Os
dons do Espírito Santo são concedidos para que as pessoas se deixem conduzir,
no seu dia a dia, não pelos impulsos oferecidos apenas pelos sentidos, mas
aprendam a discernir o que é melhor para a própria sociedade, para as relações
interpessoais e o crescimento de cada um dos filhos e filhas de Deus, feitos
todos para a felicidade e a plena realização.
Um
dos dons do Paráclito é o da piedade; e por intermédio de sua atuação, somos
conduzidos à bondade, com sentimentos e atitudes adequadas em relação aos
outros, à família, à sociedade e à pátria.
Contribuição da Igreja para o Dia da Independência
Alguns
dos frutos esperados da ação do Espírito Santo – nos cristãos que cultivam a
bondade – atendem pelos nomes de civilidade, cidadania e patriotismo.
Sim!
Ao celebrarmos o Dia da Independência do Brasil, Dia da Pátria, desejamos
oferecer à sociedade reflexões que signifiquem a contribuição da Igreja na
construção de um mundo mais justo e fraterno, sabendo que vivemos num ambiente
de pluralismo, com diversidade de pontos de vista e opções, a serem por todos
respeitados e valorizados.
Há
um sonho de liberdade e uma justa pretensão de um tratamento igualitário, capaz
de ir ao encontro, especialmente, dos grupos mais frágeis da própria sociedade.
Os
cristãos são chamados a viver nesta terra, a obedecer às leis e superá-las com
a lei maior da caridade, derramada nos corações pelo Espírito Santo que nos foi
dado.
Tudo
o que se disser a respeito do patriotismo e do exercício da cidadania pode
sempre passar por um processo de aperfeiçoamento contínuo, pois não temos aqui
estadia permanente, mas estamos em busca daquela que há de vir (cf. Hb
13,14-21).
Daí
que a impostação de sua presença no mundo comporta uma sadia inquietação, a
qual podemos chamar de espírito crítico, a ser exercitado sem azedume nem
revolta. É que o sonho do cristão tem nome de “Reino de Deus”!
Muitas
atitudes, até justificáveis pela gravidade dos problemas sociais, podem gerar
um acirramento no trato deles, a ponto de transformar em ódio os eventuais
conflitos de contrários, ou mais ainda: situações de ângulos diferentes,
possíveis de se ajustarem em vista do bem comum.
Contribuição dos cristãos para o Dia da Independência
Essa
é uma contribuição que os cristãos desejam oferecer ao exercício da cidadania.
Enxergar os problemas, a partir dos interesses comuns, superando uma sempre
tentadora luta de classes, que alguns já viram como única via para a superação
das mazelas da humanidade nos decênios passados, com resultados sempre
desastrosos.
A
busca do que constrói a vida das pessoas e da coletividade, o diálogo sereno,
com a capacidade de verificar a validade das contribuições alheias e o
necessário acolhimento delas, pode ser a estrada para a edificação do desejado
mundo novo.
O
sadio patriotismo leva à bonita emoção que envolve todos os brasileiros no Dia
da Independência. Basta lembrar o quanto toca em nosso brio pessoal o canto do Hino
Nacional, a bandeira hasteada nas solenidades e soldados garbosos em seus
desfiles, que deixam pais e mães orgulhosos.
Os
benefícios sociais alcançados pelas comunidades, as conquistas dos mais
excluídos, a casa própria adquirida com tanto esforço, a vitória dos jovens que
acedem às universidades, o primeiro trabalho ou o primeiro salário, tudo isso é
construção de um mundo digno e respeitoso para todos. Entretanto, o patriotismo
tem seu contraponto no exercício de gestos de cidadania.
A
reflexão que agora proponho veio da indignação de um jovem diante do desleixo
com que se joga lixo na rua. Fez-me pensar no respeito às leis de trânsito, no
cuidado com nossas praças e áreas de lazer, assim como a resposta que pode ser
dada às situações críticas de nossa região e do mundo.
Patriotismo
significa amar a terra em que vivemos, valorizar a natureza, que é dom de Deus
e, mais ainda, o respeito à vida das pessoas a serem amadas com amor de
caridade, e com quais podemos merecer a presença do Senhor, “pois onde dois ou
mais estão reunidos em seu nome, Ele está presente” (Mt 18,20).
Cidadania
Cidadania
é também a participação nas atividades comunitárias e a valorização de
iniciativas nas ruas e bairros.
As
campanhas organizadas em vários períodos do ano pela Cáritas ou as diversas
Obras Sociais existentes pedem resposta e participação.
Edifica
muito o envolvimento das pessoas, especialmente quando se trata de promover e
apoiar as crianças. Se tantas vezes lamentamos e nos indignamos com a
violência, há que reconhecer a solidariedade que se estabelece diante do
sofrimento de pessoas e grupos.
Cidadania
é presença e pode se transformar em exercício da caridade. Tenho proposto a
pessoas e grupos que a criatividade se exercite na sensibilidade correspondente
aos dons recebidos.
Uma
pessoa pode visitar, semanalmente, os hospitais; outra vai ao presídio; uma
terceira se coloca à disposição para levar os doentes aos hospitais. Cada um
olhe ao seu redor e descubra seu jeito de ser presença.
Um
dos âmbitos decisivos do exercício da cidadania é o engajamento dos cristãos
leigos na política partidária.
Sabemos
que a Igreja Católica é, muitas vezes, incompreendida e julgada por não cerrar
fileiras com os diversos partidos e grupos existentes. Acontece que ela é
discípula e mestra na história.
Noutras
ocasiões, a escolha de lados na política só trouxe prejuízos, não só para a
própria Igreja, como também para a própria sociedade. Houve também clérigos que
se aventuraram em pleitos eleitorais, contribuindo, infelizmente, apenas para a
divisão entre os fiéis.
Cabe
à Igreja estimular os homens e mulheres vocacionados à política, oferecer-lhes
a formação adequada e ajudá-los a se comprometerem, não em jogos de vis
interesses, mas no compromisso com os valores do Evangelho.
Fonte: Canção Nova
Fonte: Canção Nova