segunda-feira, fevereiro 07, 2022

V DOMINGO DO TEMPO COMUM





A Psicologia ensina que a vida se assenta em elementos equilibradores. Estes elementos são nossas convicções, crenças e são filtros com os quais vemos o mundo a partir de um ponto de vista. O ponto de vista de Pedro era a praia e, no dia que Jesus chegou na sua praia, Pedro consertava as redes, consertava as malhas de sua vida, diante de um mar que não estava para peixe. Todos nós temos nossas praias, nossos filtros, crenças, pontos de vista e assim orientamos a vida. Para Pedro, a praia era seu local de segurança, era o espaço onde vivia; tinha o horizonte do mar à sua frente, mas vivia nos limites da praia. Pedro e seus irmãos tinham as barcas como ponto de equilíbrio de suas vidas; tinham também a sua praia. Pescavam, lavavam as redes, descasavam e voltavam a pescar. Tinham seus filtros e consideravam o mundo a partir da experiência de pescadores. O encontro com Jesus tira os pontos de equilíbrio de Pedro.

Primeiro, Jesus tira a barca de Pedro para fazer uma pregação. Depois, o convite tira Pedro e seus irmãos da praia e os manda mar adentro. Se Pedro reage porque seu “filtro da experiência” diz que não vai dar peixe, a Palavra de Jesus o desequilibra e o leva de volta ao mar, onde realiza pesca abundante. A Palavra de Jesus, o Evangelho, ouvido e acolhido desequilibra a vida de Pedro, a vida dos irmãos de Pedro; desequilibra a vida de todos nós. Foi este choque nos pontos de equilíbrio que fez Pedro deixar a segurança da sua barca, da sua praia, para se fazer discípulo de Jesus. Hoje, iniciamos uma reflexão considerando o discipulado. E, a primeira exigência para alguém se tornar discípulo de Jesus é o acolhimento da Palavra. Não uma Palavra para ser guardada na cabeça, mas colocada no coração, lá onde tomamos nossas decisões. As leituras que ouvimos ressaltam três exemplos de pessoas que acolheram a Palavra e se decidiram por Deus: Isaias, Paulo e Pedro. Esta lista continua em tantos discípulos e discípulas de Jesus. — Eu e você estamos nesta lista de seguidores de Jesus, no discipulado?

Nas celebrações do mês passado, refletimos sobre a vida cristã. Mas, não basta ser cristão e não basta ser cristã, no sentido de ser, apenas, batizado. É preciso mais: ser discípulo, ser discípula, ser caminhante na estrada do discipulado. É preciso decidir-se por Jesus como Mestre. O texto do Evangelho que relata a decisão de Pedro é breve e, por isso, não nos damos conta que o processo de abandonar as estruturas, que equilibravam a vida pessoal de Pedro, até assumir outro estilo de vida, foi demorado. O relato da conversão de Paulo também indica brevidade. Na verdade, não existe conversão instantânea. O discipulado é um caminho no seguimento de Jesus. Pedro, ao fazer esse caminho, brigou com Jesus, imaginou que poderia dar conselhos a Jesus, negou Jesus, foi chamado de satanás por Jesus. Partilhou a estrada do Evangelho com Jesus, no discipulado, na alegria e com conflitos. Na espiritualidade cristã, esse processo chama-se discernimento. É um processo necessário para fazer a transferência da praia — de um estilo de vida — para a praia do Evangelho que nos faz avançar para águas profundas, como pede Jesus a Pedro, porque é nas águas profundas que a pesca é farta de vida plena. Acolha o convite de Jesus: seja discípulo, seja discípula do Mestre. Amém!