A
Psicologia ensina que a vida se assenta em elementos equilibradores. Estes
elementos são nossas convicções, crenças e são filtros com os quais vemos o
mundo a partir de um ponto de vista. O ponto de vista de Pedro era a praia e,
no dia que Jesus chegou na sua praia, Pedro consertava as redes, consertava as
malhas de sua vida, diante de um mar que não estava para peixe. Todos nós temos
nossas praias, nossos filtros, crenças, pontos de vista e assim orientamos a
vida. Para Pedro, a praia era seu local de segurança, era o espaço onde vivia;
tinha o horizonte do mar à sua frente, mas vivia nos limites da praia. Pedro e
seus irmãos tinham as barcas como ponto de equilíbrio de suas vidas; tinham
também a sua praia. Pescavam, lavavam as redes, descasavam e voltavam a pescar.
Tinham seus filtros e consideravam o mundo a partir da experiência de
pescadores. O encontro com Jesus tira os pontos de equilíbrio de Pedro.
Primeiro,
Jesus tira a barca de Pedro para fazer uma pregação. Depois, o convite tira
Pedro e seus irmãos da praia e os manda mar adentro. Se Pedro reage porque seu
“filtro da experiência” diz que não vai dar peixe, a Palavra de Jesus o
desequilibra e o leva de volta ao mar, onde realiza pesca abundante. A Palavra
de Jesus, o Evangelho, ouvido e acolhido desequilibra a vida de Pedro, a vida
dos irmãos de Pedro; desequilibra a vida de todos nós. Foi este choque nos
pontos de equilíbrio que fez Pedro deixar a segurança da sua barca, da sua
praia, para se fazer discípulo de Jesus. Hoje, iniciamos uma reflexão
considerando o discipulado. E, a primeira exigência para alguém se tornar
discípulo de Jesus é o acolhimento da Palavra. Não uma Palavra para ser guardada
na cabeça, mas colocada no coração, lá onde tomamos nossas decisões. As
leituras que ouvimos ressaltam três exemplos de pessoas que acolheram a Palavra
e se decidiram por Deus: Isaias, Paulo e Pedro. Esta lista continua em tantos
discípulos e discípulas de Jesus. — Eu e você estamos nesta lista de seguidores
de Jesus, no discipulado?
Nas
celebrações do mês passado, refletimos sobre a vida cristã. Mas, não basta ser
cristão e não basta ser cristã, no sentido de ser, apenas, batizado. É preciso
mais: ser discípulo, ser discípula, ser caminhante na estrada do discipulado. É
preciso decidir-se por Jesus como Mestre. O texto do Evangelho que relata a
decisão de Pedro é breve e, por isso, não nos damos conta que o processo de
abandonar as estruturas, que equilibravam a vida pessoal de Pedro, até assumir
outro estilo de vida, foi demorado. O relato da conversão de Paulo também
indica brevidade. Na verdade, não existe conversão instantânea. O discipulado é
um caminho no seguimento de Jesus. Pedro, ao fazer esse caminho, brigou com
Jesus, imaginou que poderia dar conselhos a Jesus, negou Jesus, foi chamado de
satanás por Jesus. Partilhou a estrada do Evangelho com Jesus, no discipulado,
na alegria e com conflitos. Na espiritualidade cristã, esse processo chama-se discernimento.
É um processo necessário para fazer a transferência da praia — de um estilo de
vida — para a praia do Evangelho que nos faz avançar para águas profundas, como
pede Jesus a Pedro, porque é nas águas profundas que a pesca é farta de vida
plena. Acolha o convite de Jesus: seja discípulo, seja discípula do Mestre.
Amém!