A
ressurreição/ascensão de Jesus convida-nos a ver a vida com outros olhos – os
olhos da esperança. Diz-nos que o sofrimento, a perseguição, o ódio, a morte,
não são a última palavra para definir o quadro do nosso caminho; diz-nos que no
final de um caminho percorrido na doação, na entrega, no amor vivido até às
últimas consequências, está a vida definitiva, a vida de comunhão com Deus.
Esta esperança permite-nos enfrentar o medo, os nossos limites humanos, o
fanatismo, o egoísmo dos pecadores e
permite-nos olhar com serenidade para esse qualquer coisa de novo que nos
espera, para esse futuro de vida plena que é o nosso destino final.
A
ascensão de Jesus e, sobretudo, as palavras finais de Jesus, que convocam os
discípulos para a missão, sugerem a nossa responsabilidade na construção desse
mundo novo onde habita a justiça e a paz; sugerem que a proposta libertadora
que Jesus fez a todos os homens está agora nas nossas mãos e que é nossa
responsabilidade torná-la realidade; sugerem que nós, os seguidores de Jesus,
temos de construir, com o esforço de todos os dias, o novo céu e a nova terra.
A
alegria que brilha nos olhos e nos corações desses discípulos que testemunham a
entrada definitiva de Jesus na vida de Deus tem de ser uma realidade que
transparece na nossa vida. Os seguidores de Jesus, iluminados pela fé, têm de
testemunhar, com a sua alegria, a certeza de que os espera, no final do
caminho, a vida em plenitude; e têm de testemunhar, com a sua alegria, a
certeza de que o projecto salvador e libertador de Deus está a atuar no mundo,
está a transformar os corações e as mentes, está a fazer nascer, dia a dia, o
Homem Novo.
“Enquanto
Jesus os abençoava, afastou-Se deles e foi elevado ao Céu”. Mas é onde, o céu?
Segundo o dicionário, é o espaço visível acima das nossas cabeças, que limita o
horizonte. Hoje, os homens são capazes de ir ao espaço. O primeiro cosmonauta
russo, em 1961, regressou à terra declarando que não tinha encontrado Deus!
Manifestamente, Lucas não fala desse céu! Os astronautas vão para o espaço para
melhor o explorar. Jesus, pela sua ressurreição, foi para lá do espaço, saiu do
nosso espaço-tempo. Mas o que pode querer isso dizer? Reconheçamos que não
temos qualquer experiência dessa realidade, pela simples razão de que
continuamos fechados neste espaço-tempo. O que falamos, na Ascensão, tem a ver
com a fé, com a confiança que podemos ter em Cristo e nas testemunhas que O
viram separar-Se deles. Não há qualquer prova nem demonstração “científica”
para esta subida ao céu de Jesus! Uma vez mais, somos convidados a situar-nos
num outro registo, o do amor. É a nossa própria experiência: quando amamos,
quando conhecemos momentos de intensa felicidade, gostaríamos que o tempo
parasse, não para que tudo se acabe mas, ao contrário, para que esta felicidade
que atinge todo o nosso ser seja como que eternizada. Gostaríamos de poder
parar o tempo. Mas é o tempo para o amor. Ora – aí está a nossa fé – Jesus veio
habitar este desejo de eternidade em nós, para o levar à sua plena realização.
Vivendo a sua vida de homem, emergiu no amor que preenche os desejos humanos
mais autênticos. Ressuscitando, fez entrar todos estes desejos no mundo do amor
infinito. É desse céu que se trata hoje, para lá de tudo o que possamos
imaginar ou desejar. Em cada Eucaristia, acolhemos em nós a presença de Jesus
ressuscitado que vem alimentar e fazer crescer o germe da vida eterna. E, no
dia da nossa morte, Jesus far-nos-á entrar no “além”, no “céu”, no mundo do
amor sem qualquer limite…