1 – Nem tudo cai do céu
As "coisas novas" ditam as
tendências para os jovens, já as "coisas velhas" vivem na recordação
e na saudade de pessoas idosas. Com a espiritualidade cristã, fortemente
alimentada na Quaresma, a dinâmica é diferente. A espiritualidade cristã não se
alimenta do "maná": espera que tudo caia do céu, mas tem uma dinâmica
de empenho e de trabalho para produzir alimento espiritual para a vida. A 1ª
leitura alerta que chegará o tempo que o maná deixará de cair do céu e será
preciso o empenho e a dedicação do cultivo da terra para produzir frutos. Um
dia, Deus faz com que o maná deixe de cair do céu, não para castigar o povo,
mas para marcar uma passagem: passar de colhedor do maná para cultivador dos
frutos da terra, que alimentam a vida do homem e da mulher.
2 – Criatura nova; novo modo de viver
O cultivo da espiritualidade cristã
tem a ver com conversão, tema muito próprio da espiritualidade quaresmal. Aqui
falamos de dois aspectos. Aquele que a conversão é dinâmica e por isso exige
que seja cultivada; a conversão não cai do céu, é cultivada em nossas vidas,
como se cultiva a terra para produzir frutos. E, tem o segundo aspecto, que é
aquele da passagem; passar de viver como criatura velha e começar a viver como
criatura nova, como esclarece Paulo: "se alguém está em Cristo é
criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo". Ouço
dizer que alguns passam a Quaresma sem tomar cerveja; esta pessoa está falando
de um esforço pessoal, de uma penitência. Esta é a primeira parte da conversão
que consta do esforço. A segunda parte é mudar de comportamento no resto do ano
para não se tornar um alcoólatra. Na segunda parte a pessoa cultiva este hábito
porque é uma criatura nova.
3 – Filhos ou empregados
A dinâmica da conversão, por fim, é
um trabalho que envolve mudança de mentalidade. Estou falando da mentalidade
que se tem de Deus. Na conhecida parábola do “Pai misericordioso”, os filhos
tinham uma mentalidade de servos, de empregados do Pai; o pai era tratado como
patrão. Quando o filho mais novo "cai em si", não lembra a
misericórdia do pai, mas lembra dos empregados, entre os quais poderá ser
incluído. Em seu plano de volta, o filho já determina os papéis: o pai será
patrão e ele empregado. Quanto ao filho mais velho, a relação patrão -
empregado é ainda mais clara: "eu trabalho para ti (sou
teu empregado) há tantos anos". Por isso, para que aconteça a
conversão, a parábola chama atenção para nosso relacionamento com Deus: Pai ou
patrão? Igualmente, a noção que temos de nós mesmos em relação a Deus: filhos
ou servos? Pode acontecer que, de bom grado, nos dispomos a "fazer"
algo para Deus: sacrifícios, rituais, orações, louvores... e praticamos a
"religião do mérito"; eu mereço receber de Deus um
"cabrito" porque fiz isso ou aquilo. O convite à conversão pede que
cultivemos uma mentalidade nova: somos filhos e filhas de Deus. Amém!