“Dou-vos
um novo mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado” (v. 34).
Jesus
fala em um “novo mandamento”. A novidade deste novo mandamento é que não se
trata do antigo e conhecido mandamento que ordenava “amar ao próximo como a ti mesmo”
(Lv 19,18). A própria construção da frase, sugere que o “novo” deste mandamento
consiste, exatamente, no “como eu vos amei”. Nem a palavra amar, nem o
mandamento do amor são novos. Novo é amar como Jesus, amar em Jesus, por causa
de sua palavra impressa em cada página do evangelho.
O
verbo “agapaô” – traduzido do grego como amar, aqui utilizado, define, o amor
que faz dom de si, o amor até ao extremo, o amor que não guarda nada para si,
mas é entrega total e absoluta. O ponto de referência no amor é o próprio
Jesus, como prescreve o complemento da frase “como eu vos tenho amado”. Amar
consiste em acolher, em pôr-se ao serviço dos outros, em dar-lhes dignidade e
liberdade pelo amor, e isso sem limites. Jesus é a norma, agora traduzida em
palavras, o que ele mesmo manifestou com seus atos, para que os seus discípulos
tenham uma referência. O amor, igual ao
de Jesus, que os discípulos devem manifestar entre si será visível para todos
(v. 35). Trata-se de um amor universal,
capaz de transformar todas as circunstâncias negativas e todos os obstáculos em
ocasiões para progredir no amor.
O
estilo divino desse amor de Cristo tem que ser o modelo do nosso amor. De tal sorte que nossa presença junto aos
irmãos seja uma sombra da presença do próprio Cristo. Um amor que presta em favor dos irmãos, os
mais humildes serviços, como fez Jesus.
Cristo se identifica com o outro, especialmente com os mais
necessitados. É uma verdade que somente os
cristãos, mediante a fé, podem ver Cristo na pessoa do outro, pois será a
partir deste amor a base do nosso julgamento final, pois ele mesmo disse: “Tive
fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber…”. E
completa: “Todas as vezes que o deixastes de fazer a um destes pequeninos, foi
a mim eu o deixastes de fazer” (Mt 25,40-45)
Além
de proclamar o mandamento do amor, Jesus deixou esta norma como sinal
distintivo para os seus seguidores:
“Nisso conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns
pelos outros” (v. 35). Por vontade
expressa de Cristo é o amor o sinal de identificação de seus discípulos. O sinal que de agora em diante distinguirá
seus discípulos deverá ser o amor mútuo.
Como já nos diz o Evangelista São João: “Se alguém diz: Eu amo a Deus e
odeia a seu irmão é mentiroso. Pois, quem não ama a seu irmão, ao qual viu,
como pode amar a Deus, a quem não viu? E
dele temos este mandamento: Quem ama a
Deus, ame também a seu irmão” (1Jo 4,20s).
E ainda frisa: “Sabemos que passamos da morte para a vida porque amamos
os irmãos. Quem não ama permanece na morte” (1Jo 3,14).
Diante
destas exigências apresentadas por Jesus e lançando um olhar para cada um de
nós, percebemos que somos fracos e limitados. Existe sempre em nós uma
resistência ao amor e na nossa existência há muitas dificuldades que provocam
divisões, ressentimentos e rancores. Mas não podemos perder a esperança. O
Senhor prometeu estar presente na nossa vida, nos tornando capazes deste amor
generoso e total, que sabe superar todos os obstáculos. Se estivermos unidos a
Cristo, poderemos amar verdadeiramente deste modo que Ele quer. Amar os outros
como Jesus nos amou só é possível com aquela força que nos é comunicada na
relação com Ele, especialmente na Eucaristia, na qual se torna presente de
maneira real o seu Sacrifício de amor que gera amor.
A
prática do amor mútuo é a expressão da fé em Jesus. O verdadeiro discípulo
distingue-se pelo amor. A capacidade de amar-se mutuamente indica o quanto
Jesus está agindo na vida do cristão. A presença salvadora de Jesus tem o
efeito de desatar o nó do egoísmo, que afasta os indivíduos de seus semelhantes
e, por consequência, de Deus também.
São
Paulo ressalta que o amor é superior a todos os dons extraordinários. O amor é
maior do que o dom de língua. O amor é maior do que o dom de profecia e
conhecimento. O amor é maior do que o dom de milagres. Sem amor, até as
melhores obras de caridade ficam isentas de valor (cf. 1Cor 13,1-3). O amor é
melhor por causa da sua excelência intrínseca e também por causa da sua
perpetuidade.
São
Paulo define que o amor é paciente e benigno, ou seja, o amor tem uma infinita
capacidade de suportar. A palavra indica paciência com pessoas, no sentido de
reagir com bondade perante aqueles que o maltratam. São Paulo ainda explica que o amor não é
ciumento, ufanoso e ensoberbecido. Não se conduz inconvenientemente, não
procura os seus próprios interesses e não se ressente com o mal. O amor não se
alegra com a justiça, mas regozija-se com a verdade. E, por fim, diz São Paulo
que o amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta (cf. 1Cor
13,4-7). E ainda segundo São Paulo,
dentre as maiores virtudes: fé, esperança e caridade, a maior de todas é a
caridade, ou seja, o amor (cf. 1Cor 13,13).
Podemos
correr o risco de reconhecer o perigo de alegrarmos com o fracasso dos nossos
inimigos. Há um mal intrínseco em nós mesmos. Podemos sentir um falso alívio
quando vemos os nossos adversários fracassando e caindo, mas isto não é amor. O
amor além de perdoar, esquece e não mantém um registro do que foi dito e feito
contra nós. A ausência de amor faz com
que o cristão perca o seu significado diante de Deus. Deus não pode usar, para
a sua glória, um cristão sem amor.
Possamos
hoje questionar a nós mesmos: É este o amor que Jesus pede que estou vivendo e
compartilhando? Estou testemunhando, com
gestos concretos, o amor de Deus? Nos nossos comportamentos e atitudes uns para
com os outros, todos podem descobrir o amor de Deus no mundo? Saibamos haurir diariamente da relação de
amor com Deus pela oração, a força para transmitir o anúncio profético de
salvação a todas as pessoas com as quais convivemos.
Fonte: Dom Anselmo Costa