mentalidade nova: somos filhos e filhas de Deus. Amém!