Queridos
irmãos e irmãs, no breve, porém denso Evangelho de hoje, encontramos palavras
de Jesus que ecoam como um convite amoroso e, ao mesmo tempo, como uma
declaração solene. A imagem do pastor e das ovelhas não é somente uma metáfora
poética, mas principalmente uma chave para compreendermos nossa relação com
Deus e a profundidade do amor com que somos conduzidos.
Logo
no início, Jesus afirma: “As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço
e elas me seguem.”. Aqui está revelado o primeiro aspecto essencial da vida
cristã: escutar, pois não se trata de ouvir qualquer som, mas de escutar com o
coração e de reconhecer, no meio de tantas vozes que nos cercam diariamente —
vozes de medo, de desânimo, de confusão — a voz mansa, firme e inconfundível do
Bom Pastor. Aquela voz que não manipula, não grita, não oprime. Ao contrário,
ela chama pelo nome, consola, orienta e conduz.
Por
isso, a fé não começa com grandes gestos. Começa com escuta e silêncio interior
e, portanto, quando paramos de viver no ruído da pressa para permitir que a
Palavra de Deus penetre na alma. E mais do que escutar, somos chamados a
seguir, porque o seguimento é a prova de que ouvimos de verdade. Quem escuta e
não se move, mas permanece longe, e quem escuta e responde com a vida, caminha
na luz.
A
salvação é dom.
Em
seguida, Jesus nos oferece uma promessa que transcende o tempo: “Eu dou-lhes a
vida eterna, e elas jamais se perderão.” Isso significa que o nosso destino não
é o caos, a morte ou o esquecimento. É a eternidade. E não por nossos méritos,
mas por sua misericórdia. A salvação é dom. É graça concedida àqueles que
permanecem unidos ao Pastor. Aqui, Jesus nos assegura: quem está em suas mãos
não se perde. Mesmo que caia, será levantado, e caso se afaste, será buscado. E
mesmo que se machuque, será curado.
Logo
depois, Ele acrescenta uma verdade ainda mais forte: “Ninguém vai arrancá-las
de minha mão.” Que frase poderosa! Vivemos num mundo instável, onde tantas
coisas nos são tiradas — segurança, paz, saúde, estabilidade — mas Jesus
declara que há um lugar de onde ninguém pode nos remover: Suas mãos. O maligno
pode tentar. As provações podem sacudir. As dúvidas podem se insinuar. Mas quem
permanece em Cristo está guardado no amor do Pai.
Além
disso, Jesus nos conduz a uma visão mais alta, mais profunda, mais teológica:
“Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode
arrebatá-las da mão do Pai.” Aqui encontramos o mistério da providência divina.
Tudo começa no Pai. É Ele quem nos entrega ao Filho. É Ele quem nos gera na fé.
E é Nele que repousamos com segurança. A vontade do Pai é que ninguém se perca.
E essa vontade é fiel. Não falha. Não se desfaz.
Por
fim, Jesus sela esta revelação com uma das declarações mais impactantes de todo
o Evangelho: “Eu e o Pai somos um.” Esta frase não é uma figura de linguagem. É
uma revelação da Trindade. Aqui Cristo revela sua divindade com clareza. Ele
não é apenas um enviado, um profeta ou um mestre. Ele é um com o Pai.
Compartilha a mesma essência, a mesma glória, o mesmo poder. Crer nisso é
entrar no coração da fé cristã. É reconhecer que, ao ouvir Jesus, ouvimos o
próprio Deus. Ao seguir Jesus, seguimos o caminho eterno. Ao confiar em Jesus,
confiamos no Pai.
E
como viver isso, na prática?
Em
primeiro lugar, cultivando a escuta da Palavra. Ler o Evangelho diariamente,
mesmo que por poucos minutos, nos afina à voz do Pastor. Em segundo lugar,
fortalecendo a confiança. Quando vierem as tribulações — e elas virão —
lembre-se: ninguém pode te arrancar das mãos de Cristo. E por fim,
testemunhando. Se o mundo está confuso, sejamos nós aqueles que seguem a voz
certa. Se o mundo está com medo, sejamos nós as ovelhas que vivem com paz,
porque sabem em quem confiam.
Portanto,
irmãos e irmãs, que esta Palavra se torne carne em nós. Que possamos ouvir,
seguir, confiar e viver com a certeza de que estamos nas mãos do Bom Pastor. E
que, ao final de tudo, quando cruzarmos o vale da sombra da morte, possamos
escutar aquela voz conhecida a nos dizer: “Vem, bendito do meu Pai… entra na
alegria do teu Senhor.”