Mergulhemos no mês missionário! “Não se abre uma rosa apertando-se o botão”, escreveu alguém. É um pensamento muito próprio para uma reflexão sobre a vocação missionária do cristão para este mês de outubro, dedicado às missões. Jesus disse ao enviar os apóstolos para anunciar o ano da graça: “Eis que vos enviou como carneiros em meio a lobos vorazes” (Cf. Mt. 10,16). E, quando, mal recebidos em uma cidade, João e Tiago pretendiam mandar o fogo dos céus sobre aquele povo, mas Jesus os repreendeu “Não sabeis de que espírito sois. (Cf. Lc. 9,55).
A primeira atitude do missionário deve ser a mansidão. O anúncio da Boa Nova é um anúncio de paz. O texto do profeta Isaías lido por Jesus na sinagoga de Nazaré (Cf. Lc. 4,16-22)) e a si próprio aplicado, diz: “O Espírito do Senhor está sobre mim, eis porque me ungiu e mandou-me evangelizar os pobres, sarar os de coração contrito, anunciar o ano da graça”(Cf. Is. 61, 1-4).
E, logo a seguir, no Sermão da Montanha, revirando todos os princípios e conceitos que o pecado instilara nos corações dos homens, da sociedade e da cultura, declara bem aventurados os mansos, os misericordiosos e os que promovem a paz (Cf. Mt. 5).
O cristão que tem, pelo batismo, a vocação missionária, a missão de anunciar a Boa Nova, tem de ter, ele próprio, um coração semelhante ao de Cristo, manso e humilde, como pedimos na jaculatória, “fazei nosso coração semelhante ao vosso”. Paulo VI, na Evangelii Nuntiandi exorta: “A obra da evangelização pressupõe um amor fraterno, sempre crescente, para com aqueles a quem ele (o missionário) evangeliza.” (nº 79) e cita São Paulo aos Tessalonicenses (2Tes. 8) como programa.
O missionário, ao levar a Boa Nova a um mundo angustiado e sem esperança ou cuja esperança se esgota com o último suspiro, não pode se apresentar triste e desanimado, impaciente ou ansioso, mas deve manifestar uma vida irradiante de fervor e da alegria de Cristo. Nesse espírito o missionário, sem tergiversar sobre sua fé e sobre a mensagem, abra sua voz para “propor aos homens a verdade evangélica e a salvação em Cristo, com absoluta clareza e com todo o respeito pelas opções livres que a consciência dos ouvintes fará” (E.N 80).
O anúncio do Evangelho é importante, urgente e todos nós somos protagonistas deste mandato apostólico do próprio Senhor Jesus: “Ai de mim se não anunciar o Evangelho”. Ser missionário não é somente uma tarefa de todo o batizado, mas a razão única para a nossa felicidade completa. A omissão na tarefa missionária é um pecado grave e devemos nos confessar para pedir a graça de sermos discípulos-missionários de Jesus Cristo.
Neste ano da esperança em que o gesto concreto em nossa Arquidiocese é justamente a missão em regiões especiais de nossas paróquias e que deve contagiar os corações para sermos “permanentemente missionários”, este mês de outubro se reveste de uma solenidade especial. A nossa missão é evangelizar, pelo testemunho e pela palavra. É anunciar a tempo e fora do tempo a boa notícia. E sabemos que todos esperam escutar essa Palavra que salva!
A evangelização é uma missão de toda a Igreja. Assim, São Paulo, nos ensina que a iniciativa da pregação não é nossa, mas de um encargo em que a Igreja nos confia. "Assim, livre em relação a todos, eu me tornei escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível" (1Cor 9,19). Evangelizar e pregar o Evangelho com a nossa vida é o culto mais agradável a Deus. Vamos fazer isso de corpo e de alma!
Dom Orani João Tempesta Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)