quarta-feira, fevereiro 02, 2022

A BOATE KISS







A BOATE KISS

2 de Fevereiro de 2022

 

Paróquia São Conrado



Em dezembro último, aconteceu o julgamento das pessoas envolvidas na tragédia do incêndio da Boate Kiss, em Santa Maria RS, em 27/1/2013. Todos ficamos novamente abalados com a recordação daquele desastre, que resultou na morte de 242 pessoas e 636 feridos. E a causa? Claro que ninguém teve a intenção de matar. Mas houve negligências, omissões, pequenas na aparência, mas com tão grandes consequências! Os poderes públicos omissos... Os encarregados de fazer a vistoria a deixaram para depois... A fiscalização não foi atenta... Na forração acústica do teto, trocaram, uma espuma por outra, inflamável... Usaram fogos inapropriados para o local... Não houve preocupação com um possível caso de pânico..., etc. Um acúmulo de “pequenas” negligências que causou tão grande tragédia. E se tornaram graves.

Pequenas negligências podem causar grandes estragos. Pequenas faltas de atenção podem causar grandes desastres. Pequenas ao nosso julgamento, mas são enormes.

O mesmo já aconteceu em inúmeros desastres. No circo de Niterói, cobriram a lona com cera, para que ficasse impermeável, mas se tornou inflamável em alguns segundos. No Titanic, o telegrafista não se importou com as insistentes advertências dos outros navios sobre a presença de perigosos icebergs. Alguém esqueceu um aparelho ligado no prédio que depois virou uma fornalha. Uma pequena distração do motorista, uma conversa ao celular, uma inadvertência do comandante do transatlântico, um cochilo do piloto do avião que depois ficou ingovernável, etc. Pequenas negligências, grandes desastres! A irresponsabilidade é falta grave. Mede-se a gravidade da negligência pelo tamanho do prejuízo causado. Os responsáveis devem ser responsabilizados e punidos, para se evitar desastres futuros.

Um dos princípios fundamentais da Doutrina Social da Igreja é a prioridade do ser humano sobre os bens materiais: “É preciso acentuar o primado do homem no processo de produção, o primado do homem em relação às coisas” (S. João Paulo II, Lab exercens, 12f). Quando o ser humano é tratado apenas como peça de uma engrenagem de produção, quando se põe o lucro e o dinheiro acima das pessoas, estamos no inverso do que se espera de uma sociedade humana e cristã. E essa prioridade é negligenciada quando se pensa mais no lucro e no dinheiro do que na segurança e bem-estar das pessoas, com gravíssimas consequências, como as que presenciamos. O Papa Francisco tem nos advertido contra a cultura do lucro, do descarte e da indiferença, sobretudo em se tratando de pessoas. O preço da vida humana é inestimável.

A “Imitação de Cristo” nos lembra o adágio: “Age quod agis”, faze bem aquilo que fazes. O zelo é o contrário da negligência. É preciso senso de responsabilidade, seriedade no cumprimento do dever do qual se é encarregado, atenção e cuidado, para não sermos culpados de grandes prejuízos. Isso se aplica a toda classe de deveres e trabalhos de grande responsabilidade: pais, poderes públicos, médicos, enfermeiros, motoristas, aviadores, mecânicos, etc. O pecado de omissão pode ser tão grave quanto o de uma ação má.

 

Fonte: Dom Fernando Arêas Rifan