Jesus
distribuiu os pães e os peixes aos que estavam sentados. E deu tanto quanto
queriam. Não mediu., nem limitou ou exigiu. Apenas distribuiu. Porque o amor
verdadeiro age assim: não calcula, não raciona, não controla. Derrama-se.
Entrega-se inteiro. Sacia.
Esse
gesto contém mais do que um milagre material. Carrega um símbolo profundo. No
deserto verde de relva, diante de uma multidão faminta, Jesus revela a
identidade de Deus. Um Deus que não alimenta apenas com o necessário, mas com
abundância. Que não sacia só o estômago, mas o coração. Que não oferece
migalhas, mas se faz pão.
A
liturgia nos conduz a este momento como quem aponta para o centro da fé cristã:
a Eucaristia. Ali, Jesus distribui-se a todos os que se sentam à sua mesa. Ele próprio
se faz alimento. Ele se parte. E em cada pedaço, Ele se dá por inteiro. Cada um
recebe quanto deseja. Cada um se sacia conforme a sede da alma.
O
texto nos mostra também a pedagogia de Cristo. Ele não transforma pedras em pão
nem faz chover maná, mas pergunta, envolve, escuta os discípulos. Ele aceita a
oferta simples de um menino. E, a partir disso, realiza o prodígio. Porque o
milagre não começa quando o pão se multiplica. Começa quando alguém oferece o
pouco que tem.
E
ali, no meio do povo, ninguém fica de fora. Ninguém precisa se levantar para
merecer. Basta estar ali. Sentado. Aberto. Receptivo. A graça não exige
performance. Ela exige sede. Deus não serve banquetes aos que se acham prontos.
Ele distribui o pão aos que sentam com humildade e estendem as mãos.
O
evangelista também nos ensina outra coisa preciosa: Jesus não apenas dá. Ele
manda recolher. “Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca.” O
excesso de Deus não permite desperdício. Sua abundância respeita cada
fragmento. Tudo tem valor. Cada migalha carrega a presença do Verbo feito pão.
E
por fim, quando o povo quer transformá-lo em rei, Jesus se retira. Porque não
aceita reduzir a glória do Reino ao poder humano. Ele recusa o trono da força e
prefere a cruz do amor. Ele não veio dominar. Veio doar-se. Não veio para ser
servido. Veio servir.
Meus
irmãos, o que Jesus fez naquele monte, Ele continua a fazer em cada altar e
toma o pão, dá graças, parte, distribui… E o faz com a mesma generosidade:
tanto quanto queremos. Mas atenção: Jesus não força ninguém. Quem quer, se
senta, e quem crê, se alimenta. Quem acolhe, se transforma.
Hoje,
o Senhor nos convida a nos sentarmos. A nos despirmos da pressa, do orgulho, da
pretensão. A nos deixarmos alimentar. E, depois, a fazermos o mesmo. Porque
quem come desse pão, precisa aprender a se tornar pão.