terça-feira, fevereiro 22, 2022

VII DOMINGO DO TEMPO COMUM







O QUE É PERDOAR?

A mensagem de Jesus é clara e categórica: “Amai vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam". É possível viver esta atitude? O que se nos está pedindo? Podemos amar o inimigo? Talvez precisemos começar por conhecer melhor o que significa "perdoar".

É importante, em primeiro lugar, entender e aceitar os sentimentos de ira, revolta ou agressividade que nascem em nós. É normal. Estamos feridos. Para não causarmos um dano ainda maior precisamos recuperar o quanto possível a paz interior que nos ajude a reagir de maneira sadia.

A primeira decisão daquele que perdoa é não vingar-se. Não é fácil. A vingança é a resposta quase instintiva que nasce dentro de nós quando nos feriram ou humilharam. Procuramos compensar nosso sofrimento fazendo sofrer quem nos causou dano. Para perdoar é importante não gastar energias imaginando nossa revanche.

É decisivo, sobretudo, não alimentar o ressentimento. Não permitir que o ódio se instale em nosso coração. Temos direito a que se nos faça justiça: aquele que perdoa não renuncia a seus direitos. Mas o importante é curar-nos aos poucos do dano que nos causaram.

Perdoar pode exigir tempo. O perdão não consiste num ato da vontade, que rapidamente conserta tudo. Em geral, o perdão é o final de um processo no qual intervêm também a sensibilidade, a compreensão, a lucidez e, no caso do crente, a fé num Deus de cujo perdão todos nós vivemos.

Para perdoar é necessário às vezes compartilhar com alguém nossos sentimentos. Perdoar não quer dizer esquecer o dano que nos causaram, mas sim recordá-lo da maneira menos prejudicial para o ofensor e para si mesmo. Aquele que chega a perdoar volta a sentir-se melhor.

Quem vai entendendo assim o perdão compreende que a mensagem de Jesus, longe de ser algo impossível e irritante, é o caminho acertado para ir sanando as relações humanas, sempre ameaçadas por nossas injustiças e conflitos.

 

O PERDÃO CRISTÃO

Pouco a pouco, nossa linguagem está se secularizando. Palavras e conceitos que, em sua origem, tinham um conteúdo cristão, hoje são empregados

sem referência alguma à fé. É o que aconteceu com a linguagem do perdão,que ficou esvaziada de seu conteúdo evangélico mais genuíno.

O perdão cristão brota de uma experiência religiosa. O cristão perdoa porque se sente perdoado por Deus. Toda outra motivação é secundária.Perdoa quem sabe que vive do perdão de Deus. Esta é a fonte última. "Perdoai-vos mutuamente como Deus vos perdoou em Cristo" (Ef4,32). Esquecer isto é falar de outra coisa muito diferente do perdão evangélico.

Por isso, o perdão cristão não é um ato de justiça. Não se pode exigi-lo de ninguém como um dever social. Juridicamente o perdão não existe. O código penal ignora o verbo "perdoar". O gesto surpreendente e muitas vezes heroico do perdão nasce de um amor gratuito. Não depende de condições prévias. Não exige nada, não reclama nada. Se se perdoa é por amor. Falar de requisitos para perdoar é introduzir a concepção de outra coisa.

No Evangelho convida-se a perdoar "até setenta vezes sete", a perdoar inclusive a quem não mostra nenhum arrependimento, inspirados no próprio Jesus, que, no momento em que está sendo crucificado, pede a Deus: "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem" (Lc 23,34).

Ninguém se engane. Perdoar não é fácil. É melhor confessá-lo dessa maneira. Tudo menos manipular o discurso do perdão para exigir de outros responsabilidades ou para defendermos cada um nossa própria posição. Há alguns anos, João Paulo II convidava a "guardar a autenticidade do perdão, algo que só é possível "guardando a sua fonte, isto é, o mistério da misericórdia do próprio Deus, revelado em Jesus Cristo" (Dives in misericordia 99).

É difícil ouvir o chamado de Jesus: "Amai vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos maldizem", se não se conhece a experiência de ser perdoado por Deus.