No 3º Domingo Quaresma, deixemo-nos transformar por Jesus, que purificou
o Templo de Jerusalém, a fim de sermos morada de Deus e expressão corporal da
unidade dos filhos de Deus demonstrada por palavras, gestos e obras.
Homilia de Padre
Marcos Belizário Ferreira
Quando Jesus entra no Templo de Jerusalém não encontra pessoas que
buscam a Deus, mas comércio religioso. Sua atuação
violenta diante dos "vendedores e cambistas" não é senão a reação do
Profeta que se encontra com a religião convertida em comércio.
Aquele Templo, chamado a ser lugar em que se havia de manifestar a
glória de Deus e seu amor fiel, converteu-se em lugar de enganos e abusos, onde
reina o afã por dinheiro e o comércio interessado.
Quem conhece Jesus não estranhará sua indignação. Se algo
aparece constantemente no próprio núcleo de sua mensagem é a gratuidade de
Deus, que ama seus filhos e filhas sem limites e só quer ver entre eles amor
fraterno e solidário.
Por isso, uma vida convertida em mercado onde tudo se compra e se vende,
inclusive a relação com o mistério de Deus, é a perversão mais destruidora do
que Jesus quer promover. É certo que nossa vida só é possível a
partir do intercâmbio e do mútuo serviço.
Todos vivemos dando e recebendo. O risco está em reduzir nossas relações
a comércio interessado, pensando que na vida tudo consiste em vender e comprar,
tirando o máximo proveito dos outros.
Quase
sem dar-nos conta, podemos converter-nos em "vendedores e cambistas"
que não sabem fazer outra coisa senão negociar. Homens e mulheres incapacitados
para amar, que eliminaram de sua vida o que seja dar.
É
fácil então a tentação de negociar inclusive com Deus. Obsequia-se Deus com
algum culto para ficar bem com Ele, pagam-se missas ou se fazem promessas para
obter dele algum benefício, cumprem-se ritos para tê-lo a nosso favor. O grave é esquecer que Deus é amor, e o amor não se compra. Por
alguma razão , dizia Jesus que Deus "quer amor e não sacrifícios".
Talvez o mais importante que precisamos escutar hoje na Igreja é o anúncio
da gratuidade de Deus. Num mundo convertido em mercado, onde tudo é exigido,
comprado ou ganho, só o gratuito pode continuar fascinando e surpreendendo,
pois é sinal mais autêntico do amor.
Nós crentes devemos estar atentos para não desfigurar um Deus que é amor gratuito, fazendo-se à nossas medida: tão triste, egoísta e pequeno como nossas vidas mercantilizadas.
Quem conhece "a sensação da graça" e experimentou alguma vez o
amor surpreendente de Deus, sente-se convidado a irradiar sua gratuidade e,
provavelmente, é quem melhor pode introduzir algo bom e novo nesta sociedade
onde tantas pessoas morrem de solidão, de tédio e de falta de amor.
As imagens cobertas com um pano roxo na igreja durante o Tempo da Quaresma, colaboram para que não podendo nem ver e nem tocar, possa eu ver e tocar o meu irmão que diferente, encontra-se descoberto para melhor amá-lo e servi-lo.